Recentemente, no entanto, recebi a
informação de familiares de que uma paciente também cometeu suicídio.
Ela foi diagnosticada com câncer de pulmão, já espalhado para o fígado.
Estava fazendo exames preliminares para iniciar a quimioterapia. Não
chegou a receber a primeira dose do tratamento. Infelizmente ela morreu
tragicamente.
Apesar de não ser uma ocorrência muito
comum, o suicídio de pacientes com diagnóstico de tumores malignos é um
risco real. O estresse psicológico da doença e a perspectiva de
sofrimento, muitas vezes não realística, podem levar alguns pacientes a
considerar seriamente em terminar com a própria vida.
Um grupo de cientistas do Instituto
Karolinska, em Estocolmo, na Suécia, associado a colaboradores da
Universidade Harvard, nos EUA, recentemente publicaram um estudo extenso
na prestigiosa revista médica New England Journal of Medicine.
Durante mais de 15 anos, eles avaliaram
mais de 6 milhões de suecos para determinar a possível associação com o
diagnóstico de câncer e a morte precoce por doenças cardiovasculares ou
suicídio. Comparados com as pessoas sem câncer, os pacientes com
diagnóstico de tumores malignos tiveram risco significativamente elevado
de suicídio. Observaram que o risco de um paciente cometer suicídio, na
primeira semana após o diagnóstico, era 12 vezes maior que a população
normal, e no primeiro ano era três vezes maior.
Em cada mil pessoas que saíram do
consultório médico com a notícia de serem portadores de um câncer,
estima-se que 2,5 pacientes acabem com a própria vida nos sete dias
seguintes ao diagnóstico. Nesse mesmo estudo, houve também um aumento de
mais de cinco vezes do risco de essas pessoas terem infarto. Os
pesquisadores não incluíram nesse estudo estatísticas sobre pacientes
que tentaram se matar, porém sem sucesso. Somente os óbitos confirmados
foram analisados.
O fator que mais impactou
o risco de morte precoce foi a informação de câncer avançado,
disseminado pelo corpo. Exatamente o que a paciente acima teve. Por
outro lado, à medida que o tempo passa e os tratamentos se sucedem, os
pacientes apresentam uma queda drástica do risco de suicídio.
Os elevados números de mortes, ocorrendo
imediatamente após o diagnóstico de câncer, foram considerados um alerta
para as autoridades de saúde pública, assim como para os oncologistas.
Recomenda-se rever as rotinas de abordagem dos pacientes nos centros de
oncologia. A atenção relativa a problemas básicos psicológicos ou
psiquiátricos devem fazer parte integrante da avaliação clínica dos
doentes com câncer. A percepção de traços importantes de depressão ou de
estresse emocional deverá ser o alerta para considerar acompanhamento
psiquiátrico precoce.
Atualmente, a Organização Mundial da
Saúde determinou que suicídios são, na maior parte das vezes, evitáveis.
É obrigação de médicos e familiares atentarem aos momentos de maior
fragilidade para proteger os pacientes com câncer mais vulneráveis.
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