Próximos de uma condenação cada vez mais provável, mensaleiros já planejam a vida na prisão. Para passar o tempo, levarão na bagagem laptops, DVDs e até livros de poesia. E alguns estão preocupados em como assistirão aos jogos da Copa
Izabelle TorresO maior julgamento da história do Supremo Tribunal Federal (STF) pode ter seu desfecho esta semana, com a prisão de 23 condenados por participar do esquema do mensalão. A iminência da cadeia levou grande parte dos réus a replanejar sua existência, depois de uma condenação cada vez mais provável. Na última semana, ISTOÉ conversou com pessoas próximas aos protagonistas do escândalo. A primeira preocupação dos condenados e de seus advogados é saber onde irão cumprir a pena recebida. Os réus querem ficar próximos das famílias, mas ao mesmo tempo num lugar onde sua integridade física possa ser garantida.
O ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares prefere ficar em São Paulo, perto da esposa. Na mala, vai colocar alguns livros de literatura e poesia – o preferido é Cora Coralina – e alguns DVDs de bossa nova.
Na conta de Delúbio, a condenação de oito anos e 11 meses de detenção deve resultar em pouco menos de dois anos em regime fechado. Um tempo que ele diz que vai encarar como mais uma missão do PT. Delúbio já organizou a administração da sua imobiliária online, que será comandada por sua irmã, Delma Soares. A preocupação do ex-tesoureiro é se conseguirá assistir ao futebol, especialmente aos jogos da Copa do Mundo. Também gostaria de se manter informado sobre a vida política e partidária enquanto estiver detido. Quem esteve com ele durante os últimos dias diz que a família tem evitado tratá-lo como vítima e que o próprio Delúbio admite que esperava um resultado desfavorável em razão do que chama de viés politizado do julgamento.
José Dirceu não tem grandes preocupações financeiras, ao contrário do deputado federal José Genoino (PT-SP), ex-presidente do partido condenado a seis anos e 11 meses de detenção em regime semiaberto. Na última quinta-feira, enquanto os ministros do STF julgavam os últimos embargos de declaração, Genoino entrou com um pedido de aposentadoria por invalidez como deputado federal. Foi a saída pensada pelo advogado Luiz Fernando Pacheco para livrá-lo de uma votação sobre a perda de mandato e garantir salário integral de R$ 26,7 mil. O pedido foi entregue à direção-geral da Câmara e deve ser analisado por uma junta médica da Casa na próxima semana. Técnicos legislativos que trabalham no setor afirmam que o pedido deve ser aceito. Para isso, levarão em conta os argumentos do médico Roberto Kalil, do Hospital Sírio-Libanês, onde o deputado foi operado em julho para correção de dissecção de aorta. Kalil afirma que o deputado sofre de cardiopatia grave, “que o leva a ser atingido pelo risco social de incapacidade total e definitiva para o trabalho”. Para o médico, as tensões em torno da atividade política e as viagens frequentes de São Paulo para a capital podem agravar sua doença.
A preocupação em não se afastar da política é o que motiva o deputado Valdemar da Costa Neto (PR-SP) a programar sua prisão para Brasília, apesar de ser oficialmente de São Paulo. Em um jogo combinado, o cacique do PR pretende cumprir sua pena na capital para acompanhar de perto as movimentações partidárias. Enquanto estiver preso, viverá do salário de funcionário do partido e pretende dar expediente na sede da legenda durante o dia, já que estará em regime semiaberto. Valdemar tem repetido a amigos que estava havia anos se preparando para a cadeia e considera quase nula a possibilidade de haver um novo julgamento por meio de embargos infringentes. Mas, em tese, essa possibilidade existe, mesmo que remota.
Na terça-feira 10, os advogados dos condenados vão entregar aos ministros um memorando defendendo o uso desse tipo de recurso no julgamento. A ideia é que esses novos argumentos ajudem os ministros a decidir se aceitam ou não esses embargos, uma vez que ele é previsto no Regimento Interno da Corte, mas não na lei 8.038/90, que disciplina os processos no STF e no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Três ministros ouvidos por ISTOÉ afirmam que a lei deve sobrepor-se ao regimento e por isso os embargos tendem a ser rejeitados. A expectativa desses ministros é que haja pelo menos seis votos contrários ao uso dos embargos infringentes no julgamento do mensalão.
A data é bem posterior ao que pretendia o presidente da corte, Joaquim Barbosa, que pressionou os colegas para concluir o julgamento na semana passada. Nos bastidores, os ministros admitem que não concordaram com a pressa proposta pelo relator do caso por dois motivos. O primeiro, mais técnico, se refere à possibilidade de os advogados alegarem cerceamento de defesa e condenação sem obediência aos prazos legais. O segundo motivo é pessoal. Os ministros entenderam que Barbosa tentava acelerar o fim do julgamento para abrir espaço ao decreto de prisão imediata. Os réus seriam presos às vésperas das comemorações de 7 de setembro, em que ele é convidado do palanque presidencial.
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