1.24.2012

Economia forte

 

Com economia forte, Brasil quebra tradição e freia imigração haitiana

Por Yana Marull
Com uma economia vigorosa que atrai cada vez mais trabalhadores do mundo, o Brasil decidiu nesta semana frear uma onda de imigração ilegal de haitianos, rompendo uma tradição permissiva que abre as portas para políticas que antes criticava em países ricos, indicaram analistas.
O governo brasileiro anunciou nesta terça-feira que regularizará os quase 4 mil haitianos que entraram ilegalmente no país, a maior parte nas últimas semanas, mas irá impor a partir de agora um visto para a entrada destes cidadãos e pretende bloquear novas ondas de imigração ilegal em suas fronteiras.
A decisão de regularizar os haitianos que entraram ilegalmente era esperada, mas o endurecimento da política de imigração, tradicionalmente mais permissiva, surpreendeu.
"É uma situação nova para o Brasil, que, pela primeira vez, enfrenta estes fluxos de pessoas que vêm ao país porque veem em sua economia uma fonte de emprego e oportunidades", afirmou à AFP Oliver Stuenkel, professor de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Introduzidos por "coiotes", os haitianos, que há dois anos viram seu país sucumbir a um terremoto, buscam trabalho nas grandes usinas hidroelétricas em construção na Amazônia ou em São Paulo, disse à AFP o secretário de Justiça e Direitos Humanos do estado do Acre, Nilson Mourão, na pequena cidade amazônica de Brasileia, que acolhe mais de mil haitianos.
"É uma consequência que o Brasil paga por ter se tornado a sexta maior economia mundial", acrescentou.
Durante décadas de crescimento econômico na Europa, nos Estados Unidos e no Japão, os brasileiros viajaram a estes países, frequentemente em condições precárias, em busca de oportunidades de trabalho, e o país fez duras críticas às restrições migratórias nestes países.
Agora é o Brasil que recebe europeus, americanos e trabalhadores de países pobres.
"Consideramos injustas as políticas migratórias adotadas em alguns países ricos", criticou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao aprovar, em 2009, uma anistia que regularizou dezenas de milhares de estrangeiros em situação ilegal.
"O Brasil sempre reagiu com a devida indignação ao trato muitas vezes discriminatório dispensado aos seus cidadãos nos Estados Unidos e na Europa", mas agora terá que "se preparar para receber de modo adequado as novas ondas de imigrantes", destacou o jornal Folha em seu principal editorial nesta quarta-feira.
O Brasil não é um país fácil para conseguir permissão de trabalho e residência. No entanto, fez vista grossa à entrada de imigrantes de países mais pobres e aprovou anistias periódicas.
"São dadas mais oportunidades ao imigrante ilegal e pobre que ao legal para obter o status de residente e visto de trabalho, fruto de uma política baseada na solidariedade com os países pobres", explica Stuenkel, para quem o país, impedido de controlar suas gigantescas fronteiras, enfrenta um "difícil dilema".
"A exigência do visto decidida pelo governo não impedirá que outros haitianos continuem entrando ilegalmente. E, quando isso ocorrer, o Brasil será testado de outro modo, quando tiver que decidir se rejeita sua entrada ou os expulsa", explicou à AFP o professor de Direito Internacional Salem Nasser.
A presidente Dilma Rousseff visitará o Haiti em fevereiro. O Brasil lidera as tropas da ONU neste país desde 2004 e, desde então, promove a cooperação e o desenvolvimento.

Brasileiros têm gasto recorde de US$ 21 bilhões no exterior, diz BC

Por outro lado, turistas estrangeiros desembolsaram US$ 6,8 bilhões no Brasil

RIO e BRASÍLIA — Os brasileiros gastaram no exterior US$21,2 bilhões no ano de 2011, maior valor desde 1947, segundo relatório sobre o Setor Externo divulgado nesta terça-feira pelo Banco Central. Essas despesas aumentaram 38,5% em relação ao ano anterior. De acordo com o documento, a conta de viagens internacionais apresentou saldo negativo de US$ 14,5 bilhões, considerando os US$ 6,8 bilhões que foram gastos por turistas estrangeiros no Brasil: outro recorde histórico.
- O crescimento das despesas com viagens deve ser mais moderado daqui para a frente - disse o chefe do departamento Econômico do BC, Túlio Maciel, completando: - Temos a visão que o turista brasileiro será mais cauteloso com seus gastos.
Segundo Maciel, outro fator que deve estimular tanto o viajante daqui é o câmbio que está num patamar maior que no mesmo período do ano passado.
As transações correntes do Brasil com outros países geraram déficit de US$ 52,612 bilhões em 2011, a maior cifra da série histórica apurada pelo Banco Central, iniciada em 1947.
Por outro lado, como proporção do Produto Interno Bruto (PIB) estimado pelo BC, o déficit caiu de 2,21% em 2010 para 2,12%.
Apesar disso, o resultado global do balanço de pagamentos externos de 2011 foi superavitário em expressivos US$ 58,637 bilhões, pois o ingresso líquido de capitais cobriu com larga folga a diferença entre despesas e receitas relativas a comércio, serviços, remessas de renda e transferências unilaterais, lista que compõe a conta de transações correntes.
- O déficit foi financiado com folga pelo investimento estrangeiro direto – disse Túlio Maciel.
Só em investimentos estrangeiros diretos (IED), que são parte da conta de capitais, entraram US$ 66,660 bilhões em 2011. Mas isso não deverá se repetir em 2012, período para o qual as projeções do BC indicam IED de US$ 50 bilhões, volume inferior ao do déficit em transações correntes, projetado em US$ 65 bilhões.
Só em dezembro, o déficit corrente alcançou US$ 6,04 bilhões. Por causa do fluxo de capitais, também no mês, o balanço global, por outro lado, apresentou saldo positivo de US$ 525 milhões, já incluídos ajustes relativos a erros e omissões. Sem esses ajustes, o fluxo líquido de capitais mostrou-se positivo em US$ 111,868 bilhões no acumulado do ano, dos quais US$ 6,834 bilhões em dezembro.
Em relação a 2010, as transações correntes também geraram mais despesas líquidas para o país, pois naquele ano o rombo tinha sido de US$ 3,496 bilhões no mês e de US$ 47,323 bilhões em 12 meses.
O que mais pesou em 2011 foram as despesas com remessas de rendas, que atingiram liquidamente US$ 47,319 bilhões no ano, dos quais US$ 6,436 bilhões em dezembro. No ano anterior, o Brasil havia gasto, respectivamente, US$ 39,468 bilhões e US$ 6,232 bilhões. Aí incluídas, só as remessas de lucros e dividendos subiram de US$ 30,375 bilhões para US$ 38,166 bilhões na comparação dos acumulados de cada ano.
Os gastos líquidos da conta de serviços, que também compõem a conta de transações correntes, chegaram a US$ 37,906 bilhões em 2011, ante US$ 30,771 bilhões em 2010. Em dezembro, especificamente, atingiram US$ 3,602 bilhões, também se elevando sobre o último mês de 2010 (US$ 2,916 bilhões).
O comércio exterior impediu que o resultado das transações correntes fosse ainda mais negativo em 2011, gerando saldo de US$ 29,796 bilhões no ano e de US$ 3,815 bilhões em dezembro. Em 2010, esses valores foram respectivamente de US$ 20,147 bilhões e de US$ 5,344 bilhões

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