De bumbum para bumbum
Gracyanne Barbosa ensina seus truques a quem aposta no quadril para subir na vida
por Willian Vieira
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Jonas Tucci
“Cadê a menina bonita, gente?” Do vertiginoso redemoinho de glúteos de tamanhos preternaturais, tão distantes da idealizada Venus Calipigia quanto imaginaria o cartunista Robert Crumb, vem a cansada pergunta. Nenhuma das 12 garotas sentadas lado a lado no chão da academia em São Paulo ousaria deixar a sala e perder uma só dica de como vencer o concurso Miss Bumbum 2013 e “acontecer na mídia”.
Isso a despeito do frio, da fome e das angústias de um futuro incerto no universo das celebridades. É onde entra a “bonita”. E seu currículo. Ex-dançarina de axé, mulher do pagodeiro Belo e dona de um dos corpos mais debatidos do Brasil, com pernas e glúteos tão musculosos quanto os de um atleta de elite, Gracyanne Barbosa é a referência neste mundo fantástico, onde tudo vale a pena se o bumbum não é pequeno.
“Ela é a mulher perfeita, nossa inspiração”, arrisca Thainá Alves (104 centímetros de quadril). Todas balançam a cabeça. Enquanto Gracyanne não chega para comandar o “workshop” promovido pela organização do concurso, as meninas alternam momentos de alienação em seus iPhones com debates existenciais sobre exercícios e fofocas. “Diz que ela não come chocolate há dois anos”, diz Poliana Lopes (102 cm). “Será que ela toma algum inibidor de vontade de comer doce?”, quer saber Christiane Guimma, dona do maior bumbum da sala (110 cm). Relatos sobre sofridas dietas dividem espaço com receitas “deliciosas” de bolo de whey.
Na vida dessas estudantes, empresárias e modelos, o concurso pode ser o ponto de virada. Como diz Juliana Guerin (105 cm): “O Miss Bumbum abre várias portas”.
Com abdome de gomos saltados, ombros angulosos e voz numa oitava abaixo, Juliana é o ícone de um fenômeno curioso: as atletas da mídia. É uma espécie paradoxal de ser mitológico real, híbrido entre a hiperbólica imaginação anatômica de Crumb e o horizonte de expectativas popular alimentado pela tevê. Surgiu, dizem elas, “com as panicats”, cujo trabalho consiste em ficar seminuas para atrair a audiência. De tão torneadas, suas coxas e nádegas serviriam a uma aula de anatomia. Aos poucos o padrão ganhou as revistas masculinas e as passarelas do carnaval, onde Gracyanne foi coroada rainha.
“O gosto muda ao longo da história”, filosofa Daiane Macedo (107 cm). “As panicats voltaram a ser femininas. Olha a Sabrina Sato: magrinha.” As concorrentes aquiescem. “Bumbum precisa de gordura, se não vira músculo. E homem não gosta de músculo”, diz Janaina Bueno (97 cm). Um debate se instaura. “Tem quem gosta", rebate Poliana, voz grave, corpo “rasgado”. “Mas os com dinheiro, não”, retruca Cida Alves (103 cm). “Vê se o Roberto Justus anda com uma musculosa?”
Silêncio. Enquanto Gracyanne não chega, um instrutor dá dicas. Como comer, como malhar, qual a fórmula para obter o bumbum perfeito. “É verdade que caneleira não adianta?” O professor confirma. As meninas fazem cara de terror. “Mas a dor então é psicológica?”, diz Eliana Amaral (100 cm). Risos. Christiane pede ajuda. “Não tenho cartilagem no joelho, tô só no osso, o que faço para ganhar glúteo?” Nada, diz ele. Ela quase chora. E ele segue com as dicas para desenvolver a área, com auxílio da modelo Juliana e uma barra. Poliana levanta o dedinho. “Como 12 ovos por dia. É o ideal?” O instrutor relativiza: fala de hiperplasia celular e janela de captação e sugere “aumentar o tempo de tração”. O dedinho retorna, insistente. O rapaz sorri, paciente. E a amiga atalha, pragmática.
“Põe uma batata-doce aí e pronto.” De repente, uma entidade de 1,75 metro de altura e 67 quilos de músculo (surpreendentemente cobertos) ganha o palco. “Parabéns, vocês são lindas”, diz Gracyanne, antes de narrar sua biografia. “Comecei a malhar aos 12 anos porque era magra. Saía na rua com três calças jeans.” O resultado veio depois, quando descobriu a dieta ideal. “Hoje, por exemplo, vim do Rio e trouxe minha marmita, cinco claras e 100 gramas de batata-doce.” Há anos não sai da dieta.
“Já fiz muito dia do lixo, comia chocolate, pizza. Mas depois o sabor vinha na memória. Na dieta, com o tempo você esquece o paladar.” Perguntas sobre como ganhar, aumentar e empinar o glúteo se seguem, até Daiane não se segurar: “Gra, cadê seus shorts?” A musa então volta com um shortinho jeans. Assombro e flashes dividem o ambiente. Atacada pelos jornalistas, interessados nos “escândalos” a rondar seu corpo “exagerado”, ela disserta sobre si, resoluta. E explica como se sente ao perceber que é a musa daquelas meninas de cabelo tingido e traseiro hipertrofiado cheias de sonhos. “Já sofri muito preconceito por causa do meu corpo”, discursa. “Mas não desisti. E fico feliz de poder inspirar essas meninas lindas a fazer o mesmo.”
Isso a despeito do frio, da fome e das angústias de um futuro incerto no universo das celebridades. É onde entra a “bonita”. E seu currículo. Ex-dançarina de axé, mulher do pagodeiro Belo e dona de um dos corpos mais debatidos do Brasil, com pernas e glúteos tão musculosos quanto os de um atleta de elite, Gracyanne Barbosa é a referência neste mundo fantástico, onde tudo vale a pena se o bumbum não é pequeno.
“Ela é a mulher perfeita, nossa inspiração”, arrisca Thainá Alves (104 centímetros de quadril). Todas balançam a cabeça. Enquanto Gracyanne não chega para comandar o “workshop” promovido pela organização do concurso, as meninas alternam momentos de alienação em seus iPhones com debates existenciais sobre exercícios e fofocas. “Diz que ela não come chocolate há dois anos”, diz Poliana Lopes (102 cm). “Será que ela toma algum inibidor de vontade de comer doce?”, quer saber Christiane Guimma, dona do maior bumbum da sala (110 cm). Relatos sobre sofridas dietas dividem espaço com receitas “deliciosas” de bolo de whey.
Na vida dessas estudantes, empresárias e modelos, o concurso pode ser o ponto de virada. Como diz Juliana Guerin (105 cm): “O Miss Bumbum abre várias portas”.
Com abdome de gomos saltados, ombros angulosos e voz numa oitava abaixo, Juliana é o ícone de um fenômeno curioso: as atletas da mídia. É uma espécie paradoxal de ser mitológico real, híbrido entre a hiperbólica imaginação anatômica de Crumb e o horizonte de expectativas popular alimentado pela tevê. Surgiu, dizem elas, “com as panicats”, cujo trabalho consiste em ficar seminuas para atrair a audiência. De tão torneadas, suas coxas e nádegas serviriam a uma aula de anatomia. Aos poucos o padrão ganhou as revistas masculinas e as passarelas do carnaval, onde Gracyanne foi coroada rainha.
“O gosto muda ao longo da história”, filosofa Daiane Macedo (107 cm). “As panicats voltaram a ser femininas. Olha a Sabrina Sato: magrinha.” As concorrentes aquiescem. “Bumbum precisa de gordura, se não vira músculo. E homem não gosta de músculo”, diz Janaina Bueno (97 cm). Um debate se instaura. “Tem quem gosta", rebate Poliana, voz grave, corpo “rasgado”. “Mas os com dinheiro, não”, retruca Cida Alves (103 cm). “Vê se o Roberto Justus anda com uma musculosa?”
Silêncio. Enquanto Gracyanne não chega, um instrutor dá dicas. Como comer, como malhar, qual a fórmula para obter o bumbum perfeito. “É verdade que caneleira não adianta?” O professor confirma. As meninas fazem cara de terror. “Mas a dor então é psicológica?”, diz Eliana Amaral (100 cm). Risos. Christiane pede ajuda. “Não tenho cartilagem no joelho, tô só no osso, o que faço para ganhar glúteo?” Nada, diz ele. Ela quase chora. E ele segue com as dicas para desenvolver a área, com auxílio da modelo Juliana e uma barra. Poliana levanta o dedinho. “Como 12 ovos por dia. É o ideal?” O instrutor relativiza: fala de hiperplasia celular e janela de captação e sugere “aumentar o tempo de tração”. O dedinho retorna, insistente. O rapaz sorri, paciente. E a amiga atalha, pragmática.
“Põe uma batata-doce aí e pronto.” De repente, uma entidade de 1,75 metro de altura e 67 quilos de músculo (surpreendentemente cobertos) ganha o palco. “Parabéns, vocês são lindas”, diz Gracyanne, antes de narrar sua biografia. “Comecei a malhar aos 12 anos porque era magra. Saía na rua com três calças jeans.” O resultado veio depois, quando descobriu a dieta ideal. “Hoje, por exemplo, vim do Rio e trouxe minha marmita, cinco claras e 100 gramas de batata-doce.” Há anos não sai da dieta.
“Já fiz muito dia do lixo, comia chocolate, pizza. Mas depois o sabor vinha na memória. Na dieta, com o tempo você esquece o paladar.” Perguntas sobre como ganhar, aumentar e empinar o glúteo se seguem, até Daiane não se segurar: “Gra, cadê seus shorts?” A musa então volta com um shortinho jeans. Assombro e flashes dividem o ambiente. Atacada pelos jornalistas, interessados nos “escândalos” a rondar seu corpo “exagerado”, ela disserta sobre si, resoluta. E explica como se sente ao perceber que é a musa daquelas meninas de cabelo tingido e traseiro hipertrofiado cheias de sonhos. “Já sofri muito preconceito por causa do meu corpo”, discursa. “Mas não desisti. E fico feliz de poder inspirar essas meninas lindas a fazer o mesmo.”
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