Alguns sintomas que indicam TDAH na criança podem, na verdade, ser de outras doenças
Beatriz Salomão
Rio - A existência do Transtorno do Déficit de
Atenção e Hiperatividade (TDAH) não é novidade. E o comportamento de
crianças com o mal também é conhecido. Mas especialistas alertam que nem
todos os pequenos ‘diagnosticados’ têm realmente TDAH.
É preciso identificar a real necessidade que os pacientes têm de tomar remédios
Foto: Divulgação
De acordo com o psiquiatra infantil
Fábio Barbirato, da Associação Brasileira de Psiquiatria, desatenção,
hiperatividade e impulsividade podem estar presentes também em
depressão, ansiedade, doenças neurológicas, Transtorno do Espectro
Autista, retardo mental, Transtorno do Humor Bipolar e dislexia.
Barbirato alerta que cabe ao
psiquiatra fazer a diferenciação. Por exemplo, crianças com dislexia
podem ter falta de atenção pela dificuldade em interpretar o que leem.
No TDAH, diz, atividades de leitura não se alteram enquanto houver
possibilidade de manter a atenção. “Na dislexia, a criança não precisa
de remédio, mas de um fonoaudiólogo”, explica.
Ainda segundo ele, crianças autistas
têm dificuldade em lidar com mudanças e, por isso, podem ter
irritabilidade. No TDAH, a impulsividade se dá pela dificuldade de
autocontrole, que leva a comportamentos irritáveis.
Em alguns casos, falta de atenção pode ser
depressão. “A criança deprimida não tem interesse nem para brincar, por
isso fica dispersa na aula”, explica. Segundo Barbirato, o maior dano do erro no
diagnóstico não é a medicação desnecessária, mas o tratamento que será
errado e adiado. “Criança com autismo não tratada pode ter problema de
sociabilização. Na dislexia sem tratamento, o risco de evasão escolar é
maior”, afirma.
Pais têm como tirar dúvidas
O TDAH será um dos assuntos abordados no 2º Congresso Brasileiro de
Psiquiatria da Infância e Adolescência, que acontece nos dias 5 e 6 de
dezembro. Além do debate de temas relevantes para profissionais de
saúde, o evento terá atividades para os responsáveis. Eles assistirão a
palestras e poderão tirar dúvidas com especialistas em psiquiatria
infantil. São 150 vagas e o preço para os dois dias de oficinas é R$ 80. Com o tema ‘Modernidade, Ciência e Mitos em
Psiquiatria da Infância e Adolescência’, o congresso será no Colégio
Brasileiro de Cirurgiões, em Botafogo. Informações:
simposiocomportamento@gmail.com.
O transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) é um
problema de desatenção, hiperatividade, impulsividade ou uma combinação
destes. Para que esses problemas recebam um diagnóstico de TDAH, eles
devem se apresentar fora de um limite normal para a idade e o
desenvolvimento da criança.
Cérebro de uma pessoa com TDAH pode ser diferente do normal
O TDAH é o transtorno comportamental infantil mais frequentemente
diagnosticado. Ele afeta aproximadamente de 3 a 5% de crianças em idade
escolar. O TDAH é diagnosticado muito mais frequentemente em meninos do
que em meninas.
O TDAH pode ser herdado geneticamente, mas sua causa não é clara.
Independentemente da causa, ele parece se estabelecer cedo na vida da
criança, enquanto o cérebro está se desenvolvendo. Estudos de imagem
sugerem que o cérebro de uma criança com TDAH é diferente do de uma
criança normal.
Depressão, falta de sono, incapacidade de aprender, transtornos de tique
e problemas comportamentais podem ser confundidos com TDAH. Todas as
crianças com suspeita de sofrerem de TDAH devem ser examinadas com
cuidado por um médico para verificar se há outros problemas ou motivos
para o comportamento.
A maioria das crianças com TDAH também sofre de pelo menos um outro
problema de comportamento ou de desenvolvimento. Ainda podem apresentar
um problema psiquiátrico, como depressão ou transtorno bipolar.
TDAH: falta de atenção e hiperatividade prejudicam capacidade de aprendizado de pacientes
Com muita frequência, crianças difíceis são incorretamente rotuladas com
TDAH. Por outro lado, muitas crianças que sofrem do TDAH permanecem sem
o diagnóstico. Em ambos os casos, problemas de aprendizado e de humor
são ignorados com frequência. A American Academy of Pediatrics (AAP)
traçou diretrizes para trazer mais luz a esse assunto.
O diagnóstico é baseado em sintomas muito específicos, que devem estar presentes em mais de um ambiente.
As crianças devem apresentar pelo menos seis sintomas de
desatenção ou seis sintomas de hiperatividade/impulsividade antes dos 7
anos.
Os sintomas devem estar presentes pelo menos há seis meses,
ocorridos em dois ou mais ambientes e não serem provocados por outro
motivo.
Os sintomas devem ser graves o suficiente para resultar em
dificuldades significativas em muitos ambientes, inclusive em casa, na
escola e no relacionamento com os demais.
Em crianças mais velhas, o TDAH encontra-se em remissão parcial quando
elas ainda têm os sintomas, mas não se enquadram mais totalmente na
definição do transtorno.
Se houver suspeita de TDAH, a criança deve passar por uma avaliação médica. A avaliação pode consistir em:
Questionários para pais e professores
Avaliação psicológica da criança E da família, incluindo testes de QI e psicológicos
Exames completos mentais, nutricionais, físicos, psicossociais e de desenvolvimento
Algumas crianças com TDAH são primariamente do tipo desatento. Outras
podem ter uma combinação de tipos. As que sofrem do tipo desatento são
menos perturbadas e muitas vezes não recebem o diagnóstico de TDAH.
Sintomas de desatentos
Não consegue prestar atenção em detalhes ou comete erros resultantes de descuidos no trabalho escolar
Tem dificuldade de manter a atenção nas tarefas ou em jogos
Parece não escutar quando falamos diretamente com ela
Não segue as instruções completamente e não consegue terminar trabalhos escolares, tarefas ou deveres
Tem dificuldade de organizar tarefas e atividades
Evita ou não gosta de tarefas que demandem manter esforço mental (como trabalhos escolares)
Seguidamente perde brinquedos, trabalhos, lápis, livros ou ferramentas necessárias para tarefas ou atividades
Distrai-se facilmente
Frequentemente, tem problemas de memória em atividades cotidianas
Sintomas de hiperatividade:
Mexe as mãos e o pés o tempo todo e se retorce na cadeira
Levanta-se quando deve permanecer sentado
Corre ou sobe em móveis em situações inapropriadas
Tem dificuldade de brincar em silêncio
Parece frequentemente estar "ligada na tomada" e fala excessivamente
Sintomas de impulsividade:
Fala antes que as perguntas sejam completadas
Tem dificuldade de aguardar a vez
Interrompe ou se intromete entre os outros (se mete em conversas e jogos)
O tratamento para TDAH é uma parceria entre médico, pais ou responsáveis e a criança. Para a terapia ter sucesso, é importante:
Definir objetivos específicos e apropriados para guiar a terapia.
Começar com os medicamentos e a terapia comportamental.
Fazer acompanhamento regular com o médico para verificar
objetivos, resultados e quaisquer efeitos colaterais dos medicamentos.
Durante esses check-ups, devem ser coletados dados de pais, professores e
da criança.
Se o tratamento parecer não funcionar, o médico deverá:
Certificarse de que a criança tem, de fato, TDAH
Verificar se não há outro problema médico possível que possa causar sintomas similares
Certificar-se de que o plano de tratamento esteja sendo seguido
Medicamentos
Uma combinação de medicamentos e tratamento comportamental funciona
melhor. Existem diversos tipos de medicamentos para TDAH que podem ser
usados sozinhos ou em conjunto.
Os psicoestimulantes (também conhecidos como estimulantes) são as drogas
mais comuns usadas no tratamento do TDAH. Apesar do nome, essas drogas
na verdade têm um efeito calmante nos portadores de TDAH.
Essas drogas incluem:
Uma droga não estimulante denominada atomoxetina (Strattera) pode ser
tão eficaz quanto os estimulantes, e o risco de uso incorreto é menos
provável.
Alguns medicamentos para TDAH têm sido associados à ocorrência rara de
morte súbita em crianças com problemas cardíacos. Converse com seu
médico sobre o melhor medicamento para seu filho.
Terapia comportamental
Psicoterapia para a criança e a família pode ajudar todos a entender e
ter controle sobre sentimentos estressantes relacionados ao TDAH.
Os pais devem usar um sistema de recompensa e consequência para ajudar a
guiar o comportamento do filho. É importante aprender a lidar com
comportamentos desruptivos. Os grupos de apoio podem auxiliar a
encontrar outros com problemas parecidos.
Outras dicas para ajudar seu filho com TDAH:
Comuniquese regularmente com o professor do seu filho.
Mantenha uma programação diária consistente, com hora certa
para o tema de casa, para as refeições e para atividades externas. Faça
as alterações nessa programação antecipadamente e não em cima da hora
Restrinja as distrações no ambiente do seu filho.
Cuide para que seu filho siga uma dieta saudável e variada, com muitas fibras e nutrientes básicos.
Certifique-se de que seu filho durma o suficiente.
Elogie e recompense o bom comportamento.
Dê regras claras e consistentes para seu filho.
Tratamentos alternativos para TDAH têm se tornado popular, incluindo
ervas, suplementos e manipulação quiroprática. Ainda assim, há pouca ou
nenhuma evidência sólida de que funcionam.
Embora não haja maneira comprovada de prevenir o TDAH, quanto mais cedo
ele for identificado e tratado, mais problemas associados ao transtorno
poderão ser evitados.
O TDAH é uma doença crônica de longa duração. Se não tratado adequadamente, o TDAH pode provocar:
Abuso de álcool e de drogas
Fracasso escolar
Problemas para manter o emprego
Problemas com a lei
Cerca de metade das crianças com TDAH seguirão tendo sintomas
problemáticos de desatenção ou impulsividade na idade adulta.
Entretanto, os adultos costumam ser mais capazes de controlar o
comportamento e mascarar as dificuldades.
Pliszka S; AACAP Work Group on Quality Issues.
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