O jornalismo e a "Marcha da Família"
Eventos como o do fim de semana exigem reflexão e
cuidados por parte de repórteres e editores. Por José Antonio Lima
por José Antonio Lima
—
Joseh Silva
Cartaz exibido na "marcha da família" em São Paulo
A busca pela isenção e ouvir todos os lados de
uma história são dois princípios básicos do jornalismo, conhecidos por
todos profissionais de imprensa e exigidos pelos leitores, ouvintes e
telespectadores. É bom que seja assim, mas há limites para a isenção?
Alguns eventos indicam que sim. Um deles é a chamada "Marcha da
Família", reeditada no último fim de semana em cidades brasileiras.
Como mostram as diversas reportagens sobre as marchas, as manifestações tinham como norte o fim da democracia no Brasil. A ideia de romper o regime democrático para "salvá-lo" nunca deu certo na história da humanidade (inclusive no Brasil), mas os manifestantes têm pleno direito de defender tal aberração e a imprensa, de noticiar o fato caso considere relevante.
Algumas reportagens sobre a marcha, entretanto, têm um problema grave. Elas dão legitimidade a argumentos do tipo "o governo federal quer transformar a Unasul em um bloco comunista" e "Dilma Rousseff quer implantar uma ditadura comunista no Brasil". É certo que tais argumentos não foram parar nas reportagens por má fé de repórteres e editores. Estão lá porque os jornalistas agem pensando nesses princípios de busca por isenção e de ouvir todos os lados. Ocorre que esses dois ideais não podem ser implementados em detrimento de outro, talvez ainda mais básico: o de que as informações publicadas devem ser verdadeiras.
A possibilidade de ser usado é um risco permanente no ofício do jornalista. Empresários, políticos, esportistas, assessores etc buscam a todo tempo plantar notícias falsas para obter benefícios. Muitas vezes é difícil para o repórter ter certeza da veracidade das informações que recebe (para isso serve a apuração), mas no caso dos argumentos dos integrantes da "marcha" não cabe apuração. São mentiras clamorosas que, se publicadas, deveriam vir acompanhadas de contextualização ou de indicações mais sutis, como uma ironia, por exemplo, que transmitissem a verdade ao leitor. (Em julho passado, foi o que tentei fazer ao me deparar com outra "marcha da família", e o leitor está convidado a avaliar se a tentativa deu certo ou não).
Em outubro passado, o jornal norte-americano Los Angeles Times decidiu banir de sua página de cartas os textos de quem nega a influência das ações do homem no aquecimento global. Isso ocorreu, segundo o editor Paul Thonton, porque negar as mudanças climáticas não é uma opinião, mas sim um erro factual. Da mesma forma, não é uma opinião atribuir ao atual governo, aliado de ruralistas e figuras como José Sarney (PMDB-AP), a pecha de comunista, mas sim um erro, que pode ter lugar no submundo conspiratório das redes sociais e fóruns de internet, mas não na imprensa.
Como mostram as diversas reportagens sobre as marchas, as manifestações tinham como norte o fim da democracia no Brasil. A ideia de romper o regime democrático para "salvá-lo" nunca deu certo na história da humanidade (inclusive no Brasil), mas os manifestantes têm pleno direito de defender tal aberração e a imprensa, de noticiar o fato caso considere relevante.
Algumas reportagens sobre a marcha, entretanto, têm um problema grave. Elas dão legitimidade a argumentos do tipo "o governo federal quer transformar a Unasul em um bloco comunista" e "Dilma Rousseff quer implantar uma ditadura comunista no Brasil". É certo que tais argumentos não foram parar nas reportagens por má fé de repórteres e editores. Estão lá porque os jornalistas agem pensando nesses princípios de busca por isenção e de ouvir todos os lados. Ocorre que esses dois ideais não podem ser implementados em detrimento de outro, talvez ainda mais básico: o de que as informações publicadas devem ser verdadeiras.
A possibilidade de ser usado é um risco permanente no ofício do jornalista. Empresários, políticos, esportistas, assessores etc buscam a todo tempo plantar notícias falsas para obter benefícios. Muitas vezes é difícil para o repórter ter certeza da veracidade das informações que recebe (para isso serve a apuração), mas no caso dos argumentos dos integrantes da "marcha" não cabe apuração. São mentiras clamorosas que, se publicadas, deveriam vir acompanhadas de contextualização ou de indicações mais sutis, como uma ironia, por exemplo, que transmitissem a verdade ao leitor. (Em julho passado, foi o que tentei fazer ao me deparar com outra "marcha da família", e o leitor está convidado a avaliar se a tentativa deu certo ou não).
Em outubro passado, o jornal norte-americano Los Angeles Times decidiu banir de sua página de cartas os textos de quem nega a influência das ações do homem no aquecimento global. Isso ocorreu, segundo o editor Paul Thonton, porque negar as mudanças climáticas não é uma opinião, mas sim um erro factual. Da mesma forma, não é uma opinião atribuir ao atual governo, aliado de ruralistas e figuras como José Sarney (PMDB-AP), a pecha de comunista, mas sim um erro, que pode ter lugar no submundo conspiratório das redes sociais e fóruns de internet, mas não na imprensa.
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