Estudante foi a primeira do curso a ingressar pelo sistema de cotas.
Fernanda largou graduação em enfermagem e se mudou para Florianópolis.
Fernanda foi a primeira indígena a ingressar no
curso de medicina da UFSC por cotas
(Foto: Arquivo Pessoal/Divulgação)
No primeiro dia de aula, em 2010, a estudante de medicina da
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Fernanda Daretti Corrêa
queria ser apenas mais uma aluna. Ela foi a primeira indígena a
ingressar no seu curso pelo Programa de Ações Afirmativas
e, com receio do preconceito, preferia não falar sobre o assunto. Três
anos depois, com alguns episódios que prefere esquecer, ela continua
mudando de assunto quando o tema é preconceito, mas atualmente faz
questão de repetir com ênfase o orgulho que tem da etnia kaingang, da
qual é descendente.curso de medicina da UFSC por cotas
(Foto: Arquivo Pessoal/Divulgação)
Ao contrário de outros índios que ingressaram na UFSC por cotas, Fernanda não nasceu em uma aldeia. Os pais, uma índia kaingang e um descendente de italianos, se conheceram em uma aldeia de Mangueirinha, no Paraná. Após o casamento, a mãe saiu da comunidade indígena. Depois, quando Fernanda estava com três anos, os familiares, da cidade e da aldeia, se mudaram para o Oeste de Santa Catarina.
Fernanda conta que conheceu a cultura indígena através da convivência com a mãe e das férias na companhia da avó e outros parentes que ficaram na comunidade indígena, alguns em Chapecó, outros em Ipuaçu. "Aprendi cantar músicas na língua indígena, conheci rituais e o respeito à tradição", diz.
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Já a medicina ela decidiu cursar ainda na adolescência. No primeiro
vestibular, Fernanda escolheu o curso de medicina, mas não conseguiu
passar. Por isso, optou pelo o curso mais próximo do que queria e
iniciou enfermagem em uma universidade particular do Oeste catarinense.
Quando estava prestes a se tornar enfermeira, soube do sistema de cotas e
passou no processo seletivo da UFSC.Fernanda conta que na época era casada e mãe de Julia, atualmente com 11 anos, e a decisão envolvia toda a família. O marido a apoiou, já que ele também era estudante de medicina, então se mudou para Florianópolis. Durante a graduação ainda nasceu Bruno, hoje com 3 anos.
Apesar do empenho em conciliar a maternidade e a medicina, ao colocar o estetoscópio no primeiro paciente, no 3º semestre da graduação, ela diz que teve certeza de que não se arrependeria pela decisão de se mudar e ingressar no novo curso.
Fernanda diz que se sente privilegiada pelas cotas e que não teria conseguido passar se não existisse o Programa de Ações Afirmativas. “Com a qualidade de estudo que tive, dificilmente conseguiria se não fosse desta forma", diz, mas garante que, quando formada, quer retribuir a oportunidade de estudar em uma universidade pública com atendimento de qualidade. “Desde pequena, via que a saúde pública a povos indígenas era precária. Gostaria de ser diferente, de atender bem e dar um atendimento adequado”, conclui.
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