7.30.2013

Embrapa usa microrganismos para medicamentos

Agência Brasil .

Pesquisa manipula bactérias, vírus e fungos que podem ser benéficos à saúde.
[ i ] O tratamento de tumores será beneficiado com o uso de medicamentos inteligentes
São Paulo - As armas biológicas, com seus efeitos devastadores e desconhecidos pela maioria dos pesquisadores e cientistas podem ser consideradas as mais temidas existentes. Ao serem transformados geneticamente em laboratórios, vírus e bactérias tornam-se mais resistentes aos tratamentos médicos. Ao mesmo tempo, esses microrganismos podem matar ou incapacitar pessoas, animais e plantas.
A história mostra que o uso desse tipo de arma não é recente. Na Antiguidade, exércitos usavam cadáveres em estado de putrefação para contaminar o abastecimento de água de uma cidade ou jogavam por cima das muralhas inimigas cadáveres de vítimas de varíola ou de peste bubônica.
O aspecto mais sombrio e negativo de micro-organismos foi mostrado no filme ‘Anthrax - A Arma Terrorista’. A bactéria antrax é roubada de um laboratório de pesquisas agrícolas deixando uma comunidade aterrorizada, já que uma pequena dose do bacillus anthracis - nome científico - é suficiente para devastar a população de uma cidade inteira.
Em Jaguariúna (SP), ao contrário do roteiro do filme, vírus e bactérias têm a capacidade de tornar-se produtos benéficos para o ser humano. Corantes, cosméticos para clarear a pele, herbicidas, antibióticos para combater bactérias resistentes e remédios para tratamento de câncer são alguns dos produtos que podem ser desenvolvidos a partir de fungos, bactérias, vírus e leveduras, itens da primeira coleção de micro-organismos implementada pela Embrapa Meio Ambiente.
“É um tesouro, matéria-prima para a descoberta de novos materiais bioativos, fármacos, produtos para a agricultura, para a medicina, para os cosméticos. Esses microrganismos têm demonstrado seu potencial e são avaliados aqui no laboratório”, explica o curador da coleção, o pesquisador Itamar Melo.
Genética
O banco de recursos genéticos reúne microrganismos de ecossistemas como Amazônia, Caatinga, Mata Atlântica e a Antártida. Os materiais são preservados em refrigeradores e cilindros com nitrogênio líquido em temperaturas de até 180 graus negativos. Nessas condições, a coleção pode ser mantida por até 100 anos.
Segundo o pesquisador, os micro-organismos são retirados de plantas, algas e pedaços do solo e aproveitados para estudos em diversas áreas. A coleção também preserva o material genético de plantas em extinção e identifica fungos e bactérias desconhecidos.
A pesquisa com bactérias e fungos retirados de áreas da Antártida mostrou que esses materiais são resistentes aos raios ultravioleta e podem produzir filtros solares mais resistentes. As áreas são escolhidas a partir de seu potencial, como a resistência à falta de água nos solos da Caatinga.
“Nós temos trabalhado há mais de dez anos com a Mata Atlântica, atualmente (trabalhamos) com a Caatinga, onde temos interesse em buscar microrganismos tolerantes à seca. Pesquisamos as cactáceas que sobreviveram a esta última seca, uma das mais intensas dos últimos 50 anos”, diz Melo.
O próximo passo da pesquisa é identificar microrganismos de outros biomas brasileiros, como o Cerrado e o Pantanal. Para que os produtos cheguem ao consumidor, indústrias devem manifestar interesse em desenvolver a tecnologia. Atualmente, um herbicida com ação menos tóxica ao meio ambiente já é produzido a partir de bactérias da coleção de microrganismos preservados pela Embrapa.
Em termos de cosméticos, o grupo Boticário investe 2,5% de seu faturamento anual em pesquisas. A empresa trabalha com estudos no setor desde 2002 e já tem no mercado produtos anti-idade e filtros solares que reduzem as rugas. Com a evolução das pesquisas, é possível fazer com que minúsculas partículas de ingredientes ativos penetrem nas camadas da pele de acordo com a necessidade de cada uma delas.
Ciência prevê fim de comprimidos e agulhas
A nanociência, representada em filmes como o Homem de Ferro 3 e A Viagem Fantástica, deixou as telas de cinema para tornar-se realidade, por exemplo, na pesquisa de novos medicamentos para tratamento de diabetes, dores crônicas, náuseas, hipertensão e anticoncepcionais.
Em 1940, o cientista Albert Sabin, criador da vacina contra a poliomielite, já pesquisava o uso de nanopartículas de ouro no tratamento de reumatismo.
A tecnologia avançada permitirá que pacientes não precisem mais ingerir medicamentos em forma de comprimidos ou aplicar injeções. Já estão no mercado os remédios transdérmicos, administrados por aplicações diretas ou por adesivos que liberam a substância de modo constante.
A principal vantagem é a de eliminar ou reduzir os efeitos colaterais. “Em pouco tempo, não vamos precisar tomar mais nada por via oral. No futuro, todos os medicamentos serão transdérmicos”, diz o professor de biotecnologia no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, Marco Botelho.
Drogas inteligentes para tumores
Segundo o professor de biotecnologia no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, Marco Botelho, há estudos para que a aplicação de insulina em pacientes com diabetes dispense o uso de agulha para dar lugar ao remédio transdérmico.
O tratamento de tumores também pode ser beneficiado, com o uso de medicamentos inteligentes, em doses muito menores, que reconhecem e atacam diretamente o tecido doente. Tudo isso é fruto da nanotecologia, explicou.
O avanço nos estudos da ciência também abriu caminho para os nanocosméticos. Atualmente, o setor empresarial já oferece produtos de preenchimento de rugas por meio de micropartículas de rejuvenescimento, protetor solar mais potente e maquiagem com brilho diferenciado.
A Agência Brasileira de Inovação - antiga Finep - tem em curso uma chamada pública no valor de R$ 30 milhões para o desenvolvimento de produtos ou processos inovadores. O edital voltado para a nanotecnologia prevê R$ 8 milhões em pesquisas na área de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos.
De acordo com o coordenador de micro e nanotecnologias do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Flávio Plentz, o Brasil é o segundo mercado de produtos cosméticos e de higiene pessoal no mundo. “É uma área de muito sucesso. Temos várias empresas produzindo e comercializando produtos na área de nanocosméticos. Tem muitos grupos de pesquisas ativos e é uma área que tem impacto econômico muito grande”, analisa.

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