Pesquisas revelam que o processo degenerativo das articulações pode ser causado por distúrbios metabólicos
por André Biernath | design Pilker | ilustrações Luciano Veronezi
A
artrose afeta 10 milhões de brasileiros, ou 5,2% da população nacional.
Até 2015, esse número deve saltar para 12,3 milhões de pessoas*
Rugas,
às vezes calvície, cabelos brancos... A natureza sabe bem como avisar o
homem que os anos estão passando. E, nesse pacote de mudanças, algumas
inevitáveis, a artrose, doença que acomete as articulações, sempre
esteve relacionada a pessoas, por assim dizer, mais experientes. Muitos
consideravam as dores nas juntas tão normais nos vovôs e vovós quanto os
outros sinais da terceira idade citados acima. Pois novos achados
desafiam esse senso comum. "Hoje em dia, sabe-se que a artrose é uma
doença muito séria, que não está relacionada ao processo natural de
envelhecimento", alerta a ortopedista Márcia Uchôa de Rezende, chefe do
grupo de doenças osteometabólicas do Instituto de Ortopedia e
Traumatologia (IOT) do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Essa nova noção é influenciada por pesquisas que começam a investigar a relação de alguns distúrbios metabólicos e a osteoartrite, alcunha utilizada pela comunidade científica. Um desses indicativos veio de um estudo da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo que descobriu a relação entre os níveis irregulares de glicose nos diabéticos e o risco maior de desenvolver a inflamação nas dobradiças do esqueleto.
Nas cobaias da experiência, a "doença do sangue doce" contribuiu para a deterioração da cartilagem, o início de um processo doloroso de alterações nas estruturas da articulação. "As pesquisas sobre o diabete normalmente focam nos problemas cardiovasculares e esquecem os efeitos secundários do excesso de açúcar na circulação", adverte a fisioterapeuta Sandra Aparecida Atayde, autora do artigo e professora da Universidade Paulista.
A atividade física é primordial no tratamento tanto da artrose quanto do diabete. A questão é que os incômodos nas juntas podem impedir o suadouro. "As dores muitas vezes impossibilitam o exercício, que traria benefícios para as duas doenças", conta o epidemiologista americano Yiling Cheng, do Centro de Controle e Prevenção de Doenças, em Atlanta, Estados Unidos. Felizmente existem modos de fugir desse círculo vicioso.
Uma das saídas para esse impasse está na água: os esportes aquáticos são os mais recomendados para quem tem artrose, em razão do baixo impacto dos movimentos. Mas é preciso prestar atenção no ambiente antes de se matricular nas aulas de hidroginástica. "Quando a doença está avançada, fica difícil subir e descer as escadinhas da piscina", lembra o reumatologista Nilton Sales, do Hospital Nove de Julho, em São Paulo. Para evitar essa chateação extra, procure academias ou clubes com instalações adequadas, com rampas próprias para entrar na água ou degraus mais largos e menos íngremes do que os convencionais.
A alimentação saudável é outro fator que contribui para melhoras no quadro da artrose e do diabete: "A dieta deve incluir comidas ricas em gorduras poli-insaturadas, fibras e proteínas", sugere o endocrinologista Alex Leite, do Hospital e Maternidade São Luiz, na capital paulista. Itens como carne vermelha, peixe e ovo, cheios de colágeno, são bemvindos. Sem contar que já existem no mercado alguns suplementos alimentares ricos nesse tipo de proteína - lembrando, é claro, de conversar com seu médico antes de começar a ingerir qualquer produto novo.
Gordura na jogada
A exemplo do diabete, o colesterol em excesso adora atacar as juntas. Os especialistas ainda não conseguiram estabelecer uma relação direta entre as moléculas de LDL e o incômodo articular, mas algumas pesquisas já sugerem certas ligações tenebrosas. Os níveis elevados dessa gordura estão associados à obesidade. E o tecido adiposo, que cresce com o aumento de peso, passa a produzir várias substâncias prejudiciais às articulações.
Como se isso não bastasse, o peso extra também sobrecarrega o trabalho de joelhos, quadris, tornozelos e companhia. Para piorar, um trabalho da Universidade George Washington, nos Estados Unidos, comprova que a artrose faz parte da síndrome metabólica, ao lado de distúrbios como hipertensão arterial, obesidade, perda de albumina e - veja só - colesterol e açúcar elevados no sangue. Os pesquisadores descobriram que problemas como resistência à insulina, formação de placas nos vasos sanguíneos e artrose tinham uma mesma origem molecular.
Diante de informações tão preocupantes, o diagnóstico precoce da osteoartrite é fundamental para evitar seu agravamento. Só que os raios X, largamente utilizados nas clínicas médicas, não flagram a doença em seu estágio inicial. "E exames mais completos, como ultrassonografias e marcadores bioquímicos, ainda são caros, embora devam se tornar mais acessíveis em breve", indica o reumatologista Ibsen Bellini Coimbra, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), no interior de São Paulo.
Para quem já sabe que precisa conviver com esse mal, a ciência tem como domá-lo. "Alguns medicamentos protegem a cartilagem que ainda não foi afetada, enquanto anti-inflamatórios combatem a dor", diz a fisiatra Pérola Grinberg Plapler, diretora da divisão de medicina física do IOT. Mas o melhor, convenhamos, é prevenir o perrengue e garantir uma maturidade mais tranquila.
É possível evitar?
Para se precaver contra a degeneração da cartilagem, a melhor atitude é apostar numa vida saudável. "O que afasta a artrose é a mesma coisa que previne o infarto e a demência: exercício físico e magreza", afirma a ortopedista Márcia Uchôa de Rezende. Praticar algum esporte com regularidade fortalece a musculatura que sustenta a articulação. De maneira geral, isso diminui a sobrecarga e o risco de lesões.
Mil e uma nomenclaturas
Artrose, osteoartrose, osteoartrite... Qual é o certo? Um consenso estabeleceu que os médicos devem usar entre si osteoartrite. Para o público leigo, o mais fácil é empregar o termo popular artrose. Essa diferenciação ajuda a não confundir artrose com artrite reumatoide, doença autoimune que também ataca as articulações, mas tem causas e origens bem diferentes.
O ataque do diabete
Açúcar em demasia desregula as células do tecido conjuntivo
1. Da circulação para as juntas O diabético tem uma quantidade extra de glicose passeando por veias e artérias. Esse sangue mais adocicado chega às articulações através da sinóvia, membrana produtora de um fluido que alimenta a cartilagem.
2. Cartilagem em pé de guerra O açúcar atrapalha o trabalho dos condrócitos, células especializadas na fabricação de colágeno, material que preenche as cartilagens. E a glicose ainda turbina a produção de enzimas que aniquilam as moléculas dessa proteína.
3. Amortecimento detonado Com os condrócitos danificados e o extermínio de colágeno de vento em popa, a cartilagem vai afinando e perdendo as funções de absorver impacto e facilitar movimentos. Essa mudança afeta toda a articulação. Em sua fase aguda, a dor da artrose é intensa.
* Dados retirados da pesquisa "Osteoartrite: cenário atual & tendências no Brasil".
Essa nova noção é influenciada por pesquisas que começam a investigar a relação de alguns distúrbios metabólicos e a osteoartrite, alcunha utilizada pela comunidade científica. Um desses indicativos veio de um estudo da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo que descobriu a relação entre os níveis irregulares de glicose nos diabéticos e o risco maior de desenvolver a inflamação nas dobradiças do esqueleto.
Nas cobaias da experiência, a "doença do sangue doce" contribuiu para a deterioração da cartilagem, o início de um processo doloroso de alterações nas estruturas da articulação. "As pesquisas sobre o diabete normalmente focam nos problemas cardiovasculares e esquecem os efeitos secundários do excesso de açúcar na circulação", adverte a fisioterapeuta Sandra Aparecida Atayde, autora do artigo e professora da Universidade Paulista.
A atividade física é primordial no tratamento tanto da artrose quanto do diabete. A questão é que os incômodos nas juntas podem impedir o suadouro. "As dores muitas vezes impossibilitam o exercício, que traria benefícios para as duas doenças", conta o epidemiologista americano Yiling Cheng, do Centro de Controle e Prevenção de Doenças, em Atlanta, Estados Unidos. Felizmente existem modos de fugir desse círculo vicioso.
Uma das saídas para esse impasse está na água: os esportes aquáticos são os mais recomendados para quem tem artrose, em razão do baixo impacto dos movimentos. Mas é preciso prestar atenção no ambiente antes de se matricular nas aulas de hidroginástica. "Quando a doença está avançada, fica difícil subir e descer as escadinhas da piscina", lembra o reumatologista Nilton Sales, do Hospital Nove de Julho, em São Paulo. Para evitar essa chateação extra, procure academias ou clubes com instalações adequadas, com rampas próprias para entrar na água ou degraus mais largos e menos íngremes do que os convencionais.
A alimentação saudável é outro fator que contribui para melhoras no quadro da artrose e do diabete: "A dieta deve incluir comidas ricas em gorduras poli-insaturadas, fibras e proteínas", sugere o endocrinologista Alex Leite, do Hospital e Maternidade São Luiz, na capital paulista. Itens como carne vermelha, peixe e ovo, cheios de colágeno, são bemvindos. Sem contar que já existem no mercado alguns suplementos alimentares ricos nesse tipo de proteína - lembrando, é claro, de conversar com seu médico antes de começar a ingerir qualquer produto novo.
Gordura na jogada
A exemplo do diabete, o colesterol em excesso adora atacar as juntas. Os especialistas ainda não conseguiram estabelecer uma relação direta entre as moléculas de LDL e o incômodo articular, mas algumas pesquisas já sugerem certas ligações tenebrosas. Os níveis elevados dessa gordura estão associados à obesidade. E o tecido adiposo, que cresce com o aumento de peso, passa a produzir várias substâncias prejudiciais às articulações.
Como se isso não bastasse, o peso extra também sobrecarrega o trabalho de joelhos, quadris, tornozelos e companhia. Para piorar, um trabalho da Universidade George Washington, nos Estados Unidos, comprova que a artrose faz parte da síndrome metabólica, ao lado de distúrbios como hipertensão arterial, obesidade, perda de albumina e - veja só - colesterol e açúcar elevados no sangue. Os pesquisadores descobriram que problemas como resistência à insulina, formação de placas nos vasos sanguíneos e artrose tinham uma mesma origem molecular.
Diante de informações tão preocupantes, o diagnóstico precoce da osteoartrite é fundamental para evitar seu agravamento. Só que os raios X, largamente utilizados nas clínicas médicas, não flagram a doença em seu estágio inicial. "E exames mais completos, como ultrassonografias e marcadores bioquímicos, ainda são caros, embora devam se tornar mais acessíveis em breve", indica o reumatologista Ibsen Bellini Coimbra, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), no interior de São Paulo.
Para quem já sabe que precisa conviver com esse mal, a ciência tem como domá-lo. "Alguns medicamentos protegem a cartilagem que ainda não foi afetada, enquanto anti-inflamatórios combatem a dor", diz a fisiatra Pérola Grinberg Plapler, diretora da divisão de medicina física do IOT. Mas o melhor, convenhamos, é prevenir o perrengue e garantir uma maturidade mais tranquila.
É possível evitar?
Para se precaver contra a degeneração da cartilagem, a melhor atitude é apostar numa vida saudável. "O que afasta a artrose é a mesma coisa que previne o infarto e a demência: exercício físico e magreza", afirma a ortopedista Márcia Uchôa de Rezende. Praticar algum esporte com regularidade fortalece a musculatura que sustenta a articulação. De maneira geral, isso diminui a sobrecarga e o risco de lesões.
Mil e uma nomenclaturas
Artrose, osteoartrose, osteoartrite... Qual é o certo? Um consenso estabeleceu que os médicos devem usar entre si osteoartrite. Para o público leigo, o mais fácil é empregar o termo popular artrose. Essa diferenciação ajuda a não confundir artrose com artrite reumatoide, doença autoimune que também ataca as articulações, mas tem causas e origens bem diferentes.
O ataque do diabete
Açúcar em demasia desregula as células do tecido conjuntivo
1. Da circulação para as juntas O diabético tem uma quantidade extra de glicose passeando por veias e artérias. Esse sangue mais adocicado chega às articulações através da sinóvia, membrana produtora de um fluido que alimenta a cartilagem.
2. Cartilagem em pé de guerra O açúcar atrapalha o trabalho dos condrócitos, células especializadas na fabricação de colágeno, material que preenche as cartilagens. E a glicose ainda turbina a produção de enzimas que aniquilam as moléculas dessa proteína.
3. Amortecimento detonado Com os condrócitos danificados e o extermínio de colágeno de vento em popa, a cartilagem vai afinando e perdendo as funções de absorver impacto e facilitar movimentos. Essa mudança afeta toda a articulação. Em sua fase aguda, a dor da artrose é intensa.
* Dados retirados da pesquisa "Osteoartrite: cenário atual & tendências no Brasil".
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