Operação Lava Jato chega às obras para Olimpíadas no Rio
Marcelo Odebrecht e toda a diretoria da empreiteira anunciaram que farão acordo de colaboração com a Lava Jato
Bruna Fantti
Rio
- Preso desde 19 de junho do ano passado, o homem forte da empreiteira
Odebrecht se rendeu e resolveu contar o que sabe sobre o esquema do
desvio de recurso da Petrobras. É muita coisa. Marcelo Odebrecht e toda a
diretoria da maior construtora do país anunciaram na noite desta
terça-feira que farão acordo de colaboração com a Operação Lava Jato. A
iniciativa faz tremer o governo e a oposição e pode agravar ainda mais a
crise política. Segundo nota assinada pela empresa, os diretores da
empreiteira estão dispostos a falar sobre o mais delicado dos assuntos
da política: o financiamento de campanhas eleitorais. “Apesar
de todas as dificuldades e da consciência de não termos responsabilidade
dominante sobre os fatos apurados na Operação Lava Jato – que revela na
verdade a existência de um sistema ilegal e ilegítimo de financiamento
do sistema partidário-eleitoral do país - seguimos acreditando no
Brasil”, diz o documento da Odebrecht.
Obra da Linha 4 do Metrô: cartão de visita da Olimpíada do Rio está sob a investigação da Lava Jato
Foto: Alexandro Auler / Agência O DIA
Xepa A decisão da delação da
diretoria da Odebrecht ocorreu no mesmo dia em que os investigadores da
Lava Jato desencadearam a 26ª fase da operação, apelidada por eles de
Xepa. A operação foi desencadeada em oito estados. Em todos, o foco
ficou concentrado em obras feitas pela construtora. Duas delas estão no
Rio de Janeiro, o Porto Maravilha e a Linha 4 do Metrô. É a primeira vez
que iniciativas do chamado Legado Olímpico ficam sob a mira da Lava
Jato.
A Odebrecht faz parte dos consórcios responsáveis pelas
construções. Ao todo, nesta fase da operação, quatro suspeitos tiveram a
prisão preventiva decretada; outros nove, a prisão temporária. O
presidente da Supervia, Carlos José Vieira Machado da Cunha, foi uma das
28 pessoas conduzidas para depor. Em relação às obras do
Porto, a Prefeitura do Rio disse que as licitações foram fiscalizadas.
Já o governo do Estado não quis se manifestar. Os nomes das
obras do Rio aparecem em uma série de planilhas e e-mails apreendidos
com a ex-secretária do ‘Setor de Operações Estruturadas’ da empreiteira,
Maria Lúcia Tavares, que no início deste mês fez um acordo de delação
premiada, após ser presa. Por meio de codinomes e usando um
programa chamado ‘MyWebDay’, a secretária extraía semanalmente
programações para pagamentos de propinas. Uma nota apreendida
sugere o pagamento de R$ 2,5 milhões a um emissário chamado
‘carioquinha’ nas obras do metrô, cuja senha para viabilizar o pagamento
era “Macarrão”. Todas as transações ilícitas, segundo Maria Lúcia, eram
pagas em espécie a emissários que entregavam a pessoas conhecidas
somente por apelidos. Outras obras também podem ter recebido
dinheiro paralelo para beneficiar a Odebrecht em licitações, como a do
estádio do Corinthians, em São Paulo e a do aeroporto de Goiânia. Durante
coletiva de imprensa, o procurador da força-tarefa Carlos Lima afirmou
que as investigações ainda serão aprofundadas. “Há indicativos de que os
recebedores se referem a obras e serviços do Governo Federal e de
diversos Governos estaduais e municipais”, analisou Lima. Por dentro da casa de Paul Um
dos executivos da Odebrecht presos nesta nova fase é o o chefe da
Odebrecht Realizações Imobiliárias, Paul Eli Altit. A Polícia Federal
também realizou um mandado de busca e apreensão na sua residência,
localizada na Lagoa, Zona Sul. A movimentação chamou a atenção
dos moradores do luxuoso prédio, um dos mais caros do bairro. Um
apartamento no edifício custa em média em R$ 5 milhões. O
apartamento está localizado no Giacomo Puccini. Construido no começo dos
anos 80, tem apenas dois apartamentos em cada pavimento , sendo que
cada coluna tem um elevador social e outro de serviço. Cada unidade
possui 380 metros de área útil, em três ambientes, duas dependências de
empregadas e quatro vagas na garagem, sendo que algumas unidades chegam a
ter cinco vagas. Paul Elio Altit é um dos nomes envolvidos
que aparece em um e-mail da negociação de um possível pagamento de
propina às obras do Porto Maravilha. Na conversa eletrônica, ainda
participam Antonio Pessoa e Rodrigo Costa Melo, outros executivos da
empreiteira da Odebrecht. Da mesma maneira que Marcelo Odebrecht, todos
esses empresários resolveram colaborar com as delações da Lava Jato.
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