Amizades
Há uns anos li esta frase e nunca mais a esqueci. Sempre fui demasiado
cor de rosa e defensora de amizades, do amor, de sonhos pintados de
sorrisos, felicidade e de cor-de-rosa. A minha mãe sempre me ensinou a
não confiar em ninguém "de fora". Sempre foi muito cética em relação a
amizades. Ensinou-me a resolver os meus problemas sozinha e que os
problemas de quatro paredes ficam nessas quatro paredes. Sempre fui um
pouco rebelde por isso não dei atenção à minha mãe. Arrependo-me hoje em
dia de não ter seguido esse conselho algumas vezes, ou mesmo a maioria
das vezes. Um defeito meu é confiar, abrir o coração sem pensar nas
consequências. Tenho 21 anos e ainda hoje não consegui aprender. Tento,
juro que tento, mas não sei como se faz. Como é que não se confia no
outro? Isto é tudo muito complicado para a minha pessoa. Sempre a achei
muito pessimista em relação a estas coisas. Quando era pequena
perguntava-me sempre o porquê de não confiar nos adultos. O porquê de
não pedir ajuda quando estava triste. O porquê de fingir um sorriso se
queria soltar uma lágrima? Sempre me deixou intrigada. Mas, infelizmente
com o passar dos anos vou cada vez percebendo melhor a minha mãe.
Percebo quando ela me dizia para confiar em primeiro lugar na família e
estar de pé atrás com "os de fora". Percebo quando me tentava ensinar
que existe certas pessoas que nos podem enganar e magoar. Acho que este
ceticismo todo à volta da "coisa" se deve a um coração magoado. No
fundo, queria-me proteger.
A minha família sempre deu tudo o que tinha e isso é um dos meus maiores
orgulhos. Se alguém precisasse de ajuda, de alguma coisa, todos nós nos
desmontávamos em esforços para ajudar. Contudo levámos algumas
cabeçadas quando a situação se invertia. Ainda hoje sou assim mas
começo, lentamente, a proteger-me mais. Não quero ser uma daquelas
adultas frias e desconfiadas de tudo e de todos mas é preciso ter
cautela em alguns momentos.
Cada vez mais me surpreendo com este mundo adulto ao qual entrei sem dar
conta. As invejas, as traições, as injustiças não faziam parte do meu
plano para esta fase. Sinto que é cada um por si. Alguns podem contar
com a família, outros nem por isso. Não existe limites para um
objetivo. Se for preciso passar por cima de alguém é via verde e isso
faz-me confusão. Onde estão os valores, os ideais, os ensinamentos
passados? Acho que quanto mais se cresce mais se desaprende. Olha-mos
cada vez mais para o nosso umbigo e esquecemo-nos de olhar para o outro.
Só olhamos se for por inveja, para espetar facas nas costas.
Esquecemo-nos do significado de certas palavras tão cruciais e
importantes como a amizade, o respeito, o amor, a confiança e o amor
próprio. Quantas e quantas vezes dou por mim a pensar "como é possível"
vivermos todos assim. Ouço muitas vezes "Marta as pessoas são assim, vai
te habituando, são interesseiras" e querem que com isso também o seja.
Podemos ter o mundo de maus exemplos, e temos, mas nós continuamos a
alimentá-los. Damos mais atenção a uma atitude infeliz do que feliz.
Apontamos o dedo mas fazemos igual na primeira oportunidade com a
desculpa que "toda a gente faz". Todos sabem que e feio mentir mas fazem
com a desculpa de que "todos fazem, se os outros fazem eu também vou
fazer". E continuamos assim. "Se o outro rouba, também vou roubar", "Se o
outro fez X vou fazer X e Y". Justificamo-nos com as atitudes más dos
outros, esquecendo as outras. As boas.
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