Mensagens deixadas pelo maníaco que matou 12 crianças em Realengo reforçam a necessidade de descobrir os 'irmãos' com quem ele conversava
Foto de Wellington Menezes de Oliveira divulgada pela Secretaria de Segurança do Rio de Janeiro que foi recuperada do computador da casa do assassino (Arquivo pessoal)
Como ser solitário não é sinônimo de ser único, as conexões e inspirações que colaboraram com a mente deteriorada e diabólica do criminoso não podem ser desprezadas. E a partir deste ponto não cabe mais a resposta de que “como era louco, tudo que dizia era loucura”
O melhor, no entanto, é que o encerramento do inquérito não signifique o fim da investigação – e, pelo menos por enquanto, o Departamento de Polícia Técnica parece determinado a esmiuçar a vida pregressa de Wellington Menezes de Oliveira.
O recluso criminoso gastava a maior parte de seu dia no mundo virtual. O que nos primeiros dias parecia um empecilho para o avanço da apuração, agora revela-se um facilitador. Os discos de computador, registros de internet e vídeos deixados por Wellington funcionam como uma grande documentação dos passos do autor de um crime sem precedentes na história do país.
Manoel Freitas Louvise é acusado de vender para o maníaco o revólver 38 usado para matar 12 crianças
Wellington agiu sozinho, diz a polícia. A despeito das referências desconexas sobre religião e da simpatia por fundamentalistas, não passava de um boçal que decidiu transformar uma vida de rejeição social em brutalidade.
Como ser solitário não é sinônimo de ser único, as conexões e inspirações que colaboraram com a mente deteriorada e diabólica do criminoso não podem ser desprezadas. E a partir deste ponto não cabe mais a resposta de que “como era louco, tudo que dizia era loucura”.
Os quatro vídeos divulgados pela Seretaria de Segurança do Rio na sexta-feira confirmam uma impressão já deixada por Wellington em suas outras mensagens. Wellington se dirige a pessoas que chama de “irmãos”, fala com alguma intimidade – chega a dizer que “como vocês podem ver, estou sem barba” – e age como se estivesse dando satisfação sobre a evolução de seu ‘trabalho’.
Não há dúvida de que a mente do criminoso era habitada por seres que não são deste mundo. Mas foi nos arredores de sua vida pacata e reclusa na zona oeste que ele deixou boa parte das pistas de que havia uma matança em andamento. A começar pelas armas e munições que adquiriu.
Os revólveres utilizados por Wellington Menezes de Oliveira no dia do massacre de Realengo
Como destacou a criminologista Britta Bannenberg, especialista crimes causados por atiradores,, “todos os atiradores deram sinais de que tramavam algo e de que não estavam bem". O problema é que, no caso de Wellington, quem teve mais acesso a esses ‘sinais’ foram pessoas que estavam mais preocupadas em lucrar com o crime do que impedi-lo – e justamente por isso precisam de punição exemplar.
A começar pelo segurança Manuel Freitas Louvise, de 57 anos, preso na quinta-feira sob acusação de ter vendido para Wellington o revólver calibre 38 usado no massacre. Foi dessa arma que partiram mais de 60 tiros durante os cerca de 10 minutos de ataque. À polícia Luvise disse que vendeu a arma – que ele havia comprado legalmente – porque Wellington alegava necessidade de se proteger em Sepetiba, onde passou a morar. Como ele explica, então, a venda de 77 balas e dos recarregadores rápidos para a arma?
Luvise nunca vai admitir. Mas alguém com mínimos conhecimentos de segurança sabe que essa quantidade de munição e carregadores não são coisa de quem quer se proteger. E mais: que alguém viria a morrer.
É prematuro acreditar que Wellington – alguém que conta ter sido desprezado ao longo de toda a vida – tenha uma legião de seguidores. Mas alguém com obsessão por internet e tantas conexões – MSN, Orkut e seis endereços de e-mail, pelo que a polícia já pôde confirmar –, com planos que datam de pelo menos nove meses antes do massacre, dificilmente caminha sem deixar pegadas
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