8.05.2013

Após reocupação, RJ permite que índios permaneçam em antigo museu

Secretária de Cultura pediu saída da PM do local e terá reunião nesta terça.
Segundo ela, tombamento do imóvel será assinado nos próximos dias.



Gabriel Barreira Do G1 Rio

16 comentários


Índios fizeram fogueira dentro de antigo museu no Maracanã (Foto: Gabriel Barreira / G1)Índios fizeram fogueira dentro de antigo museu no Maracanã (Foto: Gabriel Barreira / G1)
Os gritos de "Aldeia resiste", ouvidos em quase todas as manifestações no Rio, se materializaram nesta segunda (5). Um protesto que comecou às 16h30 virou festa quando a secretária de Cultura do estado, Adriana Rattes, deixou às 19h30 o antigo Museu do Índio, chamado de "Aldeia Maracanã" pelos indígenas, pedindo a saida dos policiais militares que faziam a segurança do local. Fisicamente, o lugar que havia sido invadido mais cedo era ocupado oficialmente e, aparentemente, de modo definitivo. A autoridade permitiu que os índios passassem a noite e adiantou que o local será transformado em um centro cultural indígena. A vigília, no entanto, será exceção, já que o centro não poderá servir de moradia. Nos próximos dias, ainda segundo ela, o tombamento do antigo Museu do Índio será assinado pelo governador Sérgio Cabral.
Antes disso, líderes de 18 etnias, a própria Rattes e outras autoridades vão definir como o espaço será gerido, numa reunião que vai acontecer nesta terça (6). A proposta inicial do governo era ter por trás uma organização pública ou não-governamental, mas a ideia é refutada pelo advogado Aarão da Provicência, que defende algumas das tribos.
"Eles querem que tenha uma ONG (na gestão), já foi falado o nome de Darcy Ribeiro, mas essa discussão não passa aqui. Se não houver protagonismo indígena na gerência e no pensamento desse centro, não faz sentido" disse Aarão.
Após a invasão de cerca de 10 índios, o grupo de cerca de 50 pessoas que ficou do lado de fora teve a entrada liberada. O comandante do 4º BPM (São Cristóvão), coronel Ronald Santana, chegou a negociar a saída de manifestantes, enquanto um advogado do grupo defendia a permanência no prédio.
Demolições suspensas
Nesta segunda, o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, anunciou que a Escola Municipal Friedenreich não será mais demolida, para obras da Copa do Mundo no entorno do Complexo do Maracanã. A instituição era apontada como uma das melhores do ensino no Rio. Cabral já havia desistido de demolir o Estádio de Atletismo Célio de Barros e Parque Aquático Júlio Delamare, também no Maracanã, na semana passada. As demolições foram alvos de protestos no Rio.

 Índios invadem o prédio ao lado do Maracanã no Rio de Janeiro, nesta segunda-feira (5) (Foto: Celso Pupo/Fotoarena/Folhapress)No topo do prédio, cerca de 10 índios entoavam
cânticos (Foto: Celso Pupo/Fotoarena/Folhapress)
Entenda o caso
Indígenas desocuparam o antigo Museu do Índio em março, após confronto com o Batalhão de Choque da Polícia Militar. Os PMs utilizaram spray de pimenta e gás lacrimogêneo para dispersar o grupo.Manifestantes revoltados, muitos com os rostos pintados, ocuparam as vias no entorno e bloquearam a Radial Oeste nos dois sentidos. Antes do confronto, a PM tentou negociar a desocupação do museu.

Entre os manifestantes havia estudantes, integrantes de grupos sociais e até ativistas do Femen. Uma delas, de seios de fora, foi detida pouco antes da invasão. Revoltada, ela gritava "assassinos". O fotógrafo do jornal "O Globo" Pablo Jacob foi atingido na perna por granada de efeito moral.

  •  
Antigo Museu do Índio volta a ser ocupado no Maracanã, Rio. Polícia Militar negocia saída de manifestantes do prédio. (Foto: Reynaldo Vasconcelos/Futura Press/Estadão Conteúdo)Polícia Militar negocia saída de manifestantes (Foto: Reynaldo Vasconcelos/Futura Press/Estadão Conteúdo)
A polêmica sobre o destino do espaço começou em outubro de 2012, quando o governo do estado anunciou mudanças no entorno do Maracanã, para que o estádio pudesse receber a Copa das Confederações, em 2013, a Copa do Mundo, em 2014, e a Olimpíada, em 2016.
Pelo projeto da Casa Civil, o Maracanã seria transferido para a iniciativa privada, que deveria construir um estacionamento, um centro comercial e áreas para saída do público. Para isso, alguns prédios ao redor do estádio deveriam ser demolidos, entre eles o casarão do antigo Museu do Índio, que funcionou no local de 1910 até 1978.
O edifício com área de cerca de 1.600 m² está desativado há 34 anos. O grupo de indígenas que ocupava o prédio  estava no local desde 2006. Eles batizaram o museu de "Aldeia Maracanã". Esse ano, no entanto, a 8ª Vara Federal Cível do Rio de Janeiro concedeu imissão de posse em favor do governo estadual. Os índios foram notificados em 15 de março.

Nenhum comentário: