Hormônio da felicidade? Saiba como os antidepressivos funcionam
- Danielle Barg
Ao contrário do que muita gente pensa, a felicidade momentânea não é vendida na farmácia mais próxima. Os antidepressivos, erroneamente utilizados por algumas pessoas como calmantes, reguladores do sono ou inibidores da angústia e da ansiedade, são medicações que atuam nos transtornos depressivos e, por este motivo, devem ser tomados apenas sobre prescrição e acompanhamento médico.
Para decifrar algumas das principais dúvidas relacionadas a este tipo de remédio, alguns especialistas da área garantem que a fórmula da felicidade não se encontra em cápsulas, e sim, na busca pela real causa dos problemas. Entender a origem das dores da alma continua sendo a forma mais simples - e natural - de encontrar o equilíbrio emocional.
Como agem no cérebro
Ricardo Moreno, coordenador do Programa Transtornos Afetivos do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, explica que os antidepressivos agem no cérebro aumentando a disposição de substâncias chamadas neurotransmissores. "O aumento destas substâncias promove uma série de eventos químicos dentro das células nervosas, que se traduzem na melhora dos sintomas e sinais da síndrome depressiva."
Antidepressivo x pílula da felicidade
Os especialistas são enfáticos: não existe hormônio da felicidade. "O que existe são os neurotransmissores funcionando adequadamente", diz José Paulo Pinotti, psiquiatra do Hospital São Camilo. "Eles proporcionam a sensação de bem estar que se convencionou chamar de felicidade", conclui. Moreno complementa: "os medicamentos antidepressivos funcionam em pessoas com doenças psiquiátricas. Não melhoram o humor ou tornam indivíduos normais mais felizes".
Indicações
É preciso critério para perceber a necessidade de uso dos antidepressivos, segundo explica Amilton Santos Junior, médico psiquiatra da Unicamp. Ele elenca uma série de fatores, que, combinados e persistentes por pelo menos duas semanas, podem representar indícios de algum distúrbio psicológico que exija este tipo de medicação, mas sempre com acompanhamento clínico.
Amilton indica como pontos de observação: "humor deprimido na maior parte do dia, diminuição do interesse e prazer nas atividades, perda ou ganho significativo de peso sem estar em dieta, insônia ou excesso de sono, agitação, fadiga ou perda de energia quase todos os dias, sentimento de inutilidade, culpa, dificuldade de concentração e pensamentos de morte".
Ele ressalta que, para indicar algum problema mais sério, estes sintomas devem causar sofrimento significativo ou prejuízo na vida social.
Contra-indicações
De acordo com os especialistas ouvidos, os antidepressivos são bem tolerados por qualquer tipo de pessoa, porque cada grupo de medicação atende a uma necessidade diferente. No entanto, a avaliação sobre as contra-indicações deve ser feita pelo médico, que irá avaliar o comportamento do paciente e condições especiais.
Reações adversas
De um modo geral, as reações mais comuns são as alterações do sono e apetite, mudanças intestinais e dores de cabeça, segundo indica Pinotti. Ele afirma que, para minimizar os problemas, basta seguir a indicação de um médico e jamais tomar por conta própria. "Só use os remédios prescritos e pergunte a o seu médico quais efeitos esperar. Tenha uma forma de contatá-lo e siga corretamente as orientações".
Dependência
De acordo com Amilton, os antidepressivos não causam dependência química. "O que pode ocorrer é que alguns desses medicamentos, quando suspensos abruptamente, podem causar sintomas físicos como náuseas, dores de cabeça e alterações gastrointestinais".
"Hormônios da felicidade" alternativos
Cuidar da saúde mental é extremamente importante, pois impacta em muitos fatores da vida. De acordo com Pinotti, quando os neurotransmissores estão em suas condições normais, a pessoa "tem disposição para cuidar-se mais e tende a ter hábitos mais saudáveis."
Segundo o psiquiatra Amilton, ações que visem a melhor qualidade de vida, como atividade física regular, alimentação equilibrada, relacionamentos sólidos com familiares e amigos, vida sexual saudável e até mesmo grupos religiosos "constituem importantes estratégias para a promoção da saúde mental".
Para Sandra Maia, psicóloga clínica e psicoterapeuta, sintomas como como ansiedade, depressão, insônia ou sobrepeso, são apenas avisos de que algum equilíbrio se rompeu. "O sintoma não é o vilão, ele é um alerta, portanto, antes de eliminá-lo, é preciso traduzi-lo, compreender o que ele está querendo nos dizer que está errado a nosso respeito e que não estamos percebendo".
Ela acredita que os antidepressivos viraram uma válvula de escape acessível, que traz uma aparente sensação de preenchimento de forma rápida e eficaz. Por isso, ela alerta: "o medicamento não tem a propriedade de alterar o cenário de uma vida, portanto, se nos limitamos a tomar o medicamento e não nos mobilizamos em direção a fazer as alterações que a vida está pedindo, ao pararmos a medicação, tudo tende a voltar à estaca zero".
Antidepressivos
Joe Raedle/Getty Images Os antidepressivos estão entre os medicamentos |
- humor depressivo (tristeza)
- perda de interesse ou prazer
- interrupção do sono
- cansaço
- sentimentos de inutilidade, desânimo, desesperança e desamparo
- mudanças de apetite, perda ou ganho de peso
- perda do interesse sexual
- incapacidade de pensar, concentrar-se ou tomar decisões
Esses sintomas também podem ser resultado de outras doenças como hipertensão (em inglês), diabetes (em inglês), doença cardíaca (em inglês) e epilepsia (em inglês). Então, é possível que o episódio depressivo seja um sintoma secundário de outra doença. Como não existe teste laboratorial para a depressão, os médicos podem realizar vários testes para descartar essas outras possíveis doenças. Se todas elas forem excluídas, permanece o TDM.
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