12.14.2011

Brasileiros tratam cirrose com nova técnica de transplante


Cirurgia usa partes de fígados de dois doadores vivos pela primeira vez na América

Darci Bladt com os doares, a sobrinha Julian e o filho Natanael Foto: Divulgação/Hospital Angelina Caron

Darci Bladt com os doares, a sobrinha Julian e o filho Natanael Divulgação/Hospital Angelina Caron
RIO - Pessoas que sofrem de cirrose e precisam de transplante de fígado, mas não encontram um doador compatível têm uma nova chance. Médicos brasileiros realizaram com sucesso, pela primeira vez na América, um transplante usando partes dos órgãos de dois doadores vivos. A cirurgia foi feita em novembro no Hospital Angelina Caron, Curitiba, em Darci Moacir Bladt, de 52 anos. Ele recebeu partes do fígado de seu filho, Natanael, de 22 anos, e de sua sobrinha, Julian, de 26 anos. A técnica é mais segura para o doador e atende ao receptor, quando um só doador não é suficiente.
Darci, que sofria de cirrose devido ao abuso de álcool, já saiu do CTI e passa bem. A cirurgia, de alta complexidade, envolveu 15 profissionais, durou 17 horas, e foi liderada por João Eduardo Nicoluzzi, chefe do Serviço de Transplante do Hospital Angelina Caron; e Mauro Roberto Monteiro, chefe do Serviço de Hepatologia. No transplante de fígado há três possibilidades: doador em morte encefálica, um doador vivo e agora, no Brasil, com dois doadores vivos. Em doentes adultos, quando não se consegue um órgão de cadáver, a saída é retirar 60% do fígado de um doador vivo. Esta parte corresponde a 0,8 a 1% do peso do receptor. Por exemplo, uma pessoa com 70kg precisa de algo em torno de 560g a 700g de fígado de doador. Mas no caso de Darci isso não foi possível.
O paranaense estava muito acima do peso, característica comum em doentes de fígado. E entrou na fila de transplante
porque seu órgão entrou em falência, e o paciente já apresentava encefalopatia hepática. Esta síndrome causa pequenas alterações de personalidade e na cognição, hemorragia digestiva, distúrbio da coagulação, câncer e coma. Com um peso de 86kg, Darci precisava de um órgão de 860g. Um doador só não era suficiente. A saída foi usar cerca de 30% do fígado de Natanael e mais 30% de Julian, diz Nicoluzzi:
— O transplante de fígado é uma das cirurgias mais complexas, requer equipes altamente qualificadas. Além disso, não basta o parente querer doar o fígado. Ele precisa passar por triagem rigorosa. A técnica que usa dois doadores vivos é exceção, para casos especiais como o de Darci.
O órgão do doador regenera-se em quatro semanas. O fígado implantado se recupera aos poucos. Nicoluzzi e equipe aprenderam a técnica no Hospital Asan (na Coreia do Sul), referência mundial em transplantes. Agora os paranaenses avaliam a possibilidade operar outros pacientes. Se o procedimento entrar na rotina do hospital, será custeado pelo sistema público, pois o Angelina Caron é centro de referência em transplantes pelo Ministério da Saúde. As principais causas de cirrose hepática são o alcoolismo e as hepatites B e C.
O Globo

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