As pessoas hesitam atravessar a ponte da
indiferença porque temem o encontro com a própria dor ou condição.
Nos imaginamos sempre jovens, bonitos,
saudáveis e completos. Não imaginamos as perdas, a solidão, a velhice, a
invisibilidade diante de uma sociedade que prefere fazer-se cega.
O "isso só acontece com os
outros" toca mais nosso coração que o "e se fosse comigo? E se fosse
eu a ter perdido uma perna, o emprego, o amor ou minha dignidade?"
Se os corações conseguissem criar asas
de vez em quando e colocar-se no lugar do outro, eles seriam mais abertos,
menos cerrados e mais receptivos. Eles teriam olhos, ouvidos atentos, braços
imensamente longos.
Evitamos os caminhos pedregosos,
evitamos as situações impossíveis e as lágrimas alheias. Pensamos que não somos
responsáveis pelos males da sociedade e por isso mesmo não devemos nos
envolver. Nunca nos vemos desse lado da ponte onde carências existem e nem nos
passa pela cabeça que o fio que separa um lado do outro seja tão ínfimo, tão
frágil, tão delicado.
Colocar-se no lugar do outro dói menos
que estar no lugar dele. Mas nem essa linha queremos atravessar!...
Se o fizéssemos haveria menos solidão,
mais compreensão, menos suicídios, mais esperança, menos marginalização e uma
possibilidade muito maior de um dia, se por acaso estivermos, pelos contrários
da vida, do outro lado, uma mão estendida na nossa direção.
Nenhum comentário:
Postar um comentário