Paulo Moreira Leite
Mais grave do que os atos de espionagem do governo americano contra o Brasil é a reação da oposição diante a denúncia de que a NSA tentou desvendar segredos da Petrobrás
Os adversários do governo querem adiar o leilão do pré-sal com o argumento de que será um evento de cartas marcadas.
Nem sabem o que foi apurado pelo serviço secreto norte-americano e
já querem suspender a venda dos direitos de exploração de Libra, que
contém reservas imensas e deve atrair uma montanha de investimentos para
o país.
Quanta pressa, não?
Vamos combinar que, exagerando na indignação repentina, esse
pessoal está exagerando na boa vontade – ou já seria submissão? – diante
de potências estrangeiras.
A missa nem começou e eles já querem se ajoelhar. Tentam ajudar a
NSA a cumprir o único objetivo estratégico dos EUA em relação à
Petrobrás ao longo da história: prejudicar a empresa em toda e qualquer
oportunidade que se apresente.
Será que este antiamericanismo súbito tem algo a ver com a
possibilidade de se bloquear um evento que, conforme a maioria dos
analistas, pode dar um fôlego novo e importante ao conjunto da
economia?
Quem sabe tenha impacto em 2014?
Alguma dúvida?
Não há informações precisas sobre os segredos quebrados pelos
espiões. Mas nós sabemos muito bem qual é a finalidade de sua ação. Por
caminhos sujos e obscuros, querem, mais uma vez, enfraquecer a maior
empresa brasileira.
Trata-se de um novo lance num movimento que nasceu na década de 1950, quando a Petrobrás foi criada.
Mais conhecido aliado dos Estados Unidos na época, o queridinho dos
conservadores Carlos Lacerda liderou a campanha que culminou no
emparedamento e suicídio de Vargas.
No Irã, na mesma época, um processo semelhante levou à derrubada de um governo eleito.
Em vários países árabes, a ação americana ajudou a levantar e proteger ditaduras dóceis a seus encantos.
O que se tenta, há 60 anos, é encontrar caminhos e atalhos que
possam diminuir a Petrobrás, reduzir suas receitas e inviabilizar seus
investimentos. Tentou-se a privatização no governo FHC. O projeto foi
abandonado pelo receio da reação popular.
Petróleo é economia. E é política, também. Não se perdoa o esforço
de uma empresa do Estado para articular uma política de energia
autônoma, capaz de garantir que as reservas brasileiras sejam patrimônio
do país, em vez de serem incorporadas às reservas estratégicas dos
EUA.
É sintomático que a ação dos espiões se volte contra a empresa. Não
se poderia esperar outra coisa. Queriam que a NSA fosse espionar
carrinhos que vendem suco na praia?
Adversária editorial da Petrobrás, não é nem um pouco surpreendente
que a TV Globo procure dar um destaque devido e também indevido à ação
dos espiões na empresa. Seus repórteres conseguiram apurar que a NSA
tentava espionar a Petrobrás. Não foi possível chegar ao que
descobriram. E só. A empresa divulgou, ontem, nota em que nega qualquer
desvio em seus sistemas de segurança.
Vendo a reportagem do Fantástico, domingo, cheguei a me perguntar:
será que eles vão dizer que há indícios que iriam justificar o adiamento
do leilão?
Não, a Globo não fez isso.
Pode ser que surjam fatos novos, capazes de justificar suspeitas maiores.
Deverão ser examinados com cautela redobrada e muita prudência, em
função dos interesses políticos envolvidos. Está na cara que deixar a
Petrobrás fora do maior leilão de sua história e um dos maiores do mundo
será um golpe formidável no futuro da empresa, em seu equilíbrio
econômico e em sua perspectiva de mercado.
Não se pode descartar até falsos dossiês para justificar um
ambiente de incerteza e insegurança. Agentes do serviço secreto não
precisam cumprir preceitos morais nem respeitar a verdade. O universo é
outro. Seu jogo é duplo, triplo. A mentira faz parte essencial do
negócio. Sempre trabalharam assim – antes mesmo da invenção do
computador.
Não há o menor indício de que os segredos do leilão tenham sido
quebrados. Mas a oposição pegou a senha e já está querendo entrar no
baile.
Dá para entender. Mas também dá para lamentar.
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