Alimentada por desconfianças e ameaças, a relação entre a presidenta e o PT nunca foi tão tensa. Envolvidos na contenda política torcem para que diálogos entre Dilma e Lula possam levar a um consenso sobre 2014
Josie Jeronimo e Paulo Moreira Leite
É A POLÍTICA
Quando querem fustigar a presidenta Dilma Rousseff,
petistas contrariados disseminam o “Volta, Lula”
Quando querem fustigar a presidenta Dilma Rousseff,
petistas contrariados disseminam o “Volta, Lula”
Traduzido para o universo político, o
conhecido ditado “em casa onde falta pão todo mundo briga e ninguém tem
razão” aplica-se perfeitamente às relações atuais entre a presidenta
Dilma Rousseff e o Partido dos Trabalhadores. Escalpelados pelos
protestos de junho, que jogaram no lixo a perspectiva de uma reeleição
fácil em outubro do ano que vem, o governo e o PT alimentam um
cotidiano de desconfianças, ameaças, jogo duplo e críticas amargas.
Por trás de gestos de boas maneiras e cortesia formal, o Palácio do Planalto tem sido assombrado, nos últimos dias, por um velho fantasma petista. Prefeita de São Paulo entre 1989 e 1993, a atual deputada Luiza Erundina (PSB-SP) entrou para os anais petistas como símbolo de autoridade desgastada e incompreendida pelo próprio partido, a quem hoje acusa de ter sabotado seus esforços para firmar um perfil duradouro a sua gestão, inclusive com a criação da passagem gratuita para ônibus, que teria tanta importância nos protestos de duas décadas depois. No Planalto, teme-se que isso ocorra também com Dilma.
Por trás de gestos de boas maneiras e cortesia formal, o Palácio do Planalto tem sido assombrado, nos últimos dias, por um velho fantasma petista. Prefeita de São Paulo entre 1989 e 1993, a atual deputada Luiza Erundina (PSB-SP) entrou para os anais petistas como símbolo de autoridade desgastada e incompreendida pelo próprio partido, a quem hoje acusa de ter sabotado seus esforços para firmar um perfil duradouro a sua gestão, inclusive com a criação da passagem gratuita para ônibus, que teria tanta importância nos protestos de duas décadas depois. No Planalto, teme-se que isso ocorra também com Dilma.
Há duas semanas, convencida de que os petistas queriam colocar “uma faca em seu pescoço” e forçar mudanças de rumo na política econômica e na estratégia eleitoral de 2014, a começar pela aliança com o PMDB, a presidenta Dilma cancelou, na última hora, sua presença num encontro do Diretório Nacional petista, instância máxima de decisão do partido. A ausência provocou uma reação imediata, que incluiu um discurso indignado do ex-ministro José Dirceu e uma inesperada cena de choro por parte de Sebastião Rocha Filho, um dos mais antigos e influentes dirigentes do partido. Cinco dias depois, Dilma repetiu a atitude. Não compareceu a um encontro marcado previamente com a bancada do PT no Senado, instituição que se transformou numa fortaleza de resistência, depois que a Câmara foi capturada pela oposição. A presidenta alegou, o que era verdade, que estava gripada e com forte dor de garganta. Em vez de remarcar um novo encontro para uma ocasião em que estivesse restabelecida, Dilma despachou as ministras Gleisi Hoffmann, da Casa Civil, e Ideli Salvatti, de Relações Institucionais, em seu lugar. Levados a debater seus pleitos num diálogo no qual todas as decisões estão sujeitas a referendo posterior da presidenta, mais uma vez os petistas sentiram-se desprestigiados e rebaixados.
O encontro da quarta-feira 31 tinha como pauta a nova esperança de reconciliação entre os petistas e o governo – o programa Mais Médicos – e por essa razão o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, ocupou o centro das atenções. Embora tenha sido forçado pelos protestos das entidades médicas a cancelar a ideia de ampliar a formação universitária de seis para oito anos, reduzindo também a residência para um ano, o Planalto não tem dúvidas de que a proposta de levar médicos para os municípios e bairros pobres vai trazer benefícios eleitorais a Dilma. “Se nós soubermos trabalhar, o programa vai polarizar o debate de 2014. Esse é um embate político que tem a nossa cara”, disse Padilha.
BOM DE BRIGA
Movimentos do deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP) esvaziaram
as principais ideias de Dilma Rousseff sobre a reforma política
Como a experiência demonstra, a perspectiva de manutenção do poder de
Estado sempre foi um dos principais lubrificantes de toda a atividade
política. Mas nem todas as diferenças entre o PT e o governo são fáceis
de resolver – algumas são até difíceis de esconder. O PT e a máquina de
entidades que influencia, a começar pela Central Única dos
Trabalhadores, está em campanha para obter 1,3 milhão de assinaturas de
apoio a um projeto de iniciativa popular para mudar as regras dos meios
de comunicação no País – proposta que provoca arrepios horrorizados no
Planalto. Em outro capítulo, na partilha de cargos, os petistas tiveram
direito a 17 ministros na Esplanada, o que não é nenhuma ninharia, mas
reclamam que nenhum deles tem autonomia para tomar decisões em sua área.
O Planalto responde que é assim mesmo: são ministros do governo Dilma e
não representantes do partido. Na política econômica, os petistas
aplaudiram a queda de juros, mas têm elevado suas queixas contra
concessões recentes aos empresários, como desonerações da folha de
pagamentos que trouxeram uma redução de tributos, embora nenhuma
contrapartida nos investimentos produtivos.
Movimentos do deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP) esvaziaram
as principais ideias de Dilma Rousseff sobre a reforma política
Queixando-se das frequentes desavenças com o Congresso, a presidenta costuma dizer que o PT precisa de um “síndico” para administrar sua bancada na Câmara de Deputados. O PT retruca apontando o dedo para o PMDB. Enquanto o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), propõe a votação de “pautas-bomba”, que têm forte impacto nas contas públicas, como a proposta de passe livre para estudantes no transporte público, os deputados do PT argumentam que os problemas com o Congresso nasceram justamente de uma decisão errada do Planalto, que em negociações realizadas logo depois da posse concordou em entregar aos aliados do PMDB, muito mais interesseiros do que se supunha, o comando do Senado e da Câmara ao mesmo tempo – situação que expõe o PT e o governo às facadas de ex-amigos. Do outro lado da trincheira, o Planalto se queixa de que os parlamentares do PT não deram o devido apoio à proposta de reforma política e ao plebiscito, permitindo a atuação do deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP) em movimentos que esvaziaram as principais ideias da presidenta. Neste caso, os petistas, que em sua maioria apoiam o plebiscito e a reforma política, estão de acordo.
Nesta selva de diferenças e conflitos, a ideia de “Volta, Lula,” é uma conversa que não tem valor de uso real, ao menos pelo momento, mas crescerá sempre que petistas descontentes quiserem atingir Dilma. No momento, no PT e no Planalto cresce a torcida para que novos diálogos entre Dilma e Luiz Inácio Lula da Silva possam levar a um maior entendimento em relação à campanha de 2014. É um esforço delicado por natureza. A intervenção de Lula não pode ser tão pequena a ponto de não produzir efeito. Nem tão grande a ponto de diminuir a presidenta.
Foto: Marlene Bergamo/folhapress
Fotos: Daniel Teixeira/ estadão conteúdo;
Roberto Castro/ ag. istoé; Renato Araújo/ ag. Brasil
Fotos: Daniel Teixeira/ estadão conteúdo;
Roberto Castro/ ag. istoé; Renato Araújo/ ag. Brasil
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