7.18.2013

Amsterdã impressiona com jeito liberal e belos canais


A cidade aprendeu a viver com a diversidade e usou a criatividade para domar a invasão do mar

Os prédios geminados, as casas-barco e os inúmeros canais dão o clima especial de Amsterdã Foto: Karin Hoch / Editora Europa
Os prédios geminados, as casas-barco e os inúmeros canais dão o clima especial de Amsterdã
Foto: Karin Hoch / Editora Europa
Não era dia de show, mas o Museumplein, parque que contorna o Rijksmuseum, um dos principais museus de Amsterdã, estava lotado. O único espetáculo era o sol anêmico de fim de verão que aparecia no céu, motivo suficiente para levar uma multidão de jovens para o lugar, no centro da cidade. Indiferentes ao friozinho, universitários de short e camiseta faziam jogging. Hippies, algumas décadas atrasados em relação à paz e ao amor pregados nos anos de1960, dividiam um cigarro de palha e o casal gay ao lado se abraçava no gramado. À frente, duas meninas de cabelos cor de caneta marca-texto ouviam música em uma caixinha de som, enquanto a terceira cochilava alheia ao barulho.

Amsterdã é uma vitrine humana. Rostos que parecem pertencer a diferentes épocas e idiomas que apontam para inúmeros países se misturam nos parques, nos museus e à beira das ruas ladeadas de canais da cidade, e ninguém parece achar nada de mais naquela miscelânea. Na capital holandesa, essa torre de Babel é a normalidade.

Mas, por trás dessa aparência dissonante, existe unidade. Para os punks e hippies meio anacrônicos, a dona de casa que leva os cachorros para passear, o executivo e você, a cidade oferece o mesmo atrativo: liberdade. Sem pretensão, sem olhar ninguém de cima, o lugar que John Len non e Yoko Ono escolheram, em 1969, como palco para o protesto de 10 dias sem sair da cama, disse não ao moralismo, refutou a caretice e esnobou o politicamente correto. Desde 2001, gays podem se casar e adotar crianças normalmente. A prostituição também não é encarada como tabu. Aprovada e regulamentada por lei federal, acontece à luz do dia e a céu aberto nas ruas do Red Light District (Bairro da Luz Vermelha).

Com pouco espaço para circular e estacionar os carros, a população optou pelas bicicletas como o meio de transporte preferido Foto: Karin Hoch / Editora Europa
Com pouco espaço para circular e estacionar os carros, a população optou pelas bicicletas como o meio de transporte preferido
Foto: Karin Hoch / Editora Europa
Todas essas liberdades emprestam à cidade um clima moderno e cosmopolita e fazem seu nome ressoar na memória e no imaginário de gente de todo o mundo com a mesma força que Paris ou Roma. Parece até que a cidade é grande.

A cidade que veio do mar
Amsterdã é uma das menores capitais do Velho Mundo: tem 219 km², um décimo do tamanho da cidade de São Paulo. A realidade nacional não é diferente: a Holanda consta no ranking dos menores países do mundo e ocupa uma modesta área de 41,5 mil km², um terreno conquistado palmo a palmo graças à engenharia, que domou o mar com a construção de canais e diques e trouxe para a superfície terras antes cobertas pela água.

Foi sobre o terreno encharcado que Amsterdã avançou a partir do século 17 e criou seu principal cartão-postal por acidente. Os lindos canais que acompanham o desenho das ruas do centro foram escavados para drenar a água e preparar o solo para a construção. A cidade cresceu com plena consciência do espaço limitado que tinha a seu dispor. A ocupação foi cuidadosamente planejada de forma a aproveitar o terreno o máximo possível, e a arquitetura é a expressão mais visível dessa preocupação: cada quarteirão é uma sucessão de casas geminadas, estreitas e altas. Os jardins são modestos e garagem é um luxo impensável.

Da falta de espaço para estacionar carros, aliás, nasceu um dos principais hábitos nacionais: andar de bicicleta. A magrela é o meio de transporte oficial no terreno plano da capital. Sob sol ou chuva, é absolutamente corriqueiro ver executivos engravatados, crianças arrumadas para a escola ou mulheres de vestido e meia calça pedalando placidamente. Na mesma proporção, pipocam os fiscais que, na falta de carros para multar, guincham bicicletas estacionadas irregularmente e advertem quem pedala fora da ciclovia.

O ciclismo é levado tão a sério que houve até uma época em que o governo comprou uma frota de bicicletas brancas, que qualquer um – turistas inclusive – podia usar e largar onde quisesse sem custo algum, mas, com os holandeses pintando e revendendo os veículos comunitários (bem, nem tudo é tão de primeiro mundo assim...), a mamata terminou. Mesmo assim, pedalar permanece uma atividade econômica, e a diária de uma bike, a € 9, permite que mesmo o mochileiro com orçamento mais espartano explore a região sobre duas rodas.

Se não por terra, vale desbravar Amsterdã, de pedalinho ou de barco, pela teia de canais que corta a cidade. Teve gente que gostou tanto da ideia que se mudou para casas-barco (olha a economia de espaço mais uma vez...), que podem flutuar de um bairro para o outro e navegar para um novo endereço sem pre que o tédio pintar. Combustível para a criatividade dos holandeses, a configuração compacta da capital também é prática para os viajantes, que podem percorrer todo o centro a pé, com paradas em museus, brechós, parques, restaurantes e, claro, coffee shops.

Esse trecho foi retirado da revista Viaje Mais, seção Europa, edição 142.

Um comentário:

Anônimo disse...

Saiba mais sobre a Holanda aqui:
Ducs Amsterdam
< ducs@ducsamsterdam.net >