9.09.2012

‘Paradoxo da obesidade’: pessoas com excesso de peso podem ser tão saudáveis quanto as magras

Obesidade

Pesquisas mostram que pessoas obesas, mas com um metabolismo saudável, podem apresentar os mesmos riscos de saúde que indivíduos com peso normal

Obesidade saudável: Pessoas com excesso de peso e metabolismo saudável podem ter os mesmos riscos de doenças crônicas do que as magras
Obesidade saudável: Pessoas com excesso de peso e metabolismo saudável podem ter os mesmos riscos de doenças crônicas do que as magras (Thinksotck)
Novas pesquisas sugerem que pessoas gordas, mas com um bom metabolismo e fisicamente ativas, são tão saudáveis quanto as magras — conclusão que quebra o paradigma de que indivíduos obesos necessariamente correm mais riscos do que aqueles que têm peso normal. Essas conclusões fazem parte de dois estudos publicados nesta quarta-feira no periódico European Heart Journal.
Segundo os especialistas, esse é o chamado "paradoxo da obesidade". Ou seja, existe um subgrupo de pessoas obesas que parece estar protegido contra as complicações decorrentes do excesso de peso, especialmente das doenças crônicas, como as cardiovasculares e o câncer. Os estudos mostraram que esses indivíduos se exercitam mais, apresentam uma melhor capacidade cardiorrespiratória e um metabolismo mais saudável — ou seja, não sofrem de resistência à insulina, diabetes ou colesterol e pressão altos, que são complicações associadas ao excesso de peso.
Peso saudável — Um dos estudos, desenvolvido na Universidade da Carolina do Sul, nos Estados Unidos, com mais de 40.000 participantes, concluiu que esses indivíduos obesos (Índice de Massa Corporal acima de 30 - calcule aqui seu IMC) com metabolismo saudável têm um risco 38% menor de morte por qualquer causa e uma probabilidade até 50% menor de desenvolver (ou morrer por) doenças cardiovasculares ou câncer do que os outros obesos. A pesquisa não identificou uma diferença significativa entre os riscos apresentados por esses indivíduos e por pessoas saudáveis com peso normal.
Os pesquisadores chegaram a essa conclusão após analisarem questionários sobre histórico médico, estilo de vida e hábitos alimentares respondidos pelos participantes entre 1979 e 2003, resultados de exames físicos que avaliaram a capacidade cardiorrespiratória de cada um e dados como percentual de gordura, peso, altura e taxas de colesterol dessas pessoas.

"Com base nos dados que o nosso e outros grupos têm coletado ao longo dos anos, acreditamos que praticar mais exercício físico influencia positivamente os sistemas principais do corpo e órgãos e, consequentemente, contribui para tornar mais saudável o metabolismo de uma pessoa, incluindo pessoas obesas", diz Ortega. Para o pesquisador, a descoberta de sua equipe tem importantes implicações clínicas. "Os médicos devem considerar que nem todos os obesos têm o mesmo prognóstico, e que a quantidade de atividade física que eles praticam e as características do metabolismo de cada um podem ajudar a estimar o risco desses pacientes em desenvolver doenças graves."
Curva em U — A segunda pesquisa divulgada no periódico, feita na Universidade de Gutemburgo, na Suécia, analisou por três anos mais de 64.000 pessoas que desenvolveram doenças cardíacas. Os autores observaram que o risco de morte pela condição obedeceu uma curva em U, ou seja: os maiores riscos, representados pelas extremidades da letra, foram apresentados por obesos mórbidos (IMC acima de 35) e pelas pessoas abaixo do peso (IMC abaixo de 18,5). As menores probabilidades, por outro lado, foram vistas nos indivíduos com sobrepeso moderado (IMC entre 26,5 e 28), nos indivíduos com sobrepeso (IMC entre 28 e 30) e nas pessoas com peso normal (IMC entre 18,5 e 25).
Segundo o autor dessa pesquisa, Oskar Angeras, embora a manutenção do peso seja indicada para prevenir doenças cardíacas, parece não existir evidências de que a redução de peso entre pessoas obesas que já têm alguma condição cardíaca tenha algum efeito positivo na doença. "Acreditamos que, dado o estado atual de nosso conhecimento, o paradoxo da obesidade requer muito mais atenção das pesquisas e dos atendimentos médicos", diz.

Nenhum comentário: