7.16.2013

Tá feia a crise na Europa

 Dois carros pelo preço de um

 

Crise na Europa faz montadoras venderem dois carros pelo preço de um: na França, aposentado comprou utilitário da Hyundai e levou para casa também este i10 Mini. Quase todas estão perdendo dinheiro no continente, com exceção da Volkswagen.

Oferta de fabricantes ameaça recuperação do setor automotivo europeu







LAURENCE FROST, CRISTIAAN HETZNER, REUTERS, PARIS, FRANKFURT - O Estado de S.Paulo

Elie Chauvin não pretendia comprar um carro novo quando parou na revendedora local da Hyundai. Mas o construtor aposentado acabou saindo com dois carros pelo preço de um.
A oferta promocional feita em Nîmes, na França - na compra de um utilitário Crossover ix35, você leva um mini i10 pelo valor de 1 - é mais uma prova de que a Europa é um paraíso para o comprador de carros e um pesadelo para as montadoras. "Foi a oferta que recebi", disse Chauvin. "Eu não teria nem trocado o carro. Não agora."
Sua mensagem repercute a pesquisa de mercado confidencial a que a Reuters teve acesso; descontos de marcas de carros populares saltaram 17% em relação ao ano passado a uma média de 2.518 por veículo em maio em todos os cinco maiores mercados da Europa.
O declínio das vendas de carros na Europa está dando sinais de que estará chegando ao fundo, com o mercado encolhendo pelo sexto ano consecutiva para alcançar sua maior baixa em duas décadas. Mas a concorrência de preços entre as marcas e as revendedoras ameaça aniquilar qualquer sensação de alívio pelas montadoras, que lutam com excesso de capacidade nas fábricas.
Quase todas estão perdendo dinheiro na Europa, com exceção da Volkswagen e suas congêneres de carros de luxo alemãs.
Os prejuízos no ano passado chegaram a 704 milhões no caso da Fiat e de US$ 1,8 bilhão para Ford e General Motors, enquanto a PSA Peugeot Citroën contabilizou um prejuízo líquido de 5 bilhões.
Preocupadas com a imagem da marca, muitas montadores mascaram os seus cortes nos preços registrando alguns de seus veículos para serem vendidos como usados, ou fornece para empresas de aluguel de veículos no fim do mês com uma redução substancial do preço.
Outras, como a fabricante sul-coreana Hyundai, têm oferecido descontos cada vez mais imaginativos que elas anunciam abertamente para abocanhar uma fatia maior do mercado europeu que vem definhando de concorrentes mais debilitadas.
Muitos dos recentes clientes espanhóis da Hyundai terão de volta a quantia de 2.250, depois de a empresa prometer no mês passado pagar uma prestação de até 150 por mês para cada um dos primeiros 15 gols marcados pela equipe nacional de futebol na Copa das Confederações.
"A Espanha marca, você ganha", foi o slogan da Hyundai - e a equipe contabilizou 15 gols nos primeiros três jogos da Copa, incluindo a vitória de 10 a zero contra o Taiti.
A Toyota contra-atacou oferecendo 5 mil de equipamento extra - como rodas de alumínio, câmeras de estacionamento e porta-luvas refrigerado -, tudo por 1. Sua revendedora Queen Car em Milão, na Itália, também tem oferecido férias.
Mas há um otimismo crescente de que as vendas de carros podem estar se aproximando do fim da sua longa desaceleração.
A Ford está aumentando a produção do seu SUV 4X4 Kuga em 10%, enquanto a Volkswagen pediu aos trabalhadores para diminuírem as férias de verão para fabricar mais hatchbacks Golf.
"Evidências vindas das fornecedoras europeias indicam que os níveis de produção na Europa chegaram ao seu ponto mais baixo no segundo trimestre e agora começam a melhorar", disse Stefan Burgstaller, da Goldman Sachs, aos investidores numa nota enviada em 4 de julho.
Embora em junho tenha se verificado uma queda de 6,1% na Europa Ocidental, segundo a empresa de consultoria LMC Automotive a taxa ajustada sazonalmente subiu, em termos anuais, de 11,5 milhões em maio do ano passado, para 11,7 milhões, "o melhor resultado até agora neste ano".
Ameaça. Mas qualquer recuperação está ameaçada pelo tipo de desconto que convenceu Elie Chauvin e milhões de compradores a antecipar compras que, do contrário, deixariam para depois.
"Nossa preocupação é que isso não persista", disse Anil Valsan, analista da área dedicado ao setor automotivo global na Ernst & Young.
As montadoras terão de controlar seus descontos cedo ou tarde, provocando um novo declínio nas vendas "nos próximos meses", prevê Valsan.
"Enquanto houver incentivos neste nível, qualquer queda forte será artificial. Se as montadoras não começarem a voltar ao sistema normal de vendas logo, a correção poderá ser ainda mais drástica."
Os descontos propostos pela GM na Europa estão entre os mais generosos, de acordo com dados de uma empresa de pesquisa de mercado independente abrangendo Alemanha, Grã-Bretanha, França, Itália e Espanha.
Os descontos da marca Opel chegaram a 3.301 por veículo entre janeiro e maio, quando a média no setor era de 2.440.
Os incentivos da Ford aumentaram modestos 4%, para 2.632, e os oferecidos pela Renault caíram 1%, para 2.291. As duas companhias prometeram melhorar os preços se perderem fatia de mercado.
A Peugeot ofereceu os maiores aumentos nos descontos, elevando a 33%, para 3.013 na marca, e 21%, para 3.429, na Citroën.
Os gastos com incentivos subiram 5% na Alemanha, 10% na Itália, 15% na Grã-Bretanha, 18% na França e 28% na Espanha.
Elie trocou um Renault de 25 anos na sua compra não programada e agora pretende vender seu Hyundai Santa Fé 2007. O subcompacto i10, cujo preço de tabela é de 10.120, junto com seu novo Crossover que custou 29.619, significaram uma economia de 25% no valor combinado dos dois veículos.
"Minha mulher ficou encantada; ela queria um carro pequeno. Quando dizemos às pessoas que compramos os dois carros por esse preço, elas riem incrédulas."
 / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

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