Será mesmo que existem amores tão absolutos que
conseguem superar até a própria morte? Não me refiro às paixões eternas,
pois tudo é muito móvel no universo, mas a amores profundos que
expressam vínculos fortes entre dois seres que, de repente, podem passar
por uma indesejável separação.
A situação que vou relatar me levou a crer que existem
sim esses amores, e não só nos romances ou nas novelas adocicadas. Era
começo de tarde, segunda-feira silenciosa, com jeito de Quaresma. Toca o
telefone.
Atendi e uma voz hesitante pediu-me informações sobre
uma consulta de vidência. Percebi de imediato que a minha interlocutora
era uma moça em grande sofrimento, surpresa com o rumo que sua vida
havia tomado. Senti o pesar e a dor em sua voz quando ela comentou: “é
que ele se foi no dia 22. Tão pouco tempo, acho que você não pode fazer
nada por mim ainda”.
Discordei, porque percebi que o conforto que ela
necessitava deveria ser imediato. Indaguei: “foi seu marido? Ele
faleceu, abruptamente, como se tivesse levado um tiro, mas não foi
assim, né?”. Ela confirmou. Ele havia tido uma parada cardíaca
fulminante. Esse tipo de coisa que, quando ocorre, arrasta os mais
jovens sem deixar grande margem de escape.
A partir desse ponto, a conversa se tornou particular e,
portanto, sigilosa. Descrevi a personalidade dele, a vida que eles
estavam começando a construir e a trajetória espiritual que ele precisou
palmilhar depois da passagem tão súbita. Falando da situação eu sentia o
estabelecimento de um vínculo de sentimento com ele, na nova expressão
espiritual em que se encontrava.
Todos os dados que consegui desvendar estavam em acordo
com as circunstâncias. A despedida deles acabou por se fazer ali, comigo
intermediando, naquele telefonema. Agora, a cada um o seu caminho. Meu
pagamento? Foi o maior deles. Ajudar um casal que precisava de conforto:
ela aqui, ele noutra dimensão. Essa é sem dúvida a recompensa melhor,
auxiliar as pessoas a cumprirem adequadamente suas missões e resgates.
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