Hoje é dia nacional do Homem -a comemoração internacional é 19 de novembro. Não, não é uma besteira machista, pelo menos na sua origem. Óbvio que o comércio tenta sequestrar a data e confiná-la no shopping center, com a ajuda das redes sociais.
As mesmas redes que levam aos protestos nas ruas levam a estas arapucas e distorções. O face é um moleque de muitas caras.
O dia do Homem foi criado para chamar atenção sobre a saúde masculina. Fato gravíssimo: o macho resiste aos cuidados médicos como um gato evita a água. A cada três mortes de adultos, duas são masculinas.
Morte matada ou morte morrida.
Na minha família mesmo, cabras dos sertões do Pajeú e do Cariri, os felas só costumam ir ao médico arrastados pelas mulheres ou na hora da morte. No máximo se submetem a uma colher de Emulsão de Scott quando meninos.
Morreu de quê? Morreu do coração é o diagnóstico genérico que temos recebido até hoje.
O homem vai à guerra, mas teme um simples dedo de prosa com o urologista. E haja morte besta de câncer de próstata no Brasil, um dos recordistas mundiais. Na tentativa de encorajar os meus semelhantes, deixo aí a narrativa da minha primeira experiência com o toque:
-Senhor Francisco?!
-Sim…
Chegou a hora da verdade. As rotas de fuga estão obstruídas. Não há escapatória. Naquele instante, o primeiro homem de gerações e mais gerações do ramo sertanejo dos Sá Menezes seria submetido ao labiríntico mundo da procto-investigação.
Que fazer?, resigno-me, leninista rendido ao mais dialético dos toques da humanidade.
Ao adentrar o recinto, lembrei logo da infame pilhéria. “O médico introduz o dedo no respeitável cidadão e pergunta: ‘Sentes alguma coisa?’. Ao que o paciente sussurra: “Sinto que te amo.”
Recordei também de um amigo, rapaz de Serra Talhada, terra de Lampião, que era tão macho, mas tão macho de um jeito que usava dois sabonetes no seu banho: um Phebo para a parte dianteira e um Lux de Luxo exclusivo da traseira. “Esse contato é perigosíssimo, não se deve misturar as vocações”, dizia, no banheiro coletivo da Casa do Estudante da UFPE.
Era chegada a hora. Ao sacrifício, pois. Segura na mão de Deus e vai! O simpático doutor tenta disfarçar suas feições mal-assombradas à Anthony Hopkins. Foco nas mãos do monstro. Dedos médios, mas habilidosos como um manipulador de teatro de bonecos.
“Que macho sou eu, ora bolas!”, penso, para me encorajar. O médico ordena que eu deite. Um amigo da firma me contou que a primeira vez dele havia sido na clássica posição “de ladinho”. A minha foi, napoleonicamente falando, de bruços mesmo.
No meu retrovisor imaginário, vejo o dublê de Hopkins colocar uma espécie de camisinha de dedo. Depois, a vaselina, o lubrificante, sei lá. E não foi com o mindinho, muito menos com o seu vizinho, coube o serviço ao matreiro fura-bolo, como no folguedo infantil.
Mas tudo dentro do maior respeito, uma escaneada tecnicamente irreparável. Como diria o bardo lusitano, apenas uma rápida bulida no meu “eu profundo e outros eus”.
Seja homem, cabra, treine em casa, com a namorada. Pode até ser viciante. No mais, é seguir o conselho do filósofo Emerson, que em velho anúncio do uísque Johnnie Walker recomendava: “Faça tudo aquilo que você mais teme”.
Sinceramente, o que custa um dedinho de prosa com o seu urologista. Cuide-se, homem!
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