Aos 25 anos, Sara Bentes canta, dança, escreve livros e viaja pelo mundo. A deficiência visual nunca foi empecilho para seu desenvolvimento“Nasci com um glaucoma congênito, decorrente de uma má-formação genética, sem precedentes em minha família. Por isso, tenho apenas 5% da visão, o que as pessoas chamam de baixa visão. Ao receber o diagnóstico, minha mãe, Elenita, buscou tratamentos e alternativas para que eu desenvolvesse a visão, mesmo com esse percentual. Faço diariamente exercícios com os olhos e, graças a isso, desenvolvi a capacidade de enxergar formas grandes e cores. No computador, consigo ler letras ampliadas. Não enxergar nunca foi um empecilho para meu desenvolvimento. Sempre estudei em escolas regulares, com pessoas que enxergavam. Os amigos de classe sempre me ajudaram e faziam questão de ler materiais para mim. Meus pais ampliavam mapas, provas.
Na adolescência, comecei a me interessar por música. Compunha, cantava e, por ter uma audição bem desenvolvida (o fato de não enxergar fez com que Sara explorasse outros sentidos do corpo), passei a tocar e a aprender música como autodidata. Hoje, toco piano erudito, violão e oboé. Ao ver que eu tinha talento, meu pai, dentista de profissão e músico amador, começou a me levar para cantar em festivais. Canto MPB, choro e samba, e meu trabalho tem influências de Tom Jobim, Caetano Veloso, Chico Buarque e Noel Rosa. Para melhorar minha performance no palco, fui estudar teatro e dança. Muitas pessoas se impressionam com minha desenvoltura e ficam pasmas com o fato de eu não enxergar. O investimento em minha carreira artística rendeu bons frutos. Em 2003, ganhei o prêmio Rosemary Kennedy para Jovens Solistas, concurso internacional que reúne e premia artistas com deficiência de diversos países. Como vencedora, cantei no Kennedy Center, em Washington (EUA). Isso me abriu portas para outros festivais internacionais. Já cantei na Argentina, e passei três meses em Módena, na Itália, me apresentando com o coro do Festival de Música Antiga de Magnano. No Brasil, já cantei com artistas como Gilberto Gil, Flávio Venturini e Guilherme Arantes.
Entre novembro de 2005 e fevereiro de 2006, participei do projeto Percepções. Eu, uma menina surda e um cadeirante fizemos uma expedição de três meses por nove países da América Latina. Foi uma experiência única, pois entendi como é a vida de outras pessoas com deficiência. Nós nos complementávamos. Eles descreviam as paisagens para mim. E eu falava sobre a minha percepção dos sons do caminho. Me aventurei em esportes radicais, como parapente, snowboard e rafting. Tudo foi transmitido pelo programa Fantástico, da Rede Globo.
Ano passado, montei meu site, que eu mesma atualizo. Nele, as pessoas podem ver fotos, baixar minhas músicas e conhecer melhor meu trabalho. Com o advento da internet, meu trabalho se espalhou pelo mundo e qualquer um pode me ouvir. E quero, com esse meu trabalho, mostrar para as pessoas que a inclusão de indivíduos com deficiência é possível.”
Sara Bentes é cantora, dançarina e jornalista. Para conhecer mais o trabalho de Sara, visite www.sarabentes.com
Um comentário:
Fantástica essa menina, fantástica é a vida!
Um exemplo pra muita gente que vive reclamando de tudo e de todos...
Parabéns!
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