Principais Instrumentos Diagnósticos de Autismo
Adaptado de Aguiar C.L.C,,
dissertação de mestrado, Distúrbios do Desenvolvimento, do Instituto
Presbiteriano Mackenzie, 2005, de Sato F.P., dissertação de mestrado,
Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de
São Paulo, 2008 e de Losappio e Pondé, 2008.
Como o diagnóstico do autismo é clínico, isto é, baseia-se na observação
e na história da pessoa, foram criados instrumentos que procuram
sistematizar a maneira de diagnosticá-lo. Essas tentativas de padronizar
o diagnóstico utilizam duas fontes principais de informação: a)
descrições dos pais sobre o curso do desenvolvimento e padrões de
comportamentos atuais do indivíduo; b) informações a partir da
observação direta do comportamento do indivíduo.
Os instrumentos diagnósticos mais utilizados são descritos a seguir.
Childhood Autism Rating Scale_ CARS (Escala de avaliação para autismo infantil), desenvolvida por Schopler et al., 1980.
A CARS é baseada nas definições de autismo apresentadas por Rutter,
Ritvo e Freeman. Os aspectos comuns entre essas definições são: i)
desenvolvimento social comprometido em relação às pessoas, objetos e
acontecimentos; ii) distúrbio da linguagem e habilidades cognitivas;
iii) início precoce do transtorno, antes dos 30 meses de idade. A escala
é um instrumento para observações comportamentais, sendo administrada
na primeira sessão de diagnóstico. É composta por 15 itens, sendo que
cada um deles é pontuado num continuum, variando do normal para
gravemente anormal, todos contribuindo igualmente para a pontuação
total. De acordo com o manual da CARS, o autismo é caracterizado por um
resultado ³ 30 pontos, em uma escala que varia de 15 a 60 pontos, sendo
que o intervalo entre 30 e 36,5 é definido como característico de
autismo moderado. O que se apresenta entre 37-60 pontos é definido como
autismo grave.
Autism Behavior Checklist -ABC (Lista de checagem de comportamento autístico), desenvolvida por Krug et al., 1980.
O ABC é um questionário constituído por 57 itens, elaborados para
avaliação de comportamentos autistas em população com retardo mental,
que tem ajudado na elaboração de diagnóstico diferencial de autismo.
Esta lista de verificação foi desenvolvida a partir do registro de
comportamentos, selecionados de nove instrumentos utilizados para se
identificar o autismo.
Os itens desta escala, na forma de descrições comportamentais, foram
agrupados em 5 áreas de sintomas: sensorial, relacionamentos, uso do
corpo e de objetos, linguagem, e habilidades sociais e de auto-ajuda. A
análise da escala propõe 17 itens comportamentais pontuados com nota 4,
que são considerados altamente indicadores de autismo, 17 itens
pontuados com nota 3, 16 itens pontuados com nota 2, e 7 itens
comportamentais com nota 1, considerados pouco indicadores de autismo. O
resultado médio dos estudos de validação do instrumento é 78 pontos
para o autismo e 44 pontos para o retardo mental grave. O ABC,
aparentemente, é capaz de identificar sujeitos com altos níveis de
comportamento autista .
Autism Diagnostic Interview – ADI (Entrevista diagnóstica para autismo), desenvolvida por Le Couteur et al.,1989.
É uma entrevista planejada para ser utilizada junto aos pais, com o
objetivo de fornecer um diagnóstico diferencial dos transtornos globais
do desenvolvimento. O foco de atenção dela é baseado em três áreas
principais do desenvolvimento: a) as qualidades da interação social
recíproca; b) comunicação e linguagem; c) comportamentos repetitivos,
restritivos e estereotipados. Além destes aspectos, são abordados outros
fatores considerados importantes para o planejamento do tratamento do
indivíduo, tais como hiperatividade e auto-lesão. O entrevistador busca
investigar os primeiros cinco anos de vida dele, pois é o período em que
certos aspectos são mais evidentes para o diagnóstico. Foca também os
últimos 12 meses anteriores à entrevista. A pontuação das questões varia
de 0 a 3, em uma gradação onde o valor “0” significa a ausência do
comportamento investigado na questão, “1” que ele está presente mas não
de modo grave, e “2” ou “3” informam que está presente de modo
acentuado ou grave. Esta entrevista mostra-se eficaz em discriminar sujeitos com autismo e sujeitos não autistas com retardo mental.
Autism Diagnostic Observation Schedule – ADOS (Protocolo de observação para diagnóstico de autismo), desenvolvido por Lord et al., 1989. O ADOS é um protocolo padronizado de observação e avaliação dos comportamentos sociais e
da comunicação da criança e do adulto autista, originalmente planejado
para pessoas com idade mental de 3 anos ou mais. O propósito deste
roteiro é fornecer uma série de contextos padronizados, visando a
observação do comportamento social e comunicativo de indivíduos com
autismo e transtornos relacionados. A observação comportamental visa
satisfazer duas finalidades. A primeira delas, diagnóstica, distingue
autismo de outros portadores de deficiência e de funcionamento normal A
segunda, de investigação, estuda diretamente a qualidade dos
comportamentos sociais e comunicativos associados com o autismo. Este
roteiro de observação consiste em oito tarefas apresentadas pelo
examinador, com duração de aproximadamente 20 a 30 minutos. Há dois
jogos de materiais que variam no conteúdo e exigência cognitiva, de
acordo com a idade cronológica e nível de desenvolvimento do sujeito. As
codificações dos comportamentos observados em cada tarefa devem ser
realizadas imediatamente após a entrevista. Os comportamentos são
classificados em quatro domínios: i) interação social recíproca; ii)
comunicação/linguagem iii) comportamentos estereotipados/restritivos;
iv) humor e comportamentos anormais não específicos. A classificação
geral é feita considerando-se uma gradação de três pontos: 0 = dentro
dos limites normais; 1 = anormalidade rara ou possível; 2 = anormalidade
clara/distinta. A pontuação 7 é eventualmente usada para indicar
comportamento anormal, mas que não é abrangido pela codificação.
Autism Diagnostic Interview-Revised – ADI-R (Entrevista diagnóstica para autismo revisada), desenvolvida por Lord, Rutter, & Le Couteur, 1994,
é uma revisão da ADI, que deve ser administrada junto aos pais, com o
objetivo de obter descrições detalhadas dos comportamentos que são
necessários para o diagnóstico diferencial dos Transtornos globais do
desenvolvimento (TGD), e especialmente para o diagnóstico de autismo. A
versão original da ADI foi planejada com propósitos de pesquisa e
visando completar a avaliação comportamental de sujeitos com idade
cronológica de 5 anos, e idade mental de pelo menos 2 anos. A versão
revisada, foi resumida e modificada para adequar-se a crianças com idade
mental de aproximadamente 18 meses até a vida adulta, e está vinculada
aos critérios do DSM-IV e da CID-10. A entrevista é aplicada em
aproximadamente 1 hora e meia para crianças de até quatro anos, e
torna-se um pouco mais demorada quando se trata de crianças mais velhas.
A pontuação é feita baseando-se no julgamento do entrevistador com
relação aos códigos que melhor representam os comportamentos descritos
pelo entrevistado. Eles variam de “0” a “3”, onde: ”0” significa que não
há o comportamento do tipo especificado; ”1” representa que o
comportamento do tipo especificado provavelmente está presente, mas não
cumpre totalmente o critério; ”2” significa que há comportamento anormal
definido do tipo descrito na definição e codificação; ”3” é utilizado
ocasionalmente para indicar extrema gravidade; ”7” serve para indicar
anormalidade que difere da dimensão em questão. São pontuados
comportamentos atuais, com exceção daqueles presentes em apenas um
determinado período da vida, como por exemplo o jogo imaginativo.
O algoritmo especifica as notas de corte da seguinte maneira: ”8” para
os itens relacionados à comunicação, quando se trata de pessoas verbais,
ou capazes de se comunicarem, e ”7” para sujeitos não-verbais
(não-verbal significa pontuação ”0” em “nível de linguagem”). Para todos
os indivíduos, verbais e não-verbais, as notas de corte são um mínimo
de ”10” sobre os itens que se referem à interação social e de ”3” para
os itens que dizem respeito aos comportamentos estereotipados e
repetitivos. Para cumprir os critérios diagnósticos esboçados pela
CID-10 e pelo DSM-IV, o sujeito tem que satisfazer os critérios em cada
um dos três domínios citados anteriormente (comunicação, interação
social e comportamentos estereotipados), obtendo a pontuação mínima em
cada um dos domínios, bem como exibir alguma anormalidade em pelo menos
um destes domínios até os 36 meses de idade, obtendo uma pontuação
mínima de ”1”. Além disso, os itens da entrevista que recebem pontuação
igual a ”3”, e quando pontuados no algoritmo recebem nota ”2”, para
evitar julgamento impróprio de qualquer sintoma único. Assim, para se
fazer um diagnóstico de Autismo Infantil, o comportamento do sujeito
deve igualar ou exceder as notas de corte para todos os domínios
avaliados.
Checklist for Autism in Toddlers, CHAT (Escala para rastreamento de autismo em crianças com até 3 anos) , desenvolvida por Baron-Cohen, Allen & Gillberg, 1992.
É uma escala diagnóstica desenvolvida para o estudo de indicadores
precoces de autismo. Ela é composta de um questionário que pode ser
preenchido pelos pais e complementado por uma observação comportamental
da criança.
Escalas validadas no Brasil
Escala d´Avaluació dels Trests Autistes, ATA (Escala de avaliação de traços autistas), desenvolvida por Ballabriga et al., 1994.
Esta escala foi traduzida e adaptada para o Brasil por Assumpção Jr. et
al em 1999. A ATA é uma escala de avaliação de traços autistas baseada
nos critérios do DSM-III-R. O trabalho de adaptação desta escala para a
língua portuguesa envolveu o estudo de sua aplicabilidade em nosso
meio, além de validá-la e adaptá-la aos atuais critérios do DSM-IV. A
ATA é uma escala composta por 23 sub-escalas, cada uma das quais
dividida em diferentes itens, que pode ser aplicada em crianças acima de
2 anos. As sub-escalas são as seguintes: i) dificuldade na interação
social; ii) manipulação do ambiente; iii) utilização das pessoas ao seu
redor; iv) resistência à mudança; v) busca de uma ordem rígida; vi)
falta de contato visual, olhar indefinido; vii) mímica inexpressiva;
viii) distúrbios do sono; ix) alteração na alimentação; x) dificuldade
no controle dos esfíncteres; xi) exploração dos objetos, como apalpar,
chupar; xii) uso inapropriado dos objetos; xiii) falta de atenção; xiv)
ausência de interesse pela aprendizagem; xv) falta de iniciativa; xvi)
alteração de linguagem e comunicação; xvii) não manifesta habilidades e
conhecimentos; xviii) reações inapropriadas ante a frustração; xix) não
assume responsabilidades; xx) hiperatividade/hipoatividade; xxi)
movimentos estereotipados e repetitivos; xxii) ignora o perigo; xxiii)
surgimento antes dos 36 meses, de acordo com os critérios do DSM-IV.
Segundo Assumpção et al (1999) a ATA é uma escala de fácil aplicação,
baseada em diferentes aspectos diagnósticos, com a finalidade de triagem
de casos suspeitos de autismo, e acessível aos profissionais que têm
contato direto com a população autista. É uma avaliação padronizada e
fundamenta-se na observação. Esta escala fornece o perfil de conduta da
criança, e permite acompanhar a evolução dos casos, sendo administrada
após obtenção de informação detalhada e com duração média de 20 a 30
minutos.
A pontuação varia de “0” a “2” para cada sub-escala, pontuando-se a
escala no momento em que um dos itens for positivo, e totalizando-se
através da soma de todos os valores positivos da escala. Cada subescala
tem no mínimo 3 itens e no máximo 8.
Autism Screening Questionnaire -ASQ (Questionário de triagem para autismo), desenvolvido por Rutter et al., 1999. O
ASQ foi planejado por Michael Rutter e Catherine Lord, para ser
completado pelos pais ou cuidadores de indivíduos com suspeita de
diagnóstico de TGD. O ASQ consiste em 40 questões extraídas da ADI-R,
que foram modificadas para tornarem-se mais compreensíveis aos pais. Há
questões sobre as áreas abordadas pela ADI-R relativas à interação
social recíproca, comunicação e linguagem, padrões de comportamento
estereotipados e repetitivos, além de questões sobre o funcionamento
atual da linguagem. Duas versões do questionário foram projetadas, uma
para crianças menores de 6 anos e outra para crianças com 6 anos ou
mais. As questões recebem pontuação “0” para ausência de anormalidade ou
“1” para a presença dela. A pontuação total varia de “0” a “39” para
indivíduos com linguagem verbal e até “34” quando as questões sobre
linguagem forem inaplicáveis. A nota de corte “15” é considerada
pontuação padrão ótima para a diferenciação dos TGD de outros
diagnósticos, e acima de “22” pode diferenciar autismo de outros TGD.
Este questionário foi avaliado e inicialmente validado para o Brasil por
Sato et al. em 2009.
Modified Checklist for Autism in Toddlers – M-CHAT (Escala para rastreamento de autismo modificada) desenvolvida por Robins DL, Fein D, Barton ML, Green JA, 2001.
A M-CHAT é um instrumento de rastreamento precoce de autismo, que visa
identificar indícios desse transtorno em crianças entre 18 e 24 meses.
Pode ser utilizada em todas as crianças durante visitas pediátricas, com
objetivo de identificar traços de autismo em crianças de idade precoce.
Os instrumentos de rastreio são úteis para avaliar pessoas que estão
aparentemente bem, mas que apresentam alguma doença ou fator de risco
para doença, diferentemente daquelas que não apresentam sintomas. A
M-CHAT é extremamente simples e não precisa ser administrada por
médicos. A resposta aos itens da escala leva em conta as observações dos
pais com relação ao comportamento da criança. Essa escala é uma
extensão da CHAT, consistindo em 23 questões do tipo sim/não, que deve
ser autopreenchida por pais de crianças de 18 a 24 meses de idade, que
sejam ao menos alfabetizados e estejam acompanhando o filho em consulta
pediátrica. O formato e os primeiros nove itens do CHAT foram mantidos.
As outras 14 questões foram desenvolvidas com base em lista de sintomas
freqüentemente presentes em crianças com autismo. Resultados superiores a
“3” (falha em 3 itens no total) ou em “2” dos itens considerados
críticos (2,7,9,13,14,15), após confirmação, justificam uma avaliação
formal. Foi traduzida e adaptada para português no Brasil por Mirella
Fiuza Losapio e Milena Pereira Pondé, 2008 (http://www.scielo.br
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