7.29.2010

Cientistas estão a um passo de provar que a asma está ligada à rinite e ao eczema

Cientistas estão a um passo de provar que a asma está ligada à rinite e ao eczema
27/07/2010
Infecções respiratórias, variações de temperatura e umidade, contato com poeira, pólen e mofo são alguns dos gatilhos para a asma. Infelizmente, não existe cura para o transtorno. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 300 milhões de pessoas sofram com o mal em todo o mundo.

No Brasil, o problema atinge 10% da população. Dados do Ministério da Saúde revelam que 222 mil pacientes foram internados nas unidades públicas de saúde espalhadas pelo país em decorrência da asma no período de abril de 2009 a abril de 2010. Pelo menos 2,5 mil brasileiros morrem a cada ano por conta da doença. A boa notícia é que os cientistas começaram a desvendar os mecanismos que envolvem a doença.

Pesquisas em andamento nos Estados Unidos e na Austrália indicam que asma, rinite e dermatite atópica (eczema) podem ser a mesma moléstia se manifestando em diferentes partes do organismo. Se as suspeitas se confirmarem, as chances de prevenir a asma serão consideráveis.

O imunologista Antônio Zuliani, professor de alergia e imunologia da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual Paulista (Unesp), expõe a relação estudada pela comunidade científica. Ele explica que existe uma trajetória típica, identificada por especialistas que tratam esses problemas como tríade alérgica ou marcha atópica. Tudo começa na primeira infância, quando os bebês apresentam os primeiros sinais de eczema — aquelas lesões vermelhas na pele que muitas vezes exigem até internação“.

“Após a dermatite é comum o surgimento das dificuldades respiratórias na forma de chiados no peito e, por volta dos 4 ou 5 anos, a asma se manifesta. A rinite se faz presente a partir dos 7”, observa. Zuliani comenta que um estudo australiano investiga a trajetória de 8,5 mil pacientes a partir dos 7 anos. O trabalho comprova o que ele próprio vivencia no atendimento aos doentes.

O resultado parcial divulgado pelos pesquisadores das universidades de Melbourne e Monash revela: quem pegou eczema na infância tem uma tendência 70% maior de desenvolver asma até a idade adulta, em comparação aos que não sofreram com a dermatite. “E olha que interessante: observo que 80% dos asmáticos que atendo já enfrentaram crises de rinite também”, constata o médico.

Nos Estados Unidos, especialistas investigam a relação entre o eczema e a asma em camundongos. Raphael Kopan, professor do departamento de Biologia do Desenvolvimento da Faculdade de Medicina da Washington University, no Missouri, e um dos autores desse estudo, revela que a pesquisa americana pode ser a chave para se entender a marcha atópica.

“A pele lesionada pelo eczema libera uma substância que desencadeia poderosa resposta imune conhecida como TSLP (linfopoietina estromal tímica). Ao ingressar na circulação e atingir os pulmões dos roedores, a molécula provoca neles os mesmos sintomas da asma”, esclarece. O achado animou o grupo de Kopan no sentido de ser possível agora produzir algum tipo de medicamento para combater a asma. “Mostramos que a pele pode atuar como um órgão de sinalização. Queremos descobrir como impedir que ela produza o TSLP defeituoso. Isso feito, a ligação entre o eczema e a asma pode ser quebrada”, garante.

O que fazer nas crises

A OMS considera a asma a doença crônica mais comum entre as crianças. A estudante Simone Ramos, 13 anos, endossa as estatísticas. As primeiras crises vieram acompanhadas de febre, cansaço, tosse e falta de ar. A bombinha com broncodilatador é usada diariamente. Ainda assim, a asma entra em cena pelo menos uma vez por mês. “Simone apresentou problemas na pele quando bebê e também tem rinite. As crises de asma não escolhem estação do ano e já tentamos as famosas vacinas contra alergia respiratória. Infelizmente, não surtiram muito efeito. Simone convive com a asma desde 1 ano de idade”, revela Eunice Ramos Bastos Rego, mãe da adolescente.

O pneumologista Laércio Moreira Valença explica que a asma pode se manifestar de forma leve ou agressiva. O principal tratamento ainda é o medicamentoso. Segundo ele, nos últimos 10 anos, houve um avanço significativo referente às medicações inalatórias. “Os corticosteroides inalados por meio de spray, pó ou nebulização preservam os órgãos não comprometidos pela asma. As doses são menores em relação aos comprimidos e a droga atua diretamente nas vias aéreas. Os efeitos colaterais, como hipertensão, ganho de peso, aumento da glicose e osteoporose são moderados, ao contrário do que acontecia antigamente”, aponta.

Cuidados

Os corticosteroides orais são usados apenas quando a crise é grave. “A boa higienização de roupas e ambientes, a observação do que causa alergia e a prática de esportes são fundamentais para prevenir crises”, alerta. Esses cuidados ajudam o arquiteto André Lima a reduzir a frequência das crises. “Minha profissão me coloca em contato com a poeira, não tem jeito. Mas, evito locais carpetados e procuro praticar atividades físicas”, conta.

Um estudo realizado na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo indica que a prática de exercícios respiratórios também pode controlar e até a evitar crises asmáticas. Intitulado de “Os efeitos de um programa de exercícios respiratórios para idosos asmáticos”, o trabalho foi realizado pela professora de educação física Ludmila Tais Yazbek Gomieiro. “No dia a dia não enchemos nem esvaziamos o pulmão o quanto deveríamos. Aplicamos um treino leve e específico duas vezes por semana, em sessões de uma hora, durante quatro meses em pacientes idosos, crianças e adultos jovens podem alcançar os mesmos efeitos”, especifica.

Fonte: Correio Braziliense

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