Sindicalistas fracassam na tentativa de pegar carona nas mobilizações populares, provocam transtornos pelo País e se distanciam ainda mais da sociedade
Sérgio PardellasNum lance abertamente oportunista, nove centrais convocaram seus filiados para o Dia Nacional de Lutas, na quinta-feira 11, na tentativa de aproveitar o embalo das manifestações populares de junho. O resultado da mobilização não só se revelou pífio, como escancarou as diferenças com os protestos organizados pelas redes sociais que tomaram as principais avenidas do País no último mês. Enquanto a histórica marcha das ruas envolveu mais de dois milhões de brasileiros pela redução da tarifa do transporte público, combate à corrupção e melhoria nos serviços públicos, os sindicalistas com uma ultrapassada pauta trabalhista não conseguiram reunir 100 mil pessoas em todo o País. Em São Paulo, a manifestação atraiu apenas dez mil à avenida Paulista e ainda houve denúncias de que um grupo de pelo menos 100 manifestantes teria recebido entre R$ 50 e R$ 70 para participar do protesto. Em junho, 100 mil saíram às ruas apenas em um dia na capital paulista. No Rio, a manifestação reuniu cerca de cinco mil pessoas, contra 300 mil da passeata de junho.
TRANSTORNO
Em Itajaí (SC), sindicalistas bloquearam por 20 minutos a BR-101
Por mais paradoxal que pareça, foi no governo de Lula, um ex-sindicalista, que os sindicatos começaram a perder a sintonia com a sociedade e, consequentemente, seu poder de mobilização. Agraciados com cargos no governo, CUT e Força Sindical, as maiores centrais do País, foram aos poucos perdendo interlocução e importância e deixando suas principais bandeiras de lado. Preferiram aproveitar a proximidade com o poder para se aparelhar e transformar um instrumento democrático em negócio. “O atrelamento dos movimentos de trabalhadores com o governo gerou uma desconfiança na população. Eles são vistos como órgãos cooptados”, avalia Torquato. Hoje, poucos negócios no Brasil são tão lucrativos quanto montar um sindicato. Principalmente a partir de 2008, quando foi aprovada a lei que reconheceu as centrais como integrantes do sistema sindical nacional. Atualmente, as centrais têm direito a 10% da arrecadação do imposto sindical, que corresponde a um dia de salário de todo empregado. Não é pouco dinheiro. Só em 2008, entrou no caixa de sindicatos, federações, confederações e centrais cerca de R$ 1 bilhão arrecadado com o imposto sindical recolhido de forma obrigatória dos trabalhadores. A distribuição da verba é proporcional ao número de sindicatos filiados a cada uma. Assim, a CUT, com o maior número de filiados, 2.169, recebe por ano cerca de R$ 45,7 milhões. A Força Sindical, segunda maior, com 1.680 filiados, fica com cerca de R$ 40 milhões.
FIASCO
Manifestantes se reúnem em frente ao Masp, na avenida
Paulista. A marcha mobilizou apenas dez mil pessoas
Em toda a história, só havia ocorrido três greves gerais no País. Em 1917, em meio à crise da Primeira Guerra, em março de 1989, contra o Plano Verão de Sarney, e, em 1991, durante o governo Collor. Com a chegada do PT ao poder, as centrais passaram a organizar o Dia Nacional de Lutas duas vezes por ano. Mas, desde então, nunca houve tentativa de parar o País, como na quinta-feira 11. A fracassada mobilização da semana passada, que só trouxe prejuízos com a paralisação de serviços essenciais à população, afasta o movimento sindical da sociedade e instiga discussões sobre o futuro do sindicalismo. Nos EUA, foram atitudes dessa natureza que levaram à desmoralização dos sindicatos. Hoje, naquele país, os acordos coletivos não são protegidos por lei. “Perdemos mais de 400 mil pessoas no movimento sindical e esse número continua em declínio”, disse a dirigente sindical Sandy Rusher, referindo-se à queda nas sindicalizações no país. O sindicalismo precisa se distanciar do poder e se oxigenar nas bases se não quiser perder sua representatividade. Definitivamente, não é agindo como nas esvaziadas manifestações da última semana que as centrais sindicais recuperarão suas vozes. Hoje, elas se mostram afônicas e desafinadas com o clamor das ruas.
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