3.26.2013

O sucesso está no equilíbrio, determinação e humildade

Educação

Entre as armas para formar os futuros líderes está a aposta (e o investimento) na capacitação dos atuais gestores - e na parceria com as escolas de negócio

Segundo dados da Fundação Dom Cabral (FDC), especializada na educação de executivos, os programas customizados têm crescido numa média de 28% ao ano, nos últimos cinco anos. Só em 2007, na instituição mineira, foram desenvolvidas cerca de 250 soluções educacionais. E a expectativa é de que este número chegue a 300 esse ano. E a demanda não é intensa apenas para a FDC: FGV-RJ, Ibmec São Paulo, UFRJ e outras escolas de renome são cada vez mais consultadas e contratadas para ajudar empresas a qualificar seus executivos de alta gestão. É a preocupação com a futura liderança rodando o mundo corporativo, sobretudo o RH.
Para comprovar como isso vem tirando o sono dos gestores de pessoas, basta lembrar uma pesquisa mundial feita pela IBM Global Business Service e pelo IBM Institute for Business Value que revela que 75% dos profissionais de RH afirmaram estar preocupados com a capacidade da empresa em que atuam em desenvolver futuros líderes (veja mais na edição 241, de dezembro do ano passado).
Para vencer esse desafio, muitas empresas buscam parcerias com instituições de ensino e não têm medo de investir em programas com essa finalidade. Como lembra Maria Teresa Casagrande, gerente administrativa do Grupo Random, de Caxias do Sul (RS), trata-se de um investimento que, além de trazer retorno para a empresa em forma de melhores práticas, também gera maior comprometimento das pessoas que participam desses programas.
Um projeto recentemente criado pela empresa é o Programa de Desenvolvimento de Gestores de Negócios (PDGN), elaborado em parceria com uma renomada instituição de educação executiva. Dele participam 17 gerentes e 28 coordenadores, estes últimos do banco de talentos potenciais do Programa de Sucessão de Gestores.
"Empresas centradas em aprendizagem organizacional são as que têm apresentado melhor resultado nos últimos anos",
Manuela, da EDS: empresa subsidia MBAs e mestrado, desde que, entre outras razões, o programa esteja dentro do plano de desenvolvimento individual do executivo
afirma Heitor Coutinho, professor de estratégias e gestão de projetos da FDC, responsável pelos cursos customizados. Ele conta que nos últimos cinco anos, a instituição capacitou cerca de 55 mil executivos só em programas customizados, sendo que 60% deles em cargos de alta gestão. "O retorno sobre o investimento é muito maior, em um prazo muito menor. É um negócio altamente sustentável: gera mais valor tanto para stakeholders quanto para os clientes", diz Coutinho, acrescentando que esse segmento representa 40% dos negócios da escola que foi a brasileira mais bem colocada no ranking das melhores escolas de negócio do mundo divulgado recentemente pelo jornal britânico Financial Times (veja quadro abaixo).
E um dos segredos dessa parceria entre empresas e instituições de ensino, na avaliação do professor da FDC, é o alinhamento entre as soluções educacionais e os resultados da empresa. "A função educacional passa, assim, a ter um nível de complexidade muito maior, o que passamos a chamar de 'intervenção educacional'", explica. Nesse conjunto de fatores de sucesso, há um outro item que não pode ser ignorado: a busca de alternativas que não sejam tão acadêmicas que não possam ser aplicadas na organização e nem tão práticas que não tragam conhecimento de ponta.
Adriana, da Confenar: oferecer programas focados nas necessidades do executivo
Na FGV-RJ, os cursos customizados contemplam um projeto aplicativo e uma implementação de melhoria na empresa. Para a diretora adjunta dos cursos corporativos da fundação, Goret Pereira Paulo, as pessoas têm assumido cargos de liderança cada vez mais jovens. Isso faz com que as empresas tenham de identificar esses líderes e saber investir neles. "São pessoas com capacidade de motivar, com boa gestão do conhecimento. E cada uma dentro de seu próprio estilo, porque cada pessoa tem um estilo diferente", observa Goret. E descobrir o próprio estilo de liderança é uma das metas do curso do Programa de Desenvolvimento Pessoal de Carreira (PDPC), criado pelo Coppead, a escola de negócio da Universidade Federal do Rio de Janeiro, coordenado pela professora Eva Pontes, que destaca uma outra faceta desses programas: o auxílio na recolocação de executivos. Ou seja, aumenta-se a empregabilidade e, conseqüentemente, o desafio de reter esses profissionais...
No PDPC, os alunos exercitam habilidades como negociação, comunicação, trabalho em equipe e, principalmente, a lidar com a diferença como uma complementaridade de características. Além de todo aprofundamento acadêmico, Eva acredita que o autoconhecimento e o autodesenvolvimento são recursos preciosos para toda a carreira. "O importante é saber em que perfil de líder o executivo se encaixa. Porque, se for atender a tudo o se diz hoje em dia, precisamos de um super-homem! E até ele tinha a criptonita como fraqueza!", brinca a professora.
No caso da Confederação Nacional das Revendas AmBev (Confenar) e das Empresas de Logística da Distribuição, a preocupação não era formar um super-herói, mas preparar gestores. Por lidar com empresas espalhadas pelo Brasil, a Confenar resolveu apostar na criação de um MBA em parceria com uma instituição de ensino que pudesse oferecer um conteúdo de qualidade e que fosse oferecido em datas que possibilitassem a presença de pessoas de todo o país.
Como lembra Adriana Neves, diretora da Confenar, duas turmas de 45 pessoas já passaram por esse curso e o sucesso foi tão grande que já existe a possibilidade de ser criado mais um grupo. Além disso, ela percebe outros resultados: "Sentimos que o nível das discussões aqui mudou de patamar. E o fato de convivermos com colegas de trabalho de forma intensiva criou um network interno, com benchmark, o que trouxe troca de experiências e mais afinidade entre os participantes".
Outro reflexo do sucesso desse MBA é que alguns de seus módulos deram origem ao Programa de Desenvolvimento
Borroni, do Ibmec - São Paulo: trabalhando de consultoria especializada
Gerencial (PDG). Segundo Adriana, foi a melhor alternativa encontrada para que um gerente financeiro pudesse cursar o módulo de finanças, por exemplo, sem ter de dividir sua atenção com disciplinas sem uma relação direta com sua área. "São profissionais que não necessariamente precisam ter uma visão global do negócio num MBA integral, mas o módulo em sua área já ajuda muito", diz a executiva.
A busca de uma instituição de ensino para formatar um programa de educação para executivos pressupõe um maior trabalho por parte da escola. É o que se pode inferir da experiência do Ibmec - São Paulo, onde os programas customizados representam 95% dos cursos oferecidos. De acordo com Luca Borroni, responsável pelos programas customizados da instituição, os docentes vão a campo para conhecer profundamente tanto os processos quanto a cultura da empresa, praticamente como um caráter de consultoria especializada. Eles podem ficar por um período dentro de uma agência bancária ou no chão da fábrica para desenvolver um programa específico.
Goret, da FGV - RJ: as pessoas têm assumido cargos de liderança cada vez mais jovens
Como lidam com estratégias da empresa, lançamentos de produtos e serviços, há, obviamente, termos de confidencialidade. "Se atendemos dois bancos, por exemplo, temos outro grupo de docentes, outra coordenação para que não haja qualquer vazamento de informação", conta Borroni. Mas há empresas que, além de buscar essas parcerias, também desenvolvem seus programas para cuidar da formação e capacitação de seus executivos. Na EDS, por exemplo, o conteúdo programático fundamental para formar líderes consiste nos temas relativos ao desenvolvimento das competências: organização de tarefas e gestão do tempo; delegação; gestão e desenvolvimento de pessoas em busca de times de alta performance; estilo de liderança; comunicação efetiva, feedback; foco no cliente; gestão de processos de mudança; conhecimento do negócio. Segundo Manuela Bernis, gerente de RH da companhia, também foi desenvolvido um programa próprio da EDS a partir dos critérios técnicos de sua área de Global Learning & Development. São utilizados conteúdos on-line, módulos presenciais, conference calls e encontros para networking, com resultados muito positivos.
Os executivos da EDS que optam por MBAs e mestrados contam com o programa de Tuition, que prevê o pagamento pela empresa de uma parcela significativa de cursos de pós- graduação, desde que haja elegibilidade aos pré-requisitos, como por exemplo, o profissional ter uma performance que exceda as expectativas e que o programa esteja dentro do seu plano de desenvolvimento individual.
Coutinho, da FDC: investir em educação é um negócio altamente sustentável
Apesar de atenderem cada vez mais a demandas específicas do mundo corporativo, as principais instituições que oferecem cursos de pós-graduação em negócios não têm, por isso, deixado de lado a preocupação com a pesquisa acadêmica ou com o intercâmbio com universidades de peso em todo o mundo. E nem mesmo pretendem ficar mais focadas na parte prática. Já existe uma maior consciência por parte dos docentes de que a relação entre mercado, aplicação de projetos e conhecimento teórico têm trazido bons resultados a todos. O Ibmec - São Paulo pretende aproximar seus docentes mais dedicados à pesquisa ao cotidiano e problemas das corporações. A FDC também aposta na diversidade: seus cursos são compostos de professores associados, convidados, de dedicação exclusiva e executivos que tenham uma experiência de destaque para somar valor a seus programas. Uma troca que põe fim à relação encastelada de mestres e doutores de um lado, e empresários auto-suficientes de outro. Ganham as empresas, stakeholders e, principalmente, os clientes. Mineira está entre as 20 melhores
Há dez anos o jornal britânico Financial Times publica o ranking das melhores escolas de negócio em todo o mundo a partir de uma avaliação dos programas oferecidos por essas instituições para alunos em geral e dos programas customizados. Outros aspectos, como campus, corpo docente, posição dos alunos no mercado de trabalho e diversidade também fazem parte da avaliação. Este ano, ficaram empatadas em 1º lugar a americana Harvard Business School e a suíça IMD. A Fundação Dom Cabral (FDC), de Minas Gerais, figura na 16ª posição. Outra brasileira bem colocada é o Ibmec - São Paulo, que ocupa o 34º lugar, quando são avaliados os programas feitos sob medida.


Fabíola Lago



As 10 mais
1 Harvard (EUA)
2 IMD (Suíça)
3 Duke University (EUA)
4 Northwestern University (EUA)
5 IESE (Espanha)
6 University of Chicago (EUA)
7 University of Pennsylvania (EUA)
8 Creative Leardership (EUA)
9 Columbia (EUA)
10 Stanford (EUA)

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