Pesquisadores identificam um grupo de células que podem desencadear a doença. No futuro, as informações deverão servir de base para a criação de métodos que consigam detectar a enfermidade em estágios bastante iniciais
Cilene Pereira e Mônica TarantinoDesvendar as origens do câncer de mama é um dos desafios mais prementes da medicina. Na semana passada, um novo estudo divulgado pela revista científica “Stem Cell Reports” acrescentou uma informação valiosa para o entendimento dos mecanismos que levam à doença. Pesquisadores americanos e canadenses descobriram que um dos tipos de células-tronco, as chamadas luminal progenitoras (que dão origem a um gênero de tecido mamário), são geneticamente mais vulneráveis às transformações que levam ao câncer. Elas estão situadas nos ductos, canais que conduzem o leite produzido pela glândula mamária até os mamilos. Seria nessas estruturas, portanto, que a enfermidade começaria.
Durante o processo de envelhecimento, os telômeros vão encurtando, deixando as células mais vulneráveis a essas alterações. O que o trabalho agora divulgado demonstra, porém, é que eles são naturalmente menores nas células luminais progenitoras, independentemente da idade. Significa que essas células são normalmente mais expostas a erros de funcionamento que podem desencadear a doença. “A região onde essas células se encontram pode ser vista como um palco onde provavelmente o câncer de mama pode ter início”, disse a pesquisadora Connie Eaves, da Agência para o Câncer em Vancouver, no Canadá, coautora da pesquisa. A investigação que levou a esse achado foi realizada com amostras de tecido mamário retiradas de mulheres que se submeteram a cirurgias plásticas para reduzir os seios com finalidade estética.
De fato, neste momento, a principal contribuição da descoberta é permitir uma compreensão mais detalhada da origem da enfermidade. “Ela reforça evidências que já haviam sido obtidas a respeito dos mecanismos que podem estar envolvidos nesse tipo de tumor”, diz o oncologista Antônio Buzaid, chefe do Centro Avançado de Oncologia do Hospital São José, em São Paulo. No entanto, o cientista Gilley acredita que as suas descobertas poderão servir de base para a criação de meios diagnósticos e de tratamentos que atuem diretamente no começo do processo que leva à doença. “Estamos trabalhando para encontrar formas de detectar as mudanças moleculares genéticas associadas a essa etapa da enfermidade. Entre elas, procuramos meios de identificar alterações nos telômeros que permitem que os cromossomos se fundam”, contou à ISTOÉ. O propósito é impedir a ocorrência dessas modificações.
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