A grande cruzada pela saúde
Cem dos mais respeitados médicos do mundo anunciam plano para combater as principais doenças que atingem a humanidade. Em dez anos, espera-se poupar a vida de 36 milhões de pessoas
O plano, considerado a primeira grande cruzada pela saúde, foi organizado pela Aliança Mundial contra as Doenças – uma liga internacional formada por 100 dos mais importantes pesquisadores do planeta e quatro das mais respeitadas entidades médicas (Federação Internacional de Diabetes, União Internacional contra a Tuberculose e Doenças Pulmonares, União Internacional de Controle do Câncer e Fundação Mundial do Coração). É a primeira vez na história da medicina que se forma uma força-tarefa de tamanha magnitude.
Durante cinco anos, eles trabalharam na pesquisa das causas e dos melhores tratamentos disponíveis contra as quatro enfermidades. E concluíram que cinco fatores de risco estão por trás de todas elas. O tabagismo, o sedentarismo, o consumo exagerado de alimentos ricos em sal e em gorduras saturadas e trans (bastante prejudiciais) e a dificuldade de acesso aos remédios e tecnologias contribuem para o aumento de sua incidência e mortalidade de forma decisiva. “Por essa razão, esses foram os pontos que elegemos para atacar”, disse à ISTOÉ Martin McKee, diretor do Centro Europeu para a Saúde, ligado à Universidade de Londres, na Inglaterra, e um dos coordenadores do plano.
As medidas anunciadas são pontuais. Em relação ao tabagismo, por exemplo, os cientistas não propõem nada além do cumprimento da Convenção Internacional de Controle do Tabaco, um acordo mundial firmado em 2003 que prevê que até 2040 menos de 5% da população consuma cigarros. Outra meta é diminuir a ingestão diária de sal a cinco gramas (uma colher de chá) por pessoa até 2025. De acordo com os cálculos feitos pelos pesquisadores, reduzir em 15% o consumo do condimento pode evitar a morte de 8,5 milhões de pessoas em dez anos.
As estratégias para alcançar sucesso em cada uma dessas metas são variadas. Mas a maioria está baseada no uso de campanhas de massa orientando as pessoas e na pressão sobre governos e indústrias. Em relação aos primeiros, o que se espera, entre outras atitudes, é o empenho na aprovação de leis que elevem a tributação sobre produtos como cigarro e alimentos poucos saudáveis. E, no que se refere aos fabricantes, o que se exige é que passem a comercializar artigos mais saudáveis, reduzindo o teor de sal, por exemplo.
Para quem ponderar que a pressão e as campanhas, somente, podem ser ações de pouca eficácia, os médicos têm alguns contra-argumentos. “Podemos usar os motivos humanitários para que isso seja feito. As doenças causam um número enorme de mortes prematuras e deixam muitas pessoas debilitadas”, disse McKee. “Por outro lado, talvez tenhamos mais sucesso mostrando os argumentos do ponto de vista econômico”, complementou. De acordo com o médico, os custos do plano (cerca de US$ 9 bilhões por ano) são pequenos se comparados ao que se pode economizar com a diminuição no número de casos das doenças. “Gasta-se muito em hospitais e remédios, sem falar do que se perde em termos de produtividade”, afirmou. O plano será apresentado oficialmente dentro de cinco meses, durante um encontro a ser realizado pela Organização das Nações Unidas, em Nova York.
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