A Organização Mundial de Saúde (OMS)
divulgou a 4ª versão da Lista de Medicamentos Essenciais para Crianças
(EMLC, na sigla em inglês), na qual dois medicamentos produzidos no
Brasil foram incluídos. Um deles é o Artesunato+Mefloquina (ASMQ),
desenvolvido por Farmanguinhos, por meio de uma parceria com a
Iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas (DNDi,
na sigla em inglês). Trata-se de uma formulação inovadora, em dose fixa
combinada, capaz de curar a malária em até três dias. O ASMQ foi também
acrescentado à 18ª Lista de Medicamentos Essenciais para adultos (LME,
em inglês). A inclusão demonstra a importância da instituição no
desenvolvimento de fármacos essenciais para a saúde humana.
A combinação em dose fixa de Artesunato e
Mefloquina foi adicionada às duas listas, já que está em consonância
com as diretrizes atuais de tratamento da OMS. Desenvolvido por
Farmanguinhos com o apoio da DNDi, o ASMQ foi lançado pela primeira vez
no Brasil em 2008. Após transferência de tecnologia para a indústria
indiana Cipla, o fármaco foi pré-qualificado pela OMS em 2012 e, nos
últimos dois anos, registrado na Índia, Malásia e Mianmar. A unidade
envia doações do medicamento a países da América Latina, a fim de
combater o surto da doença e registrar o produto na região, para a qual
obteve, recentemente, a outorga da Organização Pan-Americana da Saúde
(Opas). A outorga é uma espécie de sinal verde para a pré-qualificação
da OMS para o medicamento nesta área do mundo.
Outro medicamento brasileiro incluído na
lista é o benznidazol, usado no tratamento da doença de Chagas
(tripanossomíase americana) em crianças. Essa formulação pediátrica foi
desenvolvida pelo Laboratório Farmacêutico do Estado de Pernambuco
(Lafepe) também em parceria com a DNDi. Trata-se de um
comprimido facilmente dissolvível, para uso oral simples e preciso em
crianças. O tratamento foi registrado no Brasil em 2011.
Outro medicamento, fruto do apoio da
DNDi, que também figurou na lista foi a terapia combinada
nifurtimox-eflornitina (NECT), para tratar a doença do sono de fase
final (tripanossomíase humana africana) em crianças. Desenvolvido em
parceria com as organizações Médicos Sem Fronteiras e Epicentre, além do
Instituto Suíço para Doenças Tropicais e Saúde Pública, o tratamento
foi lançado e acrescentado à EML para o tratamento de adultos em 2009. A
formulação é a primeira nova opção de tratamento em mais de 25 anos
para a doença do sono. Já foi implementado e distribuído pela OMS, com
apoio de doações da Sanofi e da Bayer, por meio de programas nacionais
de controle, substituindo a antiga medicação em 12 países da África
Subsaariana, onde ocorrem 98% dos casos da doença em estágio final,.
De acordo com a DNDi, a
inclusão dessas novas opções terapêuticas pediátricas na lista EMLC da
OMS atesta as necessidades urgentes e específicas de tratamento para
crianças ameaçadas por doenças negligenciadas, como a doença do sono
africano e a de Chagas. Além disso, destaca a liderança do trabalho da DNDi no desenvolvimento de produtos de benefício público na área de pesquisa e desenvolvimento (P&D) desses produtos.
Malária – Transmitida pela picada das fêmeas de mosquitos do gênero Anopheles,
a malária é considerada um grave problema de saúde pública em todo o
mundo. Afeta quase 50% da população em mais de 109 países e territórios.
Sua estimativa é de 300 milhões de novos casos e um milhão de mortes
por ano, principalmente em crianças menores de cinco anos e mulheres
grávidas do continente africano
No Brasil, a área endêmica está
concentrada na região amazônica. Para se ter uma ideia, em 2008,
aproximadamente 97% dos casos de malária no país se concentraram em seis
estados da região Norte: Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia e
Roraima. Outros três estados compreendidos na região amazônica Maranhão,
Mato Grosso e Tocantins, foram responsáveis por menos de 3% dos casos
de malária no país.
A maioria dos casos ocorre em áreas
rurais, mas há registro da doença também em áreas urbanas (cerca de
15%). Mesmo na área endêmica, o risco de contrair a doença não é
uniforme. Esta ameaça é medida pela incidência parasitária anual (IPA),
que serve para classificar as áreas de transmissão em alto, médio e
baixo risco, de acordo com o número de casos por mil habitantes. Apesar
dos números, de acordo com dados do Ministério da Saúde, a quantidade de
óbitos causados pela doença caiu para 70% na última década.
Com validade de um ano, a outorga dá a Farmanguinhos o direito de fornecer o ASMQ, principal medicamento contra a malária recomendado pela OMS, ao Fundo Estratégico da Opas, instância responsável pela distribuição aos países que solicitam o medicamento. De acordo com o parecer, atualmente só existe uma fonte de ASMQ pré-qualificado pela OMS: o fabricado pela indústria indiana Cipla, que recebeu a tecnologia de Farmanguinhos mediante acordo assinado entre os dois laboratórios em 2008, e com participação da Iniciativa de Medicamentos para Doenças Negligenciadas (DNDi, na sigla em inglês). Entretanto, o Projeto de Medicamentos e Tecnologias Sanitárias (HSS/MT), responsável por avaliar os produtos e fornecedores para aquisição do FE incluiu Farmanguinhos como fornecedor, até que, no prazo de um ano, ele obtenha a pré-qualificação. A medida foi possível porque se trata de um processo complementar, já que o número de medicamentos não satisfaz toda a demanda da região das Américas.
Opas autoriza Farmanguinhos a fornecer antimalárico a países latino-americanos
Alexandre Matos
Alexandre Matos
A
Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) concedeu ao Instituto de
Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos/Fiocruz) o direito de fornecer o
antimalárico Artesunato+Mefloquina (ASMQ) aos estados-membros do Fundo
Estratégico da instituição. O anúncio foi feito na por meio de
comunicado oficial da Opas. A decisão representa um importante passo
para a unidade, que busca a pré-qualificação do produto junto à
Organização Mundial da Saúde (OMS).
O ASMQ é o primeiro ACT em dose fixa que pode ser armazenado por até três anos em clima tropical (Foto: Peter Ilicciev) |
Com validade de um ano, a outorga dá a Farmanguinhos o direito de fornecer o ASMQ, principal medicamento contra a malária recomendado pela OMS, ao Fundo Estratégico da Opas, instância responsável pela distribuição aos países que solicitam o medicamento. De acordo com o parecer, atualmente só existe uma fonte de ASMQ pré-qualificado pela OMS: o fabricado pela indústria indiana Cipla, que recebeu a tecnologia de Farmanguinhos mediante acordo assinado entre os dois laboratórios em 2008, e com participação da Iniciativa de Medicamentos para Doenças Negligenciadas (DNDi, na sigla em inglês). Entretanto, o Projeto de Medicamentos e Tecnologias Sanitárias (HSS/MT), responsável por avaliar os produtos e fornecedores para aquisição do FE incluiu Farmanguinhos como fornecedor, até que, no prazo de um ano, ele obtenha a pré-qualificação. A medida foi possível porque se trata de um processo complementar, já que o número de medicamentos não satisfaz toda a demanda da região das Américas.
Processo de pré-qualificação continua
A OMS informou à Opas que Farmanguinhos terá de enviar nova solicitação a fim de pré-qualificar o produto. Segundo o documento, não será preciso incluir os componentes de eficácia e segurança, mas será viável referenciar os dados fornecidos pela Cipla nos dossiês pré-qualificados. Se houver possibilidade de novos dados clínicos, será necessário prover tais evidências. Em caso de mudanças na fonte ou processo de fabricação do princípio ativo, será preciso completar um novo módulo, a fim de justificar diferenças em comparação com os dossiês fornecidos pela Cipla.
Por outro lado, o Complexo Tecnológico de Medicamentos (CTM), local em que está instalada a planta de produção de Farmanguinhos, será submetido a uma inspeção de pré-qualificação da OMS. O ASMQ brasileiro é registrado na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), considerada uma autoridade regulatória de referência para a Opas. Além disso, a Opas enfatiza que a Anvisa já concedeu o certificado de cumprimento de Boas Práticas de Fabricação (BPF) a Farmanguinhos, o que confirma a excelência da qualidade do Instituto.
De acordo com o documento emitido pela Opas, a organização busca fortalecer as autoridades reguladoras nacionais de medicamentos e produtos biológicos, como a Anvisa, por exemplo. A entidade programa iniciativas para reconhecer a capacidade dessas agências regulatórias na tomada de decisões relacionadas à aquisição de medicamentos incluindo as realizadas pelo Fundo Estratégico da Opas.
A OMS informou à Opas que Farmanguinhos terá de enviar nova solicitação a fim de pré-qualificar o produto. Segundo o documento, não será preciso incluir os componentes de eficácia e segurança, mas será viável referenciar os dados fornecidos pela Cipla nos dossiês pré-qualificados. Se houver possibilidade de novos dados clínicos, será necessário prover tais evidências. Em caso de mudanças na fonte ou processo de fabricação do princípio ativo, será preciso completar um novo módulo, a fim de justificar diferenças em comparação com os dossiês fornecidos pela Cipla.
Por outro lado, o Complexo Tecnológico de Medicamentos (CTM), local em que está instalada a planta de produção de Farmanguinhos, será submetido a uma inspeção de pré-qualificação da OMS. O ASMQ brasileiro é registrado na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), considerada uma autoridade regulatória de referência para a Opas. Além disso, a Opas enfatiza que a Anvisa já concedeu o certificado de cumprimento de Boas Práticas de Fabricação (BPF) a Farmanguinhos, o que confirma a excelência da qualidade do Instituto.
De acordo com o documento emitido pela Opas, a organização busca fortalecer as autoridades reguladoras nacionais de medicamentos e produtos biológicos, como a Anvisa, por exemplo. A entidade programa iniciativas para reconhecer a capacidade dessas agências regulatórias na tomada de decisões relacionadas à aquisição de medicamentos incluindo as realizadas pelo Fundo Estratégico da Opas.
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