- Jornalista científica Kayt Sukel reune últimos estudos neurocientíficos sobre os relacionamentos humanos em livro
Flávia Milhorance
Homens e mulheres são mais parecidos quando o assunto é amor, sexo,
monogamia e desejo do que temos sido levados a acreditar. A jornalista
científica Kayt Sukel reuniu os melhores e últimos estudos
neurocientíficos sobre os relacionamentos humanos e até participou de
cobaia em alguns para escrever o livro americano “Sexo na Cabeça”, que
pode nos fazer mudar de ideia sobre alguns conceitos.
Costuma-se dizer que homens e mulheres têm abordagens diferentes com relação ao amor e aos relacionamentos. Você parece não concordar com isso. Por quê? E se não há diferenças biológicas, há sim as culturais, certo?
Existem muitos estereótipos quando o assunto é sexo e amor. Mulheres não estão apenas interessadas em relacionamentos seguros e monogâmicos, enquanto homens em sexo. Os novos estudos simplesmente não conseguem mostrar isto. Eles sugerem que as mulheres são tão propensas a se envolver em um caso extraconjugal quanto homens. Inclusive, elas têm mais orgasmos com novos parceiros (e não os monogâmicos). Eles também mostram que ambos têm estímulos e motivações similares. Quando assistem a filmes pornográficos, por exemplo, têm as mesmas taxas de excitação. A diferença é que tendem a ter diferentes focos de interesse numa mesma imagem. Existe diferença biológica, obviamente. Mas a abordagem para o sexo e o amor é mais parecida do que temos sido levados a acreditar.
Cientistas de todo o mundo buscam uma razão evolutiva para a monogamia humana. Dois novos estudos foram divulgados semana passada sobre o tema e cada um foi por um caminho, para mostrar o quão difícil é a questão. Qual é a sua opinião?
Não sei se as perguntas “a monogamia é natural?” ou “humanos são monogâmicos?” são as melhores a se fazer. Acho que está claro, a partir de pesquisas e experiências, que a monogamia é possível. Humanos formam laços fortes e duradouros entre si — e alguns permanecem tanto social quando sexualmente monogâmicos por longos períodos de tempo. Mas se observarmos os arganazes do campo (uma espécie de roedor), descobrimos que a monogamia social e a sexual não são sempre a mesma coisa. Embora possível, ela depende de fatores que vão além da pura biologia, tais como cultura, valores religiosos e oportunidade.
Para onde caminha a neurociência do amor? Seu livro conta que havia um certo constrangimento de se pedir financiamento para pesquisa sobre o tema há até pouco tempo.
Amor e sexo são motivadores primários, e seus estudos oferecem a oportunidade de se tentar responder às maiores questões da Humanidade e a desafiar vários estereótipos. Não é que eles se envergonhassem, mas com a limitação de financiamento para pesquisa, doenças neurológicas ou câncer são os que têm mais recursos. Eu não concordo com isso. Amor e sexo influenciam nossas vidas, trabalho e provavelmente também a propensão às doenças.
O cérebro pode confundir amor e desejo? Ou é o mesmo? O amor existe para a neurociência?
Pesquisas sugerem que há três diferentes, ainda que sobrepostos, sistemas que envolvem o amor: o hipotálamo para a luxúria, a área tegmental ventral para o amor romântico e o pálido ventral para a conexão. Como as áreas de diferentes aspectos do amor se sobrepõem, é possível confundir amor com desejo. E certamente a experiência nos mostra que isto é verdade! Mas sim, o amor existe. É um impulso. E é um imperativo biológico. Conexões sociais, incluindo o amor romântico, garantem que tenhamos parceiros para nos ajudar a procriar, criar nosso filhos, cuidar de nós — e todas as coisas necessárias para ajudar a espécie a sobreviver.
Por que você diz que não somos escravos dos nossos hormônios com relação ao sexo?
Enquanto escutamos, ainda jovens, que nossos hormônios influenciam tudo, eles não existem no vaco. Eles interagem com outros neuromoduladores para produzir nosso comportamento e podem ser inibidores. Até um macaco macho, que pode ter muito sexo sem compromisso, é capaz de negá-lo quando não é do seu interesse. Humanos têm lobos frontais muito grandes, que é a área da função executiva, de tomada de decisão. Enquanto nossos hormônios podem fazer sugestões sobre fazer sexo, nós sempre temos o poder de evitá-las se quisermos.
Quando cientistas começaram a aprofundar os estudos sobre genética, pensava-se que muitos dos nossos problemas estariam resolvidos (ou não). Mais recentemente, cientistas se depararam com o desafio da epigenética, em que o meio ambiente “liga” ou “desliga” os genes. Como isto influencia o amor?
A biologia não existe sem o meio ambiente. Eles estão intrinsecamente ligados e influenciam um ao outro em maneiras que ainda não compreendemos. O ambiente pode dizer aos nossos genes quando e quanto eles podem produzir de uma proteína. Sabendo que o amor é o produto de muitas proteínas — incluindo, digamos, quem interage com quem —, o estudo do amor pela epigenética pode nos ajudar a entender por que um parceiro nos deixa fora de órbita, enquanto outro é tão bom quanto, porém mais tranquilo.
Como foi sua experiência como parte dos testes, inclusive a do orgasmo?
Existem muitos experimentos interessantes na neurociência, mas é difícil entender o quão válidos eles são até participar deles. Por isso eu pensei que era importante me envolver. Para o estudo do orgasmo, foi um tanto surreal! Eu não tinha certeza se seria capaz de atingir um orgasmo no equipamento de ressonância magnética, mas pensei que a pesquisa seria bem interessante, assim como importante, então dei o melhor de mim. Depois eu até participei de mais dois estudos do tipo.
Você escreveu o livro depois que o seu casamento terminou. Como a ciência te ajudou? Você ficou mais pessimista ou otimista com o amor?
Definitivamente mais otimista! Na verdade, eu me casei de novo há algumas semanas. A ciência me ajudou a entender que não existe apenas uma forma de se apaixonar, de confiar mais em meus instintos. Muitas mulheres, inclusive eu, temos uma lista de características que esperamos de um parceiro. Depois de escrever o livro, eu a joguei fora. Em vez disto, eu decidi prestar mais atenção em como me sentia quando estava com alguém: a perceber como o meu corpo e minha menta interagiam e reagiam a ele. E quando eu encontrei meu atual marido, eu não pensava demais. Só deixei acontecer! E acho que isto fez toda a diferença.
Costuma-se dizer que homens e mulheres têm abordagens diferentes com relação ao amor e aos relacionamentos. Você parece não concordar com isso. Por quê? E se não há diferenças biológicas, há sim as culturais, certo?
Existem muitos estereótipos quando o assunto é sexo e amor. Mulheres não estão apenas interessadas em relacionamentos seguros e monogâmicos, enquanto homens em sexo. Os novos estudos simplesmente não conseguem mostrar isto. Eles sugerem que as mulheres são tão propensas a se envolver em um caso extraconjugal quanto homens. Inclusive, elas têm mais orgasmos com novos parceiros (e não os monogâmicos). Eles também mostram que ambos têm estímulos e motivações similares. Quando assistem a filmes pornográficos, por exemplo, têm as mesmas taxas de excitação. A diferença é que tendem a ter diferentes focos de interesse numa mesma imagem. Existe diferença biológica, obviamente. Mas a abordagem para o sexo e o amor é mais parecida do que temos sido levados a acreditar.
Cientistas de todo o mundo buscam uma razão evolutiva para a monogamia humana. Dois novos estudos foram divulgados semana passada sobre o tema e cada um foi por um caminho, para mostrar o quão difícil é a questão. Qual é a sua opinião?
Não sei se as perguntas “a monogamia é natural?” ou “humanos são monogâmicos?” são as melhores a se fazer. Acho que está claro, a partir de pesquisas e experiências, que a monogamia é possível. Humanos formam laços fortes e duradouros entre si — e alguns permanecem tanto social quando sexualmente monogâmicos por longos períodos de tempo. Mas se observarmos os arganazes do campo (uma espécie de roedor), descobrimos que a monogamia social e a sexual não são sempre a mesma coisa. Embora possível, ela depende de fatores que vão além da pura biologia, tais como cultura, valores religiosos e oportunidade.
Para onde caminha a neurociência do amor? Seu livro conta que havia um certo constrangimento de se pedir financiamento para pesquisa sobre o tema há até pouco tempo.
Amor e sexo são motivadores primários, e seus estudos oferecem a oportunidade de se tentar responder às maiores questões da Humanidade e a desafiar vários estereótipos. Não é que eles se envergonhassem, mas com a limitação de financiamento para pesquisa, doenças neurológicas ou câncer são os que têm mais recursos. Eu não concordo com isso. Amor e sexo influenciam nossas vidas, trabalho e provavelmente também a propensão às doenças.
O cérebro pode confundir amor e desejo? Ou é o mesmo? O amor existe para a neurociência?
Pesquisas sugerem que há três diferentes, ainda que sobrepostos, sistemas que envolvem o amor: o hipotálamo para a luxúria, a área tegmental ventral para o amor romântico e o pálido ventral para a conexão. Como as áreas de diferentes aspectos do amor se sobrepõem, é possível confundir amor com desejo. E certamente a experiência nos mostra que isto é verdade! Mas sim, o amor existe. É um impulso. E é um imperativo biológico. Conexões sociais, incluindo o amor romântico, garantem que tenhamos parceiros para nos ajudar a procriar, criar nosso filhos, cuidar de nós — e todas as coisas necessárias para ajudar a espécie a sobreviver.
Por que você diz que não somos escravos dos nossos hormônios com relação ao sexo?
Enquanto escutamos, ainda jovens, que nossos hormônios influenciam tudo, eles não existem no vaco. Eles interagem com outros neuromoduladores para produzir nosso comportamento e podem ser inibidores. Até um macaco macho, que pode ter muito sexo sem compromisso, é capaz de negá-lo quando não é do seu interesse. Humanos têm lobos frontais muito grandes, que é a área da função executiva, de tomada de decisão. Enquanto nossos hormônios podem fazer sugestões sobre fazer sexo, nós sempre temos o poder de evitá-las se quisermos.
Quando cientistas começaram a aprofundar os estudos sobre genética, pensava-se que muitos dos nossos problemas estariam resolvidos (ou não). Mais recentemente, cientistas se depararam com o desafio da epigenética, em que o meio ambiente “liga” ou “desliga” os genes. Como isto influencia o amor?
A biologia não existe sem o meio ambiente. Eles estão intrinsecamente ligados e influenciam um ao outro em maneiras que ainda não compreendemos. O ambiente pode dizer aos nossos genes quando e quanto eles podem produzir de uma proteína. Sabendo que o amor é o produto de muitas proteínas — incluindo, digamos, quem interage com quem —, o estudo do amor pela epigenética pode nos ajudar a entender por que um parceiro nos deixa fora de órbita, enquanto outro é tão bom quanto, porém mais tranquilo.
Como foi sua experiência como parte dos testes, inclusive a do orgasmo?
Existem muitos experimentos interessantes na neurociência, mas é difícil entender o quão válidos eles são até participar deles. Por isso eu pensei que era importante me envolver. Para o estudo do orgasmo, foi um tanto surreal! Eu não tinha certeza se seria capaz de atingir um orgasmo no equipamento de ressonância magnética, mas pensei que a pesquisa seria bem interessante, assim como importante, então dei o melhor de mim. Depois eu até participei de mais dois estudos do tipo.
Você escreveu o livro depois que o seu casamento terminou. Como a ciência te ajudou? Você ficou mais pessimista ou otimista com o amor?
Definitivamente mais otimista! Na verdade, eu me casei de novo há algumas semanas. A ciência me ajudou a entender que não existe apenas uma forma de se apaixonar, de confiar mais em meus instintos. Muitas mulheres, inclusive eu, temos uma lista de características que esperamos de um parceiro. Depois de escrever o livro, eu a joguei fora. Em vez disto, eu decidi prestar mais atenção em como me sentia quando estava com alguém: a perceber como o meu corpo e minha menta interagiam e reagiam a ele. E quando eu encontrei meu atual marido, eu não pensava demais. Só deixei acontecer! E acho que isto fez toda a diferença.
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