9.16.2010

Especialista diz que a creatina está liberada para qualquer pessoa.

Não é necessário ser atleta para consumir creatina, prega lobby

Suplementos com creatina, composto que aumenta a massa muscular, podem ser usados por qualquer pessoa.

A opinião é do pesquisador em Ciências do Esporte Melvin Williams, da Universidade Old Dominion, Virginia, Estados Unidos.

Ele estará no Brasil entre os dias 20 e 27 para um simpósio promovido por uma marca de suplementos.

"A substância é eficaz para quem quer ou precisa ganhar massa muscular. É indicada até para idosos", disse Williams em entrevista à Folha.

De acordo com ele, estudos comprovam que a creatina ajuda a tratar distrofias musculares. "Há muitos mitos sobre o suplemento."

A creatina é um composto de aminoácidos presentes em fibras musculares e sintetizado pelo corpo humano.

A venda da substância em suplementos alimentares era proibida pela Anvisa até abril deste ano. A liberação veio acompanhada de duas ressalvas: o produto deve ser consumido apenas por atletas de alta performance e a ingestão diária não deve ultrapassar três gramas.

"Atleta de alta performance é meio porcento da população. Eu indicaria para qualquer pessoa que está na academia e quer ganhar massa muscular", afirma Turíbio Leite de Barros Neto, médico fisiologista da Unifesp, que também vai participar do simpósio patrocinado pela fabricante de suplementos.

Para ele, tem-se uma ideia errada do papel da creatina. "Não é bomba, não é medicamento. Produzimos creatina a partir da ingestão de carne, mas nem sempre a dieta atende a necessidade muscular da substância, por isso indico suplementação."

Mas ninguém discorda que uso excessivo da creatina causa sobrecarga renal.

Pesquisa da Universidade Estadual do Rio de Janeiro publicada na revista "História, Ciências e Saúde", da Fiocruz, mostrou que a substância é uma das mais populares entre fisiculturistas.

"Eles acabam trocando a comida por um suplemento, quando muitas vezes apenas uma dieta equilibrada seria suficiente", diz a nutricionista Maria Cláudia Soares Carvalho, uma das autoras.

Para o educador físico Reinaldo Bassit, professor da USP, mais perigoso do que ultrapassar o limite de ingestão diária é consumir o suplemento sem saber sua origem e a forma como é conservado.

"Há vários graus de pureza do produto. É preciso saber se só há creatina ou há também substâncias como a creatinina, resultado da degradação da substância."

A creatinina pode ser tóxica. Exposição ao calor, à luz ou umidade podem transformar a creatina em creatinina.

"É preciso saber a origem do suplemento de acordo com o lote e registro e checar se ele foi armazenado corretamente. Caso contrário, não vai fazer efeito", diz Bassit.
JULIANA VINES
Folha de São Paulo

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