8.28.2014

O curioso hábito de se ingerir xixi para curar ou prevenir doenças

Lyoto Machida e urinoterapia - Soc - Sociedade Foto: Marcelo Alonso/PVT/Divulgação / Divulgação
O que para muitos parece repugnante, para outros é um tratamento sério. A urinoterapia é um método de cerca de 5.000 anos, em que a pessoa bebe ou passa no corpo o próprio xixi para prevenir ou curar doenças e fortalecer o organismo. Apesar de não haver estudos científicos publicados em revistas de referência que comprovem os benefícios da prática, ela é utilizada há milênios por egípcios, chineses e indianos, e se mantém até os dias de hoje.
A prática tornou-se conhecida no Brasil por conta do livro “Cura-te a ti mesmo — terapia real”, do instrumentador cirúrgico Tikurnargawa Hiroshi. Na década de 30, quando a mãe dele ainda engatinhava, uma panela de sopa fervente caiu sobre ela. Contra a queimadura, seu pai imediatamente urinou no machucado, no intuito de cicatrizá-lo. Hiroshi conta que foi a partir dessa história familiar que surgiu o seu interesse pelas propriedades do “precioso líquido”, como chama a urina. Entre as enfermidades que se acredita serem curadas pelo método, estão a pneumonia e a diabetes.
— O princípio dela é a autovacina. Quando há alguma bactéria, algum invasor, nós criamos anticorpos. E, na urina, há anticorpos para aquela doença que nos ameaça — afirma, comparando com o que acontece com o soro da picada de cobra, feito com o próprio veneno do animal.
Hiroshi diz que a urina contém, além de ureia e sais minerais inorgânicos, a creatina. De acordo com o estudioso, o aminoácido aumenta a taxa de vários hormônios — “a química mais cara do organismo” —, melhorando o metabolismo e criando resistência.
— Um indicador da juventude é a taxa hormonal. A minha biometria é de 30 anos e eu tenho 60 — diz Hiroshi.
Um dos lutadores brasileiros mais famosos do UFC, o ex-campeão Lyoto Machida aderiu à prática incentivado por seu pai, Yoshizo. Após incorporar a urinoterapia, o pai do lutador garante nunca mais ter ficado doente. Já Lyoto afirma que, apesar de não fazer mais com tanta frequência, a ingestão de urina deixa seu corpo protegido de muita coisa, fazendo com que se sinta bem e mais disposto.
A principal resistência à terapia é, segundo Hiroshi, o preconceito da cultura ocidental de buscar alternativas pouco usuais como essa. Quanto ao gosto, outro grande obstáculo, o estudioso sugere que o líquido seja misturada com suco ou até mesmo própolis. Ao ser passada no corpo, onde é usada para tratar de problemas de pele, a urina não exala cheiro algum, garantem os adeptos do método.
— Para o sistema de saúde, esse tipo de cura autossustentável é uma ameaça — diz, acrescentando que seus filhos “nunca pisaram em um consultório médico” e que “não precisam de farmácia”.
O endocrinologista Pedro Assed, membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem), afirma que o princípio da urina é eliminar toxinas, os excrementos que o corpo não aproveita.
— Como você vai reingerir algo que o corpo está botando para fora? — questiona. — É totalmente antifisiológico.
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Assed aponta também que o pH do xixi não é compatível com a flora bacteriana intestinal nem do estômago, podendo causar inflamações como gastrites e esofagites ou até mesmo úlceras.
O presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj), Sidnei Ferreira, alega que, por não haver nenhum trabalho científico que comprove que a ingestão da urina é benéfica à saúde, o conselho não reconhece a urinoterapia. Ele explica que os medicamentos precisam antes passar pela avaliação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que poderá ou não aprovar o seu comércio no Brasil. E o órgão se baseia nas comprovações científicas disponíveis sobre sua eficácia.
— Somente se for comprovado que é eficaz, passa a ser reconhecido — comenta Ferreira, que ainda diz-se surpreso com a prática. — Eu mesmo nunca ouvi falar que isto traria algum tipo de benefício.

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