Comandante da PM diz que pacto para reduzir uso de armas não letais não funcionou e que a medida prejudicou operação no Leblon
“Vamos dialogar com quem? Sem líder não há diálogo”, disse Costa Filho, ressaltando a importância da presença da polícia: “Temos PMs feridos. Mas direitos humanos não são para a polícia. Somos cidadãos também. Se a PM não estiver ali, é anarquia”, declarou.
Já o secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, apontou a falta de protocolo em protestos denominados por ele “complexos”. “Não há protocolo no mundo para atuar com turba, em confusão”, declarou Beltrame.
No entanto, para o diretor da Anistia Internacional do Brasil, Átila Roque, a afirmação do secretário não vai de encontro com recomendações internacionais para a atuação da polícia:
“É uma declaração escapista, que reconhece o despreparo com grandes manifestações. A polícia americana e a ONU têm vasto aparato sobre como usar armas menos letais e atuar em grandes atos. Não é dizer que não há manual. Não houve preocupação de se criar protocolo para a polícia atuar no marco da cidadania”, disse Átila.
Um dos documentos que orientam ações policiais em manifestações é um manual internacional da Cruz Vermelha, recomendado pela ONU. O coronel Costa Filho disse que a disciplina para controle de distúrbios foi retirada do currículo da formação de policiais, “pois o Rio não tinha cultura de protestos violentos”. Apenas o Batalhão de Choque recebeu essa formação, há dois anos, em curso com a polícia francesa.
Lojas e bancos ficam destruídos após protesto no Leblon
José Pedro Monteiro / Agência O Dia
José Pedro Monteiro / Agência O Dia
O documento internacional ‘Direitos Humanos e Direito Internacional Humanitário para Forças Policiais e de Segurança’, elaborado pela Cruz Vermelha, alerta sobre o uso de equipamento de práticas policiais que possam intimidar manifestantes, provocando outras situações.
Em um trecho diz que “o chamado uniforme de choque, com capacete e escudos, é geralmente reservado a circunstâncias excepcionais. Ainda que as organizações de aplicação da lei não pretendam transmitir imagem hostil aos manifestantes mediante sua aparência, isto é exatamente o que geralmente ocorre”.
O documento também frisa que, apesar de uma multidão estar aglomerada, cada indivíduo deve ser tratado de uma forma diferenciada. Outro exemplo é o Manual de Operações de Choque da Polícia Militar do Espírito Santo, elaborado em 2012. O texto diz como atuar em operações de controle de distúrbios civis.
De acordo com o manual, a tropa de choque deverá ser o último recurso utilizado pela polícia militar e “deverá atuar a uma distância mínima de 30 metros da multidão. O contato direto com os manifestantes deve sempre ser evitado, pois as munições não letais possuem distâncias mínimas de segurança”.
‘PM deixou correr frouxo para justificar atos’
O deputado estadual Marcelo Freixo (Psol) e o vereador Cesar Maia (DEM), dois dos principais representantes da oposição ao governo do estado, criticaram duramente a postura da PM e do governador Sérgio Cabral.
“A PM foi criticada pela forma como vinha agindo. Deixou correr frouxo para justificar o que fez anteriormente, como se só existissem duas possibilidades: barbárie ou truculência. Não é possível que não tenha um meio-termo, e a polícia não possa agir de forma inteligente e competente. O que a PM fez ontem foi uma irresponsabilidade”, atacou Freixo.
Cesar Maia discordou do secretário de
Segurança, José Mariano Beltrame, que disse não haver manual para
manifestações. “Há, sim, construído pela experiência policial através
das décadas”, disse o vereador, para quem o PMDB está “fora do jogo de
2014”, ou seja, as eleições estaduais do ano que vem.
O deputado federal Anthony Garotinho (PR) e os
senadores Lindbergh Farias (PT) e Marcelo Crivella (PRB) foram
procurados pelo DIA
, mas não quiseram dar declarações.Manoel Carlos está indignado
Os atos de vandalismo no Leblon na madrugada desta quinta-feira causaram indignação a um morador ilustre: Manoel Carlos, 80 anos, autor de novelas como ‘Por Amor’ e ‘Laços de Família’.
Apaixonado pelo bairro, usado como
cenário de suas histórias, ele defende as manifestações pacíficas, mas
confessa estar preocupado com a onda de violência de “arruaceiros
infiltrados”. “Sou a favor do povo na rua exigindo mudanças, mas não dos
vândalos que estão ali para destruir.”
Acostumado a retratar fatos do
cotidiano em suas tramas, Manoel Carlos garante que, se tivesse uma
novela no ar neste momento, as manifestações e o vandalismo fariam parte
da história. “Já teria mostrado nem que fosse ao vivo, como várias
vezes fiz. Minha próxima novela (‘Em Família’) começa em janeiro, quando
espero que essa violência tenha cedido ao bom-senso. Espero que o país
tenha melhorado, atendendo aos justos protestos.”
Em ‘Mulheres Apaixonadas’, exibida em
2003, o autor levou para a ficção a questão da segurança. A Rua Dias
Ferreira, no Leblon, foi cenário de cena de tiroteio entre polícia e
assaltantes que resultou na morte de Fernanda (Vanessa Gerbelli),
enquanto Téo (Tony Ramos) é baleado na cabeça, mas sobrevive.
A gravação, que foi manchete na imprensa
internacional, tumultuou o bairro por dez horas e reuniu multidão,
completa dez anos em agosto.Comerciantes contabilizam os prejuízos
Comerciantes do Leblon contabilizavam nesta quinta os prejuízos causados por saques e quebra-quebra na madrugada de ontem. “Além da fachada de vidro destruída, perdemos R$ 3 mil em saques de bebidas. A porta agora será de aço”, revelou o subgerente da Lidador, Marcelo da Silva.
Em situação pior ficou a loja Toulon. “Roubaram 98% das peças. Estamos recebendo colaborações de moradores que filmaram a ação para identificar vândalos”, disse o diretor da marca, Mário Galão. Moradores também estavam indignados. “Foi difícil dormir com o barulho. Ficamos com medo”, opinou Maria Helena Carvalho.
Na manifestação, nove pessoas foram detidas e autuadas por formação de quadrilha. Um deles continua preso por portar explosivos.
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