8.18.2013

Na era dos ‘it-babies’

Despertar precoce para a moda divide opiniões entre mães e pedagogos

Alonso Mateo, Aila Wang, Harper Seven, entre outros, são alguns dos nomes conhecidos

Joana Dale
Celebridade mirim. Harper Seven, a caçula de Victoria e David Beckham, é alvo dos paparazzi Foto: Terceiro / Agência O Globo
Celebridade mirim. Harper Seven, a caçula de Victoria e David Beckham, é alvo dos paparazzi Terceiro / Agência O Globo

RIO — Mães ansiosas de celular em punho disputavam a primeira fila do desfile de encerramento do curso “Iniciação à moda para it-designers”, ministrado pela estilista Alice Tapajós, da Zibba. Ao som da dançante “I follow rivers”, de Lykke Li, as 20 pupilas, de 6 a 12 anos, revezaram-se na passarela improvisada na sala de convenções de um hotel em Copacabana para exibir no próprio corpo os modelitos criados em sala de aula. Foram os primeiros passos no tapete vermelho de uma geração de meninas que hoje, mais do que consumidoras, querem ser lançadoras de tendências.— As crianças estão se ligando em moda cada vez mais cedo. Uma geração atrás, a iniciação era por volta dos 14, 15 anos — observa Alice Tapajós, que será a professora da segunda edição do curso, idealizado pelo Instituto Zuzu Angel, marcada para outubro.
Enquanto aprendia a costurar na máquina, a espontânea Sofia Spolavori, de 9 anos, dividia com a amiguinha Vitoria Barcelos, de 8, o gosto pela moda.
— Amo preto e brilhos! Cor-de-rosa? Só no batom — diz Sofia, que cita a Zara e a Bisi como suas “lojas preferidas”.
Na passarela, Sofia continuou a esbanjar atitude. Sua mãe, a ex-modelo Kátia Spolavori, era só orgulho:
— Sofia é ligada à natureza. Trouxe de viagem uma bolsinha de píton, mas ela se recusou a usar dizendo que se mataram uma cobra ela não queria o presente.
Consciente ou não, o consumismo crescente é apontado por pedagogas como determinante na formação de minifashionistas.
— Mães, avós e madrinhas incentivam o consumo quando presenteiam as meninas com bolsas “de adulto” — adverte Verinha Affonseca, diretora pedagógica da Escola Nova. — É um crime permitir que uma criança use uma Louis Vuitton ou uma Chanel.
A consultora de imagem Helen Pomposelli, autora do livro infantil “Keka tá na moda”, sugere que mães apresentem it-bags às filhas como um símbolo de identidade, não de status:
— É bacana contar a história da Chanel, que hoje ganhou tantas versões como a história da Branca de Neve.
Lá fora, a it-baby Aila Wang, de 4 anos, foi vista na semana de moda de Nova York com uma micro-Chanel a tiracolo. Sobrinha do estilista Alexander Wang, a pequena fashionista que anda de preto da cabeça aos pés integra o time de minicelebridades internacionais encabeçado por Suri Cruise — a filha de Katie Holmes e Tom Cruise famosa por ser dona de um closet de fazer inveja em crianças (e adultos) do mundo inteiro. Harper Seven, a caçula de Victoria e David Beckham, e Lucia Gibson, cria de Oksana Grigorieva e Mel Gibson, são outras referências em estilo mirim que estão dando o que falar.
Ser minifashionista, porém, não é um privilégio das meninas. Mesmo sem ser filho de um ator de Hollywood, o americaninho Alonso Mateo é considerado uma personalidade da moda na flor de seus 5 anos. Sua conta no Instagram é diariamente abastecida por fotos de seus incríveis looks clicados pela mãe, a produtora Luisa Fernanda Espinosa. Em entrevistas recentes a blogs de moda, a mãe jurou que tem pouca influência sobre o estilo desfilado pelo filho. Segundo Luisa, antes de Alonso Mateo ir para a escola, os dois se posicionam em frente ao guarda-roupa para que ele escolha o modelito do dia.
— Dou alguns pitacos, mas, em geral, é ele quem escolhe tudo sozinho — afirma Luiza, que abastece o armário do filho com peças de marcas como Dior, Gucci, Lanvin, Little Marc Jacobs e Dolce & Gabanna.
Há quem suspire pelo estilo do pequeno Alonso Mateo. Mas há quem ache que o menino deveria tirar o cachecol do pescoço e lambuzar a roupa de sorvete como os garotos de sua idade.
Para a psicóloga Lais Fontenelle Pereira, do Instituto Alana, a fashionização precoce põe a “sociedade do espetáculo em seu limite”.
— O surto começa com a lista do enxoval de um bebê. Fabricar um “it-baby” é uma loucura: crianças precisam de roupas práticas e confortáveis para se desenvolver. Não de uma calça de lurex dourado toda justinha — ressalta a psicóloga. — Não sou contra a moda e não acho ruim uma criança de 2 ou 3 anos escolher a sua própria roupa. Só acho que a questão da moda como forma de representação social e de comunicação está sendo esvaziada.
Por terras brasileiras, mamães famosas e anônimas também entraram na onda de postar à exaustão fotos dos filhos nas redes sociais. Duas semanas atrás, a apresentadora Adriane Galisteu criou uma conta no Instagram para o seu pequeno Vittorio, de 3 anos recém-completados. Filha de Ticiane Pinheiro e de Roberto Justus, a carismática Rafinha (ainda) não tem uma página para chamar de sua nas redes sociais, mas, mesmo assim, os seus vestidos de princesa costumam ser publicados em galerias de fotos de sites especializados em celebridades.
— Ter um filho virou um espetáculo público nas redes sociais. Alguns momentos da vida deveriam ser mais privados — sugere Lais. — As mães estão perdendo tanto tempo publicando fotos dos filhos produzidos com paetês no Facebook que, às vezes, esquecem de dar carinho e atenção a eles. É um clique, um flash, uma foto. Daqui a a pouco, a mãe vai comprar um vestido para a filha tirar uma foto e nunca mais vai usar aquela roupa, pois as crianças ainda crescem muito rápido.

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