Ouvimos isso sempre que
reclamamos de algo sexista. Foi assim com um post que separava garotas
"para ficar" e "para namorar". Do blog Feminismo pra quê?
por Nádia Lapa
—
publicado
15/08/2013 08:45,
última modificação
15/08/2013 09:58
"Você está exagerando!"
"Não tem coisa mais importante para você se preocupar?"
"Ah, acho isso uma besteira..."
"Mas isso sempre foi assim!"
"É só uma piada. Você não tem senso de humor."
Ouvimos essas frases sempre que reclamamos de algo sexista. Foi assim com o kinder ovo (rosa para meninas, azul para os meninos), com a barriga da Kate Middleton e, ontem, com o post de uma revista feminina para adolescentes que separava "garotas para ficar" e "garotas para namorar".
Claro que o trabalho das feministas não se resume a "reclamar na internet". Existem trabalhos presenciais, como casas de acolhimento a sobreviventes de violência doméstica, cursos profissionalizantes para gerar emprego e renda, atendimento jurídico, pesquisas sobre gênero. As ações se complementam. Ignorar o poder da internet, no sentido de divulgação de ideias, de facilitadora, seria uma burrice tremenda.
Mesmo que uma feminista faça apenas o trabalho virtual, ele não é fácil. É extremamente exaustivo bater na mesma tecla e não ser ouvida. É assustadora a quantidade de relatos de violência que chegam até nós aqui mesmo, virtualmente, e as palavras doem na carne, como se estivessem enfiando agulhas embaixo das nossas unhas.
Porque uma mulher falar, dar sua opinião, já é desafiar o status quo. Somos criadas para ficarmos quietinhas, bonitinhas, calminhas. Devemos ser passivas (até tentam achar justificativas biológicas pra isso). Quando não somos, a reação conservadora vem como avalanche. Um dos métodos para desqualificar a luta é dizer que ela não é importante. Exagero.
Quando reclamamos do texto que claramente separava mulheres em categorias, lemos todas as frases que abrem este post. "O autor não é responsável pela sociedade que controla a sexualidade da mulher", disseram. De fato. Ele apenas a reitera, normatizando-a, sem deixar espaço para a discussão. Como se fosse pouco. Um simples post de blog pode parecer pequeno, mas ele carrega toda a força do discurso opressor.
A repressão sexual não é novidade, tampouco seus efeitos. A Marcha das Vadias está aí, levando milhares de pessoas às ruas no mundo inteiro, justamente por causa deles. Assim com o a Marcha não tem o poder de, sozinha, virar o jogo, também não são tão poderosas as reclamações online. O caminho fácil e certeiro não existe. Se fosse simples assim, nós não estaríamos sofrendo com o machismo.
Nossas reclamações não se restringem ao ambiente virtual (como se desse para separá-lo do "real"...). O trabalho segue em diversas frentes, e problematizar o papel da mídia na sociedade sexista é uma delas, igualmente importante. Pode mesmo parecer exagero, mas somos nós que, ao lermos textos que objetificam mulheres, ouvimos o machismo do dia a dia ecoando. Já passou da hora da mídia tratar as mulheres como sujeito. Já passou faz tempo. Mas ela pode começar agora. Não reclamaremos.
"Não tem coisa mais importante para você se preocupar?"
"Ah, acho isso uma besteira..."
"Mas isso sempre foi assim!"
"É só uma piada. Você não tem senso de humor."
Ouvimos essas frases sempre que reclamamos de algo sexista. Foi assim com o kinder ovo (rosa para meninas, azul para os meninos), com a barriga da Kate Middleton e, ontem, com o post de uma revista feminina para adolescentes que separava "garotas para ficar" e "garotas para namorar".
Claro que o trabalho das feministas não se resume a "reclamar na internet". Existem trabalhos presenciais, como casas de acolhimento a sobreviventes de violência doméstica, cursos profissionalizantes para gerar emprego e renda, atendimento jurídico, pesquisas sobre gênero. As ações se complementam. Ignorar o poder da internet, no sentido de divulgação de ideias, de facilitadora, seria uma burrice tremenda.
Mesmo que uma feminista faça apenas o trabalho virtual, ele não é fácil. É extremamente exaustivo bater na mesma tecla e não ser ouvida. É assustadora a quantidade de relatos de violência que chegam até nós aqui mesmo, virtualmente, e as palavras doem na carne, como se estivessem enfiando agulhas embaixo das nossas unhas.
Porque uma mulher falar, dar sua opinião, já é desafiar o status quo. Somos criadas para ficarmos quietinhas, bonitinhas, calminhas. Devemos ser passivas (até tentam achar justificativas biológicas pra isso). Quando não somos, a reação conservadora vem como avalanche. Um dos métodos para desqualificar a luta é dizer que ela não é importante. Exagero.
Quando reclamamos do texto que claramente separava mulheres em categorias, lemos todas as frases que abrem este post. "O autor não é responsável pela sociedade que controla a sexualidade da mulher", disseram. De fato. Ele apenas a reitera, normatizando-a, sem deixar espaço para a discussão. Como se fosse pouco. Um simples post de blog pode parecer pequeno, mas ele carrega toda a força do discurso opressor.
A repressão sexual não é novidade, tampouco seus efeitos. A Marcha das Vadias está aí, levando milhares de pessoas às ruas no mundo inteiro, justamente por causa deles. Assim com o a Marcha não tem o poder de, sozinha, virar o jogo, também não são tão poderosas as reclamações online. O caminho fácil e certeiro não existe. Se fosse simples assim, nós não estaríamos sofrendo com o machismo.
Nossas reclamações não se restringem ao ambiente virtual (como se desse para separá-lo do "real"...). O trabalho segue em diversas frentes, e problematizar o papel da mídia na sociedade sexista é uma delas, igualmente importante. Pode mesmo parecer exagero, mas somos nós que, ao lermos textos que objetificam mulheres, ouvimos o machismo do dia a dia ecoando. Já passou da hora da mídia tratar as mulheres como sujeito. Já passou faz tempo. Mas ela pode começar agora. Não reclamaremos.
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