Modelo agora usa experiências para pregar e conscientizar jovens atletas.
Viviane Brunieri se envolveu com drogas e prostituição antes da conversão.
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Viviane Brunieri usa experiência de vida para evangelizar. (Foto: Ivair Vieira Jr/G1)
Conhecida no Brasil e em muitos países por ter namorado o craque de
futebol Ronaldo Nazário, Viviane Brunieri, hoje missionária evangélica,
usa sua experiência de vida como exemplo de superação para pregar e
ensinar jovens atletas a não se envolverem com as chamadas
marias-chuteiras. Em entrevista exclusiva para o G1, a
ex-Ronaldinha conta como se envolveu com drogas, prostituição, com a
máfia japonesa e o mundo dos filmes adultos, esse último por dinheiro e
vingança.
Apesar de ter nascido em Jundiaí (SP), Viviane passou a maior parte da
infância e adolescência em Peruíbe, no litoral de São Paulo. Nessa
época, competia como atleta de bodyboarding e participava de concursos
de beleza, até que foi para o Japão, aos 15 anos, reencontrar a mãe que
não via há cinco. "Meu maior sonho era ficar perto da minha mãe e
continuar a carreira de surfista, o que aconteceu no início. Competi por
vários estados e fui para outros países. Mas em menos de um ano o diabo
roubou vários dos meus sonhos. Em pouco tempo, eu já estava trabalhando
na noite, em um karaokê, como recepcionista", relata.
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Viviane explica que foi nessa época que teve sua primeira experiência
com a prostituição, aos 16 anos. "Quando eu digo prostituta, algumas
pessoas se escandalizam, mas não tem outra palavra. Alguns falam
acompanhante, garçonete, mas recepcionista, que trabalha em karaokê no
Japão, não vive do salário, apesar de ser remunerada para limpar as
mesas, servir e conversar com os clientes. Quando uma mulher se submete a
trabalhar na noite, não é para ser garçonete. É já na esperança de
encontrar um cliente que vai bancar, realizar seus sonhos. Eu nunca
falei com detalhes, mas sinto que é hora de falar. Um cliente me
convidou para fazer um passeio em uma praia, em um iate que ele tinha.
Eu fui para essa viagem. O fetiche dele era tirar fotografias minhas,
mas não parou nas fotos. Nós não tivemos a relação em si, mas teve sexo
oral. E ali, para mim, foi muito forte, como se todos os sonhos fossem
roubados. Você dorme de um jeito e acorda de outro. Eu não sou mais
aquela menina. Ele me pagou 10 mil dólares", lembra.
Foi no Japão que a ex-modelo ganhou mais dinheiro. "Eu mudei. Achei que
não tinha mais jeito e incorporei a prostituta. E como eu sempre quis
fazer tudo com excelência, me tornei a mais requisitada de Nagoya. Fui
conquistando clientes, pessoas famosas e presidentes de multinacionais.
Em pouco tempo, abri a minha própria casa, a Garota de Ipanema, com
proteção de um grupo da Yakuza, a máfia japonesa", conta.
Ex-Ronaldinha começou a se prostituir aos 16
anos. (Foto: Ivair Vieira Jr/G1)
anos. (Foto: Ivair Vieira Jr/G1)
Também foi nessa fase, dos 16 aos 18 anos, que Viviane conheceu as
drogas e fez o primeiro aborto. "Eu já bebia bastante para aguentar os
programas. Então conheci uma droga muito usada no Japão, a
metanfetamina, que inibe o apetite e acelera o metabolismo. Experimentei
todas as drogas, mas essa era a que mais usava. Em nenhum programa eu
estava de cara limpa, sempre drogada. Nessa época, fiz o meu primeiro
aborto, por conta do relacionamento com um integrante famoso da Yakuza.
Isso mexeu muito comigo. Depois, aos 18 anos, tive meu primeiro
relacionamento com uma mulher, uma filipina. Vivemos juntas por um ano",
diz.
Durante uma viagem ao país natal da companheira, Viviane decidiu passar
um mês no Brasil. Foi quando conheceu Ronaldo. "Era muita droga. Eu
queria dar um tempo. Eu cheguei em fevereiro, na época do Carnaval, fui
para Peruíbe e depois para o Rio de Janeiro, tentar fazer um curso de
teatro, achando que poderia sair dessa vida. Fui com meu irmão mais
velho e fiquei em um flat na Barra. O Ronaldo estava nesse flat fazendo
fisioterapia. Na época ele jogava no PSV. Se eu visse o Ronaldo não
saberia quem ele era, não conhecia. Foi meu irmão, que também era
jogador, quem me disse e na hora eu pensei: dinheiro eu tenho, bonita eu
sou, mas preciso de fama. Lembrei de algumas famosas, que continuam na
mídia por terem namorado famosos, era o que eu precisava. Foi tudo
premeditado. Meu irmão disse que ele já estava de olho em mim, nos viu
na piscina, perguntou se a gente era namorado e nos convidou para ir em
um pagode. Em menos de um semana a gente já estava namorando. Isso foi
em 1996", lembra.
Viviane conta que o relacionamento com o craque foi rápido e durou
apenas 10 meses. "Eu fui morar com ele na Holanda. Nós estávamos bem, eu
estava renovando o meu passaporte para ir para a Olimpíada de Atlanta
com ele. Mas eu queria voltar para o Japão, precisava fechar a casa
noturna e resolver um monte de coisas, acabar aquela vida. Os
empresários dele começaram a pressionar, queriam saber como uma menina
tão nova tinha relógio rolex, apartamento duplex e carro importado. O
Ronaldo achava que eu era modelo, que o dinheiro vinha desse trabalho.
Um dia, bebendo, eu falei tudo para ele, da casa noturna, do
relacionamento com outra mulher, e foi aí o término", lembra.
Relacionamento com Ronaldo durou 10 meses.
(Foto: Reprodução/Facebook)
(Foto: Reprodução/Facebook)
Com o fim do relacionamento, Viviane foi para o Japão, finalizou tudo e
retornou para o Rio. Foi quando conheceu Nádia, também ex-namorada de
Ronaldo, e surgiu a ideia das Ronaldinhas. "A princípio, queríamos
montar um programa de futebol. Nós gravamos um piloto e levamos a vários
lugares, até que surgiu o convite para posarmos juntas na Playboy. O
nome Ronaldinhas foi ideia de um fotógrafo. Fomos capa em 13 países e
então veio a dupla musical, em 1998. Esse ano eu não precisei sair com
nenhum homem. Tive minha independência financeira com meu trabalho
artístico. Foi assim até o ano 2000, quando veio a morte do meu pai e me
vi sem chão", recorda.
Viviane conta que foi nesse momento que teve o primeiro contato com a
religião evangélica. "Deus usou uma moça para dizer tudo o que eu
precisava ouvir. Comecei a caminhar com Cristo, entendi a morte do meu
pai e passei a renunciar algumas coisas. Em 2002, fui trabalhar na Copa
como repórter de uma emissora japonesa. Reencontrei um ex-namorado e
engravidei do meu primeiro filho, depois de três abortos e um ovário
retirado. Também voltei a encontrar o Ronaldo e entrevistei ele. Isso
gerou muita polêmica, acharam que eu poderia estar grávida dele, mas não
estava. Ele era casado com a Milene na época, que é muito minha amiga,
até hoje", conta.
Depois da Copa, Viviane voltou para o Brasil mas, em 2005, acabou
retornando para o país asiático, após deixar um trabalho. "Eu ainda
estava em processo de conversão, mas esbarrava na questão financeira.
Achava que dava para conciliar, mas aos poucos entendi que não. Pedi as
contas, fui para Peruíbe e depois levei meu filho para o Japão, para
conhecer os avós paternos. Eu achava que ia conseguir, que estava firme,
ia procurar uma igreja próxima, mas em menos de 24 horas eu já estava
bebendo e me drogando novamente. Foi muito rápido, me afundei de novo.
Conheci o pai da minha filha, que era DJ. Engravidei de gêmeas, mas só
uma menina nasceu", relata.
Viviane Brunieri reencontrou Ronaldo em 2002.
(Foto: Reprodução/Facebook)
(Foto: Reprodução/Facebook)
Depois de três anos no Japão, veio o convite para fazer filmes
pornográficos no Brasil. "Foi a questão financeira que chamou a atenção.
Seria, no mínimo, R$ 500 mil. Era a oportunidade que eu esperava para
ir embora do Japão. Quando o produtor mandou a minuta, eram cinco cenas.
A negociação durou 40 dias. Exigi carro importado e apartamento. Eles
aceitaram. Fui para o Brasil e um mês depois comecei a gravar. Mas foi
muito difícil. Por mais que eu tivesse me prostituído, era camuflado.
Agora seria para todos, e para sempre. A primeira cena foi em São Paulo,
mas eu chorei tanto que não foi aproveitada", lamenta.
A última cena, onde Viviane contracena com vários atores ao mesmo
tempo, foi ideia dela. "Quem sugeriu fui eu. Estava muito louca e fiz
por vingança. Eu queria atingir algumas pessoas em um momento de muita
revolta. Em todas as gravações eu estava muito louca, cheirada. Dediquei
essa cena para algumas pessoas em uma rede social na internet", revela.
Depois dos filmes, Viviane voltou a se prostituir, mas dessa vez no
Brasil. "Eu passei a fazer programas, como são conhecidos aqui. Eu fazia
apresentações em casas noturnas, presenças, stripteases, ficava dois a
três dias nas cidades e sempre fazia os programas, nunca de cara limpa.
Durou um ano, até que, em fevereiro de 2009, em Joinville (SC), fiz show
em uma casa noturna e um empresário da cidade quis fazer programa com a
Ronaldinha. Eu acordei de madrugada, em um quarto de motel, sozinha e
nua. Quando eu olhei na cabeceira, tinha um bolo de dinheiro, uns R$ 5
mil, e preservativos no chão. Fiquei desesperada, não lembrava com quem
eu tinha ido, com quantos homens, o que tinha feito. O meu produtor
disse que eu estava louca, que ninguém me segurava. Depois desse dia,
procurei o meu pastor, uma médica e acabei ficando um mês internada. Foi
quando aconceceu minha conversão definitiva", lembra.
Viviane Brunieri prega o evangelho em todo o país.
(Foto: Ivair Vieira Jr/G1)
(Foto: Ivair Vieira Jr/G1)
Desde então, a ex-Ronaldinha passou a usar as experiências pelas quais
passou para evangelizar e pregar em igrejas da Baixada Santista e de
todo o país. O dinheiro que ganhou foi investido em obras de caridade e
projetos ligados a jovens atletas. "Primeiro surgiu o Resgatando Vidas,
em Peruíbe, onde trabalhava na recuperação de moradores de rua, até
2011. Hoje tenho uma parceria com a Escola de Formação para o Futebol
Profissional (EFAF-PRO), que atua com atletas pré-adolescentes e
adolescentes. Fazemos peneiras por todo o Brasil, é um centro de
treinamento, minha parte é evangelizar, pregar e até batizar", descreve.
Por ter namorado o Ronaldo, Viviane fala com os meninos com propriedade
sobre a tentação das chamadas marias-chuteiras. "Essas mulheres, como
eu fui, são usadas para enganar, engravidar. Eu passo isso para os
jogadores, falo que tudo tem um tempo, para eles não se anteciparem, não
irem para baladas, não beberem. Se eles se esforçarem para conhecer a
palavra de Deus, dificilmente serão enganados", explica.
Apesar de convertida, Viviane afirma que é constantemente tentada a
voltar à antiga vida. "A libertação é diária, sempre existe o temor de
uma recaída. Até 2011, eu ainda recebia propostas para gravar cenas que
não tinha feito. Fora empresários ligando para ir a festas. Uma coisa é
você recusar R$ 300 mil quando tem R$ 1 milhão na conta, outra é recusar
não tendo dinheiro para comprar o leite para a filha, como aconteceu
comigo. Mas eu resisti", conta.
Prestes a lançar um DVD onde contará sua história, hoje Viviane
Brunieri não tem medo da exposição e fala sobre tudo. "O meu filho sabe
que eu fui prostituta, que fiz filme pornô. Foi difícil a minha primeira
conversa, mas hoje ele entende. Sempre quis me tormar uma pessoa
pública, a exposição não me incomoda. Eu fiquei dois anos sem ver
televisão ou internet, um dia, em uma livraria evangélica, li os
comentários abaixo de uma pregação minha. Algumas pessoas me chamavam de
vagabunda. Fui mesmo, mas hoje sou uma nova criatura. Mas fiquei muito
chateada quando falaram dos meus filhos. Hoje, como missionária, não só
leio como respondo. Foi por Deus que eu consegui me livrar de todo o mal
que estava sobre minha vida. E através de mim, várias garotas de
programa têm se convertido. Também digo para os jovens que não se iludam
com o mundo da pornografia. Não vai abrir portas, só a do cemitério.
Sei que eu incomodo, mas o que tenho a dizer é que não posso me calar.
Ser cristão é muito mais do que frequentar uma igreja, vem de dentro
para fora. Eu vivi no meio de gente que tem milhões, mas nada traz essa
paz", conclui.
Viviane Brunieri trabalha com jovens atletas em escolinha de futebol. (Foto: Ivair Vieira Jr/G1)
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