4.16.2011

Sobre estar sozinho


Não é apenas o avanço tecnológico que marcou o início deste milênio. As relações afetivas também estão passando por profundas transformações e revolucionando o conceito de amor.
O que se busca hoje é uma relação compatível com os tempos modernos, na qual exista individualidade, respeito, alegria e prazer de estar junto, e não mais uma relação de dependência, em que um responsabiliza o outro pelo seu bem-estar.

A idéia de uma pessoa ser o remédio para nossa felicidade, que nasceu com o romantismo está fadada a desaparecer neste início de século. O amor romântico parte da premissa de que somos uma fração e precisamos encontrar nossa outra metade para nos sentirmos completos.

Muitas vezes ocorre até um processo de despersonalização que, historicamente, tem atingido mais a mulher; ela abandona suas características, para se amalgamar ao projeto masculino.
A teoria da ligação entre opostos também vem dessa raiz: o outro tem de fazer o que eu não sei. Se sou manso, ele deve ser agressivo, e assim por diante. Uma idéia prática de sobrevivência, e pouco romântica, por sinal.

A palavra de ordem deste século é parceria.

Estamos trocando o amor de necessidade, pelo amor de desejo. Eu gosto e desejo a companhia, mas não preciso, o que é muito diferente.
Com o avanço tecnológico, que exige mais tempo individual, as pessoas estão perdendo o pavor de ficar sozinhas, e aprendendo a conviver melhor consigo mesmas. Elas estão começando a perceber que se sentem fração, mas são inteiras.

O outro, com o qual se estabelece um elo, também se sente uma fração. Não é príncipe ou salvador de coisa nenhuma. É apenas um companheiro de viagem.
O homem é um animal que vai mudando o mundo, e depois tem de ir se reciclando, para se adaptar ao mundo que fabricou. Estamos entrando na era da individualidade, o que não tem nada a ver com egoísmo.

O egoísta não tem energia própria; ele se alimenta da energia que vem do outro, seja ela financeira ou moral.
A nova forma de amor, ou mais amor, tem nova feição e significado. Visa à aproximação de dois inteiros, e não a união de duas metades. E ela só é possível para aqueles que conseguirem trabalhar sua individualidade.
Quanto mais o indivíduo for competente para viver sozinho, mais preparado estará para uma boa relação afetiva.
A solidão é boa, ficar sozinho não é vergonhoso. Ao contrário, dá dignidade à pessoa.

As boas relações afetivas são ótimas, são muito parecidas com o ficar sozinho, ninguém exige nada de ninguém e ambos crescem. Relações de dominação e de concessões exageradas são coisas do século passado. Cada cérebro é único. Nosso modo de pensar e agir não serve de referência para avaliar ninguém.
Muitas vezes, pensamos que o outro é nossa alma gêmea e, na verdade, o que fizemos foi inventá-lo ao nosso gosto.
Todas as pessoas deveriam ficar sozinhas de vez em quando, para estabelecer um diálogo interno e descobrir sua força pessoal.

Na solidão, o indivíduo entende que a harmonia e a paz de espírito só podem ser encontradas dentro dele mesmo, e não a partir do outro.

Ao perceber isso, ele se torna menos crítico e mais compreensivo quanto às diferenças, respeitando a maneira de ser de cada um.

O amor de duas pessoas inteiras é bem mais saudável.

Nesse tipo de ligação, há o aconchego, o prazer da companhia e o respeito pelo ser amado.
Nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém, algumas vezes você tem de aprender a perdoar a si mesmo...

(Flávio Gikovate)

3 comentários:

Anônimo disse...

Belo texto. Bom senso, equilibrio e coerencia.

Unknown disse...

é relevante então dizer que sobre o amor moderno estamos cada vez mais atados a certas alusões amorosas? deixe me pensar e gostaria que me ajudassem,
eu por exemplo me rotulo como romântico de amor cortês;quando amo e estando nesse estágio procuro tratar a pessoa amada de forma única, faze-la acreditar não somente em palavras, que o meu amor é leal, transparente e verdadeiro; quero dar e receber carinhos de toque, de palavras e emoções em gestos. Acredito sinceramente e me corrijam se estou errado que quando se ama verdadeiramente uma pessoa você não é sua metade ,não é sua sombra, é uma única parte. Gosto do romantismo ,dizer e ouvir palavras de carinho de emoção ,,sabe aquele frio na barriga quando esta com alguém? então é exatamente assim que me sinto, quero poder demonstrar aquele amor de juventude ,aquela explosão de energia, sentir a cada encontro o pulsar do coração , fazer carinho de mãe, e, quando não é assim recuo,fico com medo .. me exponho de forma defensiva, falo coisas que talvez não sejam necessárias,.
Acho que tenho muita mais dúvidas a entender e aprender do que qualquer opinião formada ,, acho que realmente preciso de ajuda ...

Anônimo disse...

O amor não tem fronteiras, não tem limites nem barreiras. Não procure recompensa ou reciprocidade no amor, quem ama ama e ponto final...