Paes comemora vitória de Dilma e detona programa do amigo Aécio Neves
Prefeito diz que país venceu ao não trocar o certo pelo duvidoso
Caio Barbosa
Rio - Fiel à presidenta Dilma desde o início da
campanha, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes comemorou a
eleição da aliada que, segundo ele, é a grande responsável pelo canteiro
de obras em que se transformou o município. Amigo pessoal e parceiro de
copo de Aécio Neves, o prefeito lembrou que não teve o apoio do tucano
nas duas vezes em que se candidatou e fez duras críticas à campanha do
PSDB. Para Paes, a derrota de Dilma afetaria os
investimentos e projetos sociais importantíssimos para o país e, por
isso, foi melhor não ter trocado ‘o certo pelo duvidoso’. Pretendido
pelo PT e pelo PDT, disse que virou político por causa de Brizola, mas
avisou que fica no PMDB. A sua situação ficou boa com a vitória da Dilma, hein? Ficou boa para o Rio. A minha lógica de
raciocínio é a seguinte: sou prefeito da cidade e se tem uma coisa que
deu certo foi essa parceria. Você pode não gostar do penteado da Dilma,
do sorriso da Dilma, mas se tem alguma coisa que a Dilma e o Lula
fizeram, foi ajudar o Rio de Janeiro. Por mais que se conteste Cabral,
Pezão, Eduardo Paes e a vovozinha, todo mundo tem que admitir que esta
cidade parou de olhar para trás e passou a olhar para a frente. Quando
entrei na prefeitura, o orçamento era de R$ 10 bilhões. Agora é de R$ 30
bilhões.
'O país venceu ao não trocar o certo pelo duvidoso'
Foto: Alessandro Costa / Agência O Dia
A prefeitura investia de quinhentos a
seiscentos milhões por ano. Em oito anos eu vou investir
trin-ta-e-sete-bi-lhões (diz, soletrando). Não são os meus lindos olhos
azuis, que não os tenho, que fizeram isso. Tenho minhas qualidades,
trabalho, acho que sou um bom gestor, não vou ficar de falsa modéstia,
mas teve muito carinho e parceria da Dilma. O Rio saiu bem na foto com a
Dilma e com o Pezão. É um ciclo que precisa de ajustes, adaptações, mas
foi uma vitória da cidade.
Mas com o Aécio será que o Rio perderia
tanto? Ele deixaria de investir com a vitrine que será a Olimpíada? E
vocês tem boas relações
. Gosto muito do Aécio. É meu amigo pessoal e
isso causa até um certo constrangimento, mas nas duas eleições que
disputei para prefeito, numa ele apoiou o Gabeira, na outra o Otavio
Leite. Jamais deixei de tomar minha cerveja com ele e manter uma boa
relação, mas uma coisa é a relação pessoal, outra é a questão política.
Acho ele um grande quadro da política, mas era trocar o certo pelo
duvidoso. Por quê? Todos os acenos da candidatura dele eram de
desaceleração enorme dos investimentos públicos e de políticas sociais
que eu acho fundamentais. O Brasil tem que manter a estabilidade sem
fazer com que mais gerações de brasileiros paguem pecados que não
cometeram. Concordo com a Dilma quando ela diz que não vai controlar
inflação desempregando as pessoas, porque as pessoas têm que viver.
Não vou controlar a inflação dizendo
que os bancos públicos não podem financiar o Minha Casa, Minha Vida. As
pessoas que reclamam da falta de mobilidade nos centros urbanos e da
falta de investimentos em infraestrutura eram as mesmas que estavam
condenando a política econômica da Dilma que permitiu a estados e
municípios tomar financiamentos para fazer BRT, obra de infraestrutura,
fábrica de escolas e clínicas da família. Afinal de contas, o que essa
gente quer?
Quando eu perguntei sobre você ficar bem
na foto, na verdade não era apenas o administrador Eduardo Paes, mas o
político Eduardo Paes, que foi o único pemedebista realmente fiel à
presidenta, que foi quem acabou ganhando a eleição.
O PMDB venceu as eleições e todos nós
somos vitoriosos. No estado, parecia que o PMDB era uma desgraça e não
fazíamos nada direito. A eleição mostrou que estávamos no caminho certo,
o que não quer dizer que o caminho seja perfeito e não precise de
adaptações. Na questão nacional, tínhamos pessoas que pensavam
diferente, mas não dá para condenar o Picciani pela posição dele, até
porque ele disse lá atrás que se o PT não apoiasse o Pezão, ele não iria
apoiar a Dilma. É compreensível.
'Estou bem onde estou até o dia 31 de dezembro de 2016'
Foto: Alessandro Costa / Agência O Dia
Sim, é compreensível. Mas a sua opção talvez não tenha sido a mais acertada?
Não vejo ninguém derrotado. Essa crise que não
existe. Converso permanentemente com o Picciani. Tem as disputas
internas, mas o partido está unido quando tem que estar unido. Quando eu
questionei a entrada do Cesar Maia na chapa, o presidente do PT,
Washington Quaquá, veio dizer para eu seguir com eles, e eu respondi
"não vem querer dividir o partido aqui, porque a questão não é essa". É
igual briga de casal. Da tua mulher só você pode falar mal. Se alguém
falar, você vai ficar brabo. Acho que é um pouco isso. O senhor fala em união, mas há uma clara
divisão no PMDB visando a eleição de 2016. Você quer que o Pedro Paulo
seja o seu sucessor, e o Picciani quer seu filho, Leonardo Picciani. Não tente esfriar o meu café, nem esquentar meu
chope até 31 de dezembro de 2016. Até lá, quem manda na cidade, quem é o
prefeito, e com muito prazer, sou eu. Esse debate está muito distante. O
que há é um processo legítimo de candidaturas de dois deputados
federais do partido, duas pessoas qualificadas. Eu entendo que o Pedro é
uma espécie de primeiro-ministro do meu governo e está preparado para
dar continuidade a um processo de transformação da cidade. O nome dele está colocado e tem meu apoio, mas é
legítimo que um quadro como o Leonardo esteja colocado também. A gente
vai ter que se entender. Esse debate tem que se consolidar em algum
momento para que o partido marche unido em torno da nossa candidatura.
Mas o mais natural, sempre, se o governo estiver bem avaliado, é que não
tenha invencionices e a candidatura seja uma que dê prosseguimento ao
que o gestor está fazendo. Mas são candidaturas legítimas e o debate
será mais para a frente, animado permanentemente pelos fofoqueiros de
plantão e pela imprensa. Mas se nessa disputa interna, se por
acaso você perder, não é apenas o Quaquá que abre as portas do PT para
você. O Lula também quer e, se bobear, agora a Dilma também. Fico lisonjeado pelas palavras do Quaquá, do
Lula eu não preciso nem dizer, mas estou feliz onde estou e quero muito a
aliança com o PT em 2016. Quero muito não repetir os erros de 2014. Não
dá para usar a expressão o "Picciani vencer" ou o "Eduardo vencer". Se
tiver isso, o partido estará derrotado. Acho que o que tem que estar em
questão é um projeto de transformação da cidade e o ideal em relação ao
PT é que eles estejam com a gente porque essa aliança foi transformadora
do Rio. Mas um convite do Lula e da Dilma não seriam sedutores? Primeiro que ainda não recebi convite nenhum,
segundo que estou feliz onde estou. Terceiro que a gente pode estar
juntos sem estar no mesmo partido. Vou permanecer no PMDB porque gosto
do PMDB, um partido que permite opiniões diferentes, que não é
autoritário e centralizador. Na minha trajetória política nunca fui
muito ligado a partidos e acho que o PMDB permite que eu tenha minhas
opiniões sem que alguém venha no dia seguinte dizer que eu não posso
dizer aquilo. Não consigo ser assim. Você já vem há alguns anos flertando com
o brizolismo, antes mais encabulado, até mesmo por causa das plateias,
agora menos, sempre citando educação, o legado de Brizola e Darcy
Ribeiro... A razão de eu estar na política é o Brizola.
Sou de uma família de classe média alta, absolutamente distante da
política, totalmente conectada à iniciativa privada. E na abertura
democrática, foi o Brizola que me inspirou, com 13 anos, a entrar para a
política. Que me fez olhar para os mais pobres. Eu nunca neguei isso. Mas nunca falou. Em 2008, quando ganhei o apoio do PDT no
segundo turno, cantei "la la la la la Brizola" (o jingle do
ex-governador na campanha presidencial de 1989). Para mim é legal ter o
PDT no governo. É sensacional ter no governo um partido que tem mesmo um
olhar mais carinhoso pelos mais pobres. A vida é assim. É como olhar
para a cara do Lula e da Dilma. Eles falam de quem mais precisa. Acho
que nossa tarefa na vida pública é cuidar de todo mundo, mas ter um
olhar especial para quem mais precisa, para os mais pobres. Quando o senhor foi candidato pela
primeira vez, a sua imagem era de um político conservador, de direita,
com cara de paulista, mauricinho (risos). Acha que conseguiu mudar isso? Típico físico a gente não escolhe. Só posso
engordar ou emagrecer. Eu entrei na política por causa do Brizola, me
aproximei do Cesar Maia, que era um político do PDT. O que aconteceu é
ele deu uma guinada grande para o campo conservador e eu acabei
embarcando junto, mas o que me moveu na vida pública foram os ideais de
olhar para quem mais precisa, para os mais pobres. E falo isso com
tranquilidade.
Não vou fazer nenhum discurso
populista. Não vou dizer que fui engraxate, camelô, que passei fome ou
algum sofrimento material. Meus pais sempre me deram todas as condições.
Lugares que muita gente conhece depois que entra para a política e
enriquece, eu conheci na juventude. Fiz o caminho contrário. Sem
demagogia nenhuma. Nasci na Zona Sul do Rio de Janeiro, que tem que ser
bem cuidada, que é a porta de entrada da nossa cidade, mas tem a outra
parte que ninguém olhava. É para esses que eu olho mais mesmo, mas vou
cuidar também do Leblon, de Ipanema e da Barra.
Tudo o que todos os prefeitos da história da cidade fizeram de creche, somados, eu fiz em um mandato
Foto: Alessandro Costa / Agência O Dia
O senhor inaugurou esta semana a fábrica
de escolas, novamente uma inspiração brizolista. Brizola voltou à tona
na campanha deste ano, mas o povo já se acostumou a ver políticos
falando em educação no ano de eleição e, depois, nada fazerem. O que a
educação representa para o senhor?
No meu primeiro governo fiz 120 creches. Saí de
30 mil vagas em creches para 60 mil. Dobrei. E vou triplicar. Tudo o
que todos os prefeitos da história da cidade fizeram de creche, somados,
eu fiz em um mandato. Se pegar todas as cidades que estão na nossa
frente no Ideb e somar todos os alunos que eles têm, é menos do que a
gente tem na nossa rede, que é um super orgulho para a prefeitura. Mas a gente não vai dar solução para o país sem
qualidade de ensino, e para isso tem que ter turno único de verdade. E
para isso tem que ter escola. Vou cumprir a meta que eu estabeleci de
chegar a 35% da rede com educação em tempo integral. Peraí: essa meta de 40% era até o fim
deste ano, não até o fim do governo. A meta era de transformar 10% das
escolas por ano, até 2020. E isso dá bem mais de 40%. É, na verdade vamos chegar de 35% a 40% com
escolas em turno único. Mas se tivermos mais 8 anos de foco nisso, por
parte do meu sucessor, acho que até 2024 o Rio consegue ter 100% de suas
crianças em turno único. Uma das críticas que fazem ao Brizola é
que ele deu atenção apenas aos CIEPs e deixou de lado as demais escolas.
A remuneração dos profissionais de educação também era uma crítica
comum no governo dele. Você está atento a isso, sobretudo após as greves
do ano passado? Por mim, professor ganharia R$ 30 mil por mês,
mas o professor da rede municipal que trabalha 40 horas por dia ganha
perto de R$ 4.500 por mês, o maior salário dentre as capitais do Brasil.
Com o Plano de Cargos e Salários aprovado ano passado pela Câmara dos
Vereadores e que agora começa a ser efetivado, até o Sepe botou no
Facebook um "finalmente", "nossa vitória", "conseguimos"... não há
governo no país que trate o servidor como a gente trata. É só comparar.
Comparem com São Paulo, por exemplo. E a nossa rede é a maior do Brasil, maior até
que a de São Paulo. Temos 700 mil crianças. Quem está em primeiro lugar
no Ideb, Florianópolis, tem 8 mil. Palmas, no Tocantins, tem 5 mil.
Curitiba tem 50 mil. E o Rio está em que lugar no Ideb? No primeiro segmento (até o 5º ano do ensino
fundamental), estamos em terceiro. No segundo segmento (9º ano), em
sexto. Trabalhando para chegar em 2016 em primeiro. E a parte física das escolas? Temos o programa Conservando Escolas que tem,
literalmente, o triplo de recursos que tínhamos quando entrei na
prefeitura, mas é uma rede com 1.200 unidades de ensino. É óbvio que não
tem mundo perfeito numa rede deste tamanho. E as Olimpíadas? No ano passado houve alguns momentos de crise que deixaram o senhor de cabelo em pé. Está tudo sob controle? Tá na mão. De cabelo em pé eu vou ficar até o
fim de 2016. Acho que até meus adversários mais ferrenhos reconhecem que
eu trabalho muito. E durmo muito pouco, mas não é só falta de sono ou
cansaço, não. É tensão pelas responsabilidades que temos com tudo na
cidade. E a Olimpíada é um grande desafio que me deixa com cabelo em pé
todos os dias. Mas essa Olimpíada vai ser conhecida como a Olimpíada do
legado. A prefeitura tem responsabilidade sobre 95% do que está se
construindo. Olhem se tem algum escândalo, algum
superfaturamento, licitação fraudada que tem... Sei se uma obra está
atrasada ou adiantada. Acompanho no detalhe. É um enorme legado que vai
se transformar a cidade. Mas como fazer 150km de BRT sem ficar tenso?
Como planejar a operação da cidade em 2016 sem ficar tenso? Dá trabalho
mesmo. Ano passado o senhor estava meio abatido, achava que terminaria o mandato mal avaliado. Hoje as perspectivas são outras? Eu sou realista. Tenho horror a quem vive no
mundo da lua. Não me deprimo, não sou desses que dizem "ah, vou para
casa mais cedo". Não tenho abatimento. Tenho momentos tensos. Estava mal
avaliado no ano passado e trabalho sempre para terminar bem avaliado. É
uma porção de desafio que temos e nem sempre eu vou ter a compreensão
das pessoas. Vamos ter que desenhar muito. Mas tento explicar e ampliar
esse debate. E a presidência em 2018? É possível, ou como dizia Romário, chegou agora e ainda não dá para sentar na janela? A única coisa que penso é ser prefeito até
2016. De verdade. O resto é consequência. Se a vida me permitir depois
ser candidato a governador, senador, presidente ou Papa, pode ser. Nunca
disse que vou abandonar a vida pública para ser presidente da Portela.
Já passei da fase de ficar me achando quando alguém cogita o meu nome
para alguma coisa dessas, como presidente, governador ou Papa. Que bom
que algumas pessoas avaliam que eu tenho qualidade para um dia ser
presidente do Brasil. Encaro como um elogio, mas não me emociono e isso
não move minhas decisões políticas hoje. Vou ficar focado no meu
balneário chamado Rio de Janeiro. Para finalizar, gostaria de saber
algumas opiniões suas sobre temas que estão permanentemente em
discussão. Como a regulamentação do aborto, por exemplo. Sou contra o aborto. Tinha até uma posição mais
aberta antes dos meus filhos nascerem, mas acho que é uma decisão da
mulher. Um direito da mulher. Mas, então, é a favor de o governo regulamentar? Acho que já há uma regulamentação (em caso de estupro ou de o feto ser anencéfalo). Mas no caso de ser uma opção da mulher...? Sou contra. E descriminalização das drogas? O Brasil já tem uma relação com as drogas leves
que melhorou muito. Ninguém mais vai preso porque está com droga leve.
Acho que tem que ter trabalho de conscientização e isso passa pela rede
pública de ensino. E reconheço que a gente faz muito pouco. Mas essa política de guerra às drogas,
que tanto dinheiro público consome sem qualquer tipo de resultado
prático não está ultrapassada? Há duas experiências radicais. A americana,
radical, e a de alguns países europeus, mais liberais. As duas
experiências não são positivas. Não acho que o problema do Rio seja a
droga, mas o armamento, o território dominado. Em nenhum outro lugar do
mundo onde as pessoas consomem droga há território dominado. Isso é uma
cultura do Rio de Janeiro que a gente tem que combater. Não acho que
liberar seja a solução. E sobre a desmilitarização da Polícia Militar? Confesso que nunca me aprofundei nesse tema.
Acho que as UPPs avançam, com todos os percalços, numa tentativa de ser
uma polícia mais próxima, menos militar, de menos enfrentamento, e mais
proximidade. Mas as opiniões mais interessantes que eu ouço são a favor
da desmilitarização. Como o senhor se definiria ideologicamente? Sou um político de centro com enorme
preocupação social e um olhar mais humano sobre as pessoas, porque a
gente precisa olhar para as pessoas, mas ao mesmo tempo com uma visão
mais pragmática, porque acho que o governo tem que dar resultado,
prestar bons serviços, ser transparente, trabalhar com honestidade.
Governar é isso. Se for olhar meu perfil administrativo, com metas e
resultados, alguns acham que é uma visão mais de direita, liberal, mas
se olhar as políticas públicas são todas mais de esquerda, voltada para
os mais pobres.
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