Estudos de institutos de São Paulo e do Rio mostram que principais motivos do abandono são efeitos colaterais dos remédios e depressão
Fernanda Bassette, de O Estado de S. Paulo
Pelo menos um em cada cinco adolescentes que estão em
tratamento contra o HIV abandona a terapia na metade, atrapalhando o
controle da doença, comprometendo o tratamento e aumentando o risco de
desenvolver resistência à medicação.
Fernanda Bassette, de O Estado de S. Paulo
Os dados foram levantados em 2012 por dois centros de excelência em tratamento de HIV em adolescentes no País: o Instituto Emílio Ribas, vinculado à Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, e o Hospital Universitário Gaffrée e Guinle, vinculado à Universidade Federal do Estado do Rio (UniRio).
Em São Paulo, o levantamento foi feito com 581 adolescentes que estão em tratamento, com idade entre 12 e 17 anos. Desse total, 131 jovens estão há pelo menos seis meses sem agendar uma consulta ou comparecer a um retorno. A maioria foi infectada pela mãe durante o parto (transmissão vertical).
No Rio, o trabalho levou em conta entrevistas feitas com 122 pacientes entre 12 e 19 anos. Desses, 17% abandonaram o tratamento - interromperam a terapia por mais de três meses.
Além disso, o levantamento mostra que outros 20% dos jovens fazem o tratamento de maneira irregular, não passam por todos os exames, não voltam a todas as consultas nem tomam o medicamento corretamente.
“O grande problema de adesão acontece justamente na adolescência. Essa é a fase em que o jovem está bem de saúde e começa a fazer uma série de questionamentos, vive os conflitos da idade. Ele se vê bem de saúde, então se pergunta por que tem de tomar remédio”, explica a infectologista Marinella Della Negra, do Emílio Ribas.
A médica Norma Rubini, do Gaffrée e Guinle, diz que todos os centros enfrentam dificuldades para aumentar a adesão do jovem em tratamento. “A criança com uma doença crônica em geral é superprotegida. Quando ela chega à adolescência, os pais e até os médicos acreditam que ela vai se cuidar sozinha. Só que elas ainda são imaturas e muitas se revoltam.”
De acordo com Norma, uma das alternativas para aumentar a adesão é fazer trabalhos com psicólogos, que tentam reforçar a autoestima dos pacientes. “Eles precisam de motivação para viver. Isso é fundamental.”
Sobrevivente. Segundo o infectologista Ricardo Sobhie Diaz, professor associado da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o abandono do tratamento entre jovens tem sido alvo de estudos em todo o mundo. “Em geral, o adolescente é um sobrevivente. Apesar de ele poder se infectar na adolescência, a maior parte dos casos é de transmissão vertical.”
Assim, por estarem contaminados há muito tempo, o tratamento vai se desgastando, o que faz as pessoas diminuírem a adesão.
De acordo com Diaz, pesquisadores europeus fizeram um estudo com adolescentes comparando o uso do Efavirenz (que é a droga de primeira linha mais usada no mundo) todos os dias da semana com o uso do remédio apenas de segunda a sexta-feira - uma das ideias para tentar melhorar a adesão dos adolescentes.
“Os primeiros resultados demonstram que não houve prejuízos nos jovens que tomaram o remédio corretamente durante a semana. Esses resultados ainda não foram colocados efetivamente em prática, mas mostram os esforços para tentar deixar a terapia mais próxima possível do normal. Interromper o tratamento é muito pior.”
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