Pesquisa da USP estuda como canabidiol, componente da maconha, combate a insônia
Por
Maria Fernanda Ziegler- iG São Paulo
Voluntários
terão atividade cerebral medida após ingestão de comprimido de
canabidiol; a partir de resultados, uso pode ser alternativa a
medicamentos contra insônia e distúrbios do sono
A
Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP vai estudar os
efeitos do canabidiol (CDB), um dos componentes da maconha, no sono.
Este será o primeiro estudo realizado no Brasil para testar os efeitos
do canabidiol no sono e para isto, os pesquisadores estão buscando 40
voluntários saudáveis com idade mínima de 18 anos para participar do
estudo. A pesquisa tem como objetivo entender como o canabidiol
age no cérebro e na chamada arquitetura do sono. Os testes serão feitos
em duas noites: em uma, os voluntários tomarão o comprimido de
canabidiol, substância isolada da maconha, e, na outra, um placebo.
Getty Images
Pesquisadores quem entender como canabidiol atua no cérebro e melhorar a qualidade do sono
“Ainda
não se sabe como o canabidiol atua no cérebro e interfere no sono. O
objetivo destes primeiros testes é ver se ocorre diferença no padrão de
sono. Pesquisas realizadas em outros países sugerem que o canabidiol
melhora a qualidade do sono”, diz a psicóloga Ila Linares, que fará o
estudo como tese de doutorado.
Veja: MPF vai à Justiça para liberação de canabidiol no Brasil A
segunda fase do estudo será feita com voluntários que têm insônia
primária, para então compreender como o composto melhora a qualidade do
sono. Para José Alexandre de Souza Crippa, orientador do estudo, o
mais interessante da pesquisa é que os resultados podem fazer com que o
canabidiol seja uma alternativa aos medicamentos contra insônia e
outros distúrbios do sono. “Existe uma parcela grande da população
com insônia e existem medicamentos indutores do sono. Porém as drogas
para insônia podem causar tolerância”, disse. Ele ressalta que o
canabidiol não causa tolerância, dependência, nem alteração cognitiva ,
como problemas na memória ou atenção Estudos realizados em
humanos e em animais mostraram que o composto melhora a qualidade do
sono. "Um estudo que fizemos com pacientes com parkinson, que geralmente
apresentam distúrbios do sono, mostrou que 70% apresentou melhora na
qualidade do sono", disse Crippa. Leia também:'Fumei maconha para amenizar dor e náuseas durante a quimioterapia' O
canabidiol, assim como outros componentes da maconha, é uma substância
proibida no Brasil. Para fazer pesquisa com o uso destes componentes no
País é preciso a autorização da Anvisa. “Normalmente não demora muito
para conseguir a liberação da pesquisa. Temos conseguido fazer estudos
nesta área”, diz Crippa. A maconha contém mais de 480 componentes,
sendo que 86 são os chamados canabinoides que atuam no cérebro. Os mais
estudados são o delta- 9 - tetrahidrocanabinol, que produz efeitos
alucinógenos, em doses altas, e o canabidiol que protege o cérebro dos
efeitos do THC. O grupo do professor no Departamento de
Neurociências e Ciências do Comportamento da Faculdade de Medicina de
Ribeirão Preto (FMRP) da USP é o que mais estuda o canabidiol no Brasil.
Os pesquisadores já fizeram estudos sobre os efeitos do CDB em
pacientes com Parkinson, ansiedade, fobia social, esquizofrenia,
epilepsia, dependência de craque e até no tratamento de uma viciada em
maconha. “Acredito que em breve, no máximo no ano que vem, o CDB será liberado”, disse. Este
ano o assunto ganhou repercussão depois que o juiz da 3ª Vara Federal
do Distrito Federal, autorizou uma mãe a importar um remédio com
princípio ativo do canabidiol. O medicamento não tem venda permitida no
Brasil e era importado ilegalmente por Katiele Fischer para tratar
crises convulsivas da filha de 5 anos. Desde abril, a agência autorizou
37 dos 59 pedidos de importação de medicamentos a base de canabidiol
(CBD). Interessados em participar da pesquisa devem procurar o
Departamento de Neurociências e Ciências do Comportamento da Faculdade
de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP). Veja erros que estragam o sono:
É
um erro beber café ou outras bebidas que contenham cafeína. A cafeína é
estimulante e manda o sono embora. Foto: Thinkstock/Getty Images
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