3.23.2013

Ter saúde e conviver com os amigos valem mais que dinheiro quando o assunto é felicidade


Rio -  Ter saúde e conviver com os amigos valem mais que dinheiro quando o assunto é felicidade. Essa é a percepção do brasileiro, que é contrária à pesquisa feita pela consultoria norte-americana Spectrem Group. O estudo aponta que os sentimentos de alegria e satisfação são evidentes para 44% dos mais ricos contra apenas 24% do grupo menos afortunado. Ainda que alguns trocados a mais no bolso ajudem a materializar sonhos, por aqui prevalece o bom e velho ditado popular: “O dinheiro não traz felicidade”.

“Aqui no Brasil, em geral, a gente trabalha para suprir necessidades. Em países como os Estados Unidos há muito mais gente com perfil empreendedor
 O dinheiro lá tem uma importância muito maior do que aqui”, compara o empresário carioca Marcelo Reis, 47 anos, autor do livro ‘Até que enfim é segunda-feira’, que trata da relação entre trabalho e felicidade.
“Fui publicitário durante 20 anos, sempre pensando no dinheiro, até que um susto, um problema de saúde, me fez mudar de vida. Ganhei uma guitarra da minha esposa, voltei a tocar e abri um bar de rock e blues com meus amigos. E hoje essa é minha atividade principal”, completa ele.
Mesmo do lado de dentro do balcão, a relação atual de Marcelo com o dinheiro é semelhante à da aposentada Yeda Gaspar, do operário Mário Luiz Camilo e do orientador de trânsito Vanderlei Leite da Silva. Em comum, todos se consideram felizes e desapegados ao bolso. “Descobri a felicidade depois de 32 anos. Foi quando me divorciei do meu marido e percebi ainda mais que o dinheiro não tinha nada a ver com a alegria”, ilustrou Yeda, 62 anos, que toca a vida com cerca de três salários mínimos por mês.

O operário Mário Luiz Camilo, 61 anos, concorda com a aposentada: “O ‘ser’ é a alegria. O ‘ter’ é o dinheiro. E tudo o que tenho são os amigos que a rua me deu. Um pouco a mais de dinheiro ajudaria, mas acho que não iria me trazer mais felicidade”. Ele, que tem renda mensal de R$ 1,4 mil, trabalha há três anos em uma obra na Lapa.
O simpático Vanderlei pondera outros dois aspectos: “Adianta só ter dinheiro quando na verdade o que mais precisamos é de saúde e de tempo para nós mesmos e para cuidar de nossa família?”.

Grana para a felicidade é mais valorizada pelos ricos
Uma pesquisa que será divulgada em maio e realizada pelo Instituto Akatu, que atua na conscientização e mobilização da sociedade para o consumo no país, constatou que seis entre dez brasileiros associam a felicidade ao ambiente familiar saudável e ao convívio harmonioso com familiares e amigos. Apenas três em cada dez consideraram a tranquilidade financeira como um passaporte para a felicidade.
“No levantamento, quem mais incluiu o dinheiro como motivo para a felicidade foram justamente os mais ricos. São pessoas que dependem muito mais de recursos financeiros como elemento de identidade do que os mais pobres”, justifica Aron Belinky, porta-voz da entidade e responsável pela pesquisa.
Na relação com a moeda, os números do Akatu apontam que 41% da classe A associa o dinheiro à felicidade, consideravelmente acima da média de 33% das classes mais baixas (B, C e D).
“Nós concluímos que a classe A tem muito medo de perder o status de elite, por isso ela própria valoriza o meio como chegou até ele”, explica Aron.

Relação direta, mas não proporcional
Na avaliação de Mariagrazia Marini, psicóloga especialista em felicidade, o dinheiro é importante para garantir as necessidades básicas dos indivíduos, mas isso não se traduz em felicidade. “Algum dinheiro é necessário para assegurar a alimentação, saúde, abrigo e segurança. Nesse sentido, há relação direta entre felicidade e dinheiro, mas ela não é diretamente proporcional”, avalia Marini, que é responsável pelo site Psico-Online.net.
Hoje vivendo e trabalhando em Portugal, a especialista avalia ainda a felicidade nos países desenvolvidos. “Temos como exemplo os países que enriqueceram nos últimos anos não aumentaram seu grau de felicidade em igual proporção”.
Ela ainda reforça que da mesma forma que o dinheiro não garante felicidade, embora ajude, a falta dele também pode contribuir para a tristeza do indivíduo. “A falta de dinheiro pode bloquear as aspirações e sonhos”.

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