Especialistas dizem que as técnicas de diagnóstico não reduzem mortalidade e podem levar a falsos positivos, expondo pacientes a cirurgias desnecessárias
Guilherme Rosa
Métodos para diagnosticar o câncer de ovário podem levar a cirurgias desnecessárias
(Thinkstock)
Por sua localização, o câncer de ovário é extremamente difícil de detectar, impedindo o diagnóstico precoce. Os exames normalmente usados para descobrir sua presença são a análise do sangue para encontrar marcadores biológicos vinculados ao câncer e a ultrassonografia dos ovários. No entanto, quando aplicados em mulheres saudáveis, eles não reduzem a mortalidade da doença.
Além disso, estes procedimentos produzem muitos falsos positivos, que podem levar a cirurgias desnecessárias. "Não existe um método eficaz de detecção do câncer de ovário que permita reduzir a mortalidade", afirma Virginia Moyer, presidente do grupo. "De fato, uma grande porcentagem das mulheres que passam pelos testes recebem resultados positivos falsos e podem passar por cirurgias desnecessárias."
Recomendações parecidas já foram feitas por outras entidades americanas, como a American Cancer Society e o American Congress of Obstetricians and Gynecologists. No Brasil, nenhum dos procedimentos é recomendado pelo Ministério da Saúde ou pelo Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).
Os cientistas recomendam que os testes só devem ser feitos em mulheres que apresentem sintomas da doença ou mutações em genes ligados ao câncer, como o BRCA 1 e o BRCA 2. Nesses casos, eles podem ajudar os médicos a acompanharem os resultados do tratamento e o avanço da doença.
O câncer de ovário é bastante raro. No Brasil, o Instituto Nacional de Câncer estima que teremos 6.190 novos casos em 2012. Em 2010, 2.979 mulheres morreram por causa da doença.
Opinião do especialista
Jesus Paula Carvalho
Chefe da equipe do de ginecologia oncológica do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo e professor da Faculdade de Medicina da USP
Chefe da equipe do de ginecologia oncológica do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo e professor da Faculdade de Medicina da USP
"Não existe nenhum método de diagnóstico precoce do câncer de ovário que seja recomendado. Não conheço nenhum país do mundo que recomende o teste de sangue e o ultrassom em mulheres saudáveis. Infelizmente, quando uma mulher nos pergunta se existe algum modo de detectar o câncer antes dele se espalhar, nosso resposta é negativa.
"Quando a mulher percebe os sintomas do câncer de ovário, ela já está em estágio avançado da doença. O tratamento deve ser cirúrgico e quimioterápico. Na mulher com os sintomas, esses testes de sangue e ultrassonografia têm validade para confirmar o diagnóstico e para orientar os médicos durante o tratamento.
"Em junho de 2011 foi realizado um estudo com 79.000 mulheres, para testar os métodos de rastreamento de câncer. Por causa deles, 1.800 das voluntárias tiveram de passar por cirurgia para tratar o câncer de ovário. No entanto, não houve nenhuma diferença na mortalidade por conta da doença entre as pacientes que fizeram parte do estudo e as que não fizeram. Mais de uma centena de mulheres tiveram complicações por causa da cirurgia.
"Pelo menos 10% dos casos de câncer de ovário são causados por alterações genéticas e estão ligados ao histórico familiar. Quando uma mulher tem história familiar sugestiva, com parentes que tenham tido esse tipo de câncer, ela passa a ser suspeita de ter a mutação nos genes. O ideal é que ela procure por aconselhamento genético. Se a mulher tiver uma mutação comprovada, os médicos irão recomendar a remoção do ovário.
"O câncer de ovário mais comum é causado pelo carcinoma seroso de alto grau. Durante décadas, os pesquisadores acharam que ele surgia no ovário. De alguns anos para cá, no entanto, novos estudos têm mostrado que a célula que dá origem ao carcinoma surge na tuba uterina. Quando o câncer chega no ovário, ele já está em metástase. Esse é um conhecimento muito novo, é a nova fronteira da pesquisa contra o câncer de ovário. Talvez o caminho para um método de prevenção seja a busca de mutações genéticas na tuba uterina. Acredito que nos próximos anos vão surgir testes moleculares para encontrar o câncer de ovário antes dele entrar em metástase."
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