1.13.2012

Planos de saúde vão retirar silicone

Recolocação, porém, não será feita se motivo do implante inicial tiver sido apenas estético

Rio - Mulheres com próteses mamárias de silicone das marcas Poly Implant Prothese (PIP) e Rofil — já rompidas ou com risco de vazamento — poderão fazer a retirada gratuitamente por meio dos planos de saúde. Entretanto, a príncípio, a colocação de um novo implante só terá cobertura dos planos caso a primeira cirurgia tenha sido de reconstrução da mama — indicada em casos de lesões traumáticas ou tumores, sem finalidade estética.
A informação foi divulgada nesta quarta-feira pela assessoria de imprensa da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Na véspera, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) havia dito que, assim como a rede pública de saúde, os planos particulares fariam as cirurgias independentemente do motivo. Em nota, a ANS afirmou que irá se reunir hoje com a Anvisa e o Ministério da Saúde para discutir detalhes sobre o assunto. Por telefone, a assessoria afirmou que a decisão ainda pode mudar.
Arte: O Dia
Arte: O Dia
Nesta quarta-feira, a Anvisa oficializou no Diário Oficial da União a determinação de que sejam recolhidas próteses da marca holandesa Rofil, como já fez, em 2010, com a francesa PIP. Os dois fabricantes utilizaram em seus produtos gel industrial, e não médico, e apresentam maior risco de rompimento.
O recolhimento das próteses do mercado, segundo a agência, deve ser feito pela empresa importadora. Ela deve, em 30 dias, enviar um relatório para o governo federal e ficará responsável pela guarda dos produtos. O documento será inspecionado pela Anvisa e amostras devem ser recolhidas, segundo o texto publicado no Diário Oficial.

Governo recebe críticas por não pagar troca de próteses de silicone não rompidas

Procon defende que Anvisa é responsável por vítimas da fraude

A artista Denise Villar mostra exame que comprova as sequelas deixadas pelo uso de próteses feitas com silicone industrial Foto: Marcelo Piu / O Globo
A artista Denise Villar mostra exame que comprova as sequelas deixadas pelo uso de próteses feitas com silicone industrial Marcelo Piu / O Globo
RIO – A decisão do governo brasileiro de não garantir a substituição das próteses de silicone da francesa PIP e da holandesa Rofil que ainda não se romperam assusta pacientes e preocupa médicos.
Enquanto as autoridades de saúde francesas e alemãs recomendam que todas as pacientes sejam operadas — como orientou a Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética —, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) decidiu que o SUS vai pagar a troca apenas das próteses que se romperem. A Sociedade Brasileira de Mastologia alertou que os implantes apresentam um índice de ruptura sete vezes maior que os demais.
— O SUS não tem dinheiro para pagar remédio para todos, como vai pagar essas cirurgias caríssimas?
Eles fizeram isso para encobrir a incompetência da Anvisa — diz André Luiz de Miranda Barbosa, cirurgião plástico e professor da Faculdade de Medicina de Santo Amaro. A advogada Erika Rucker, de 26 anos, tem próteses PIP desde 2009 e já decidiu trocar os implantes por conta própria, mesmo que eles não se rompam. Ela disse que, desde que as notícias da fraude surgiram, não dorme mais de bruços, receia exercitar a parte superior do corpo e só tira o sutiã para tomar banho. Tudo com medo de um problema sério ocorrer:
— Só o fato de ter silicone industrial dentro de mim já caberia um processo, porque não corresponde ao que comprei. Até pretendia processar a Anvisa, mas não vou fazer porque a Justiça Federal não anda. Acho um absurdo, a fiscalização tem que ser feita pelo menos todo ano. Todos têm culpa.
Procon: Anvisa é responsável
A consultora jurídica do Procon-RJ Camile Felix Linhares alerta que a Anvisa pode ser ré em um processo, ao lado da importadora, médicos e hospitais envolvidos na cirurgia.
A artista plástica Denise Villar Berretta está processando a importadora das próteses PIP, a EMI. Em 2010, ela substituiu a prótese PIP que vazou e, mesmo assim, continua com linfonodos de silicone que terão que ser retirados num terceiro procedimento.
— Na época, procurei a Anvisa e a EMI e eles não me responderam. Eu me senti abandonada. É um absurdo o governo não tirar essas próteses preventivamente, tive um problema sério — contou ela, que criou uma página no Facebook em que mulheres vítimas da fraude discutem o problema.
Na opinião do cirurgião Jorge Wagenführ Júnior, proprietário da produtora de implantes de silicone Lifesil e que participou da reunião na Anvisa, a agência deveria ter uma fiscalização mais rigorosa em fábricas e artigos médicos importados:
— Todo mundo é vítima dessa fraude feita lá fora, mas, para evitar problemas, a revalidação desses produtos deveria ser nacional. Para Júnior, as sociedades médicas deveriam estabelecer prazo para fazer a troca de todos os implantes mamários; hoje, os médicos recomendam revisão após dez anos, mas não há uma determinação. No caso da PIP e da Rofil, após análise dos casos das pacientes com problemas, deveria ser determinada a troca em menor prazo, para evitar que problemas mais graves ocorram, sugere Wagenführ Júnior. Segundo o cirurgião, nenhum exame é capaz de mostrar o risco iminente de ruptura de uma prótese, o que pode dificultar o acompanhamento das pacientes, proposto pelo governo.
Estima-se que 12,5 mil brasileiras tenham próteses PIP e 7 mil, Rofil. A Anvisa, o Conselho Federal de Medicina e várias entidades médicas estão levantando dados para elaborar as diretrizes para acompanhamento dos casos. Uma dificuldade é que ninguém sabe quando a fraude começou.
— Não temos dados para afirmar que todas as próteses PIP e Rofil foram fraudadas. Elas estavam sendo vendidas há anos — diz Wanda Elizabeth Corrêa, presidente da Comissão de Silicone da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.
O Globo / O Dia

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