O economista, ex-número dois do ministério, é visto como opção mais viável pela presidenta, que rejeita “solução banqueiro”
por André Barrocal
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publicado
02/11/2014 11:09
Agência Brasil
O economista Nelson Barbosa é o favorito de
Dilma Rousseff para ocupar o ministério da Fazenda no próximo governo.
Foi com o nome dele na cabeça que a presidenta viajou na última
quarta-feira, 29, para a base naval de Aratu, em Salvador, a fim de
descansar uns dias da estafante reeleição e de começar a amadurecer
ideias para a futura equipe.
A nomeação de Barbosa não é, contudo, um fato
consumado. Antes de decidir-se, é provável que Dilma ouça o
ex-presidente Lula em algum momento após encerrar seu retiro neste
domingo, 2. E ele tem ideias próprias, como a de que seria aconselhável o
governo reabrir canais de diálogo com o setor privado, sobretudo o
sistema financeiro, indicando um representante empresarial para o cargo.
Dilma, conta um ministro, considera a seleção
do substituto de Guido Mantega na Fazenda como “a” escolha de seu
segundo mandato. Ela reconhece que o PIB pífio e o distanciamento do
setor privado quase inviabilizaram a sobrevivência do projeto governista
inaugurado em 2003. E que esta situação, expressa na apertada vitória,
impõe mudança de rumo. Mas tal mudança, diz o ministro, não pode passar
um sinal de rendição. Dilma acha que derrotou não só o PSDB, mas o
próprio “mercado”, inimigo do Planalto.
Número dois na Fazenda nos 29 meses iniciais do atual
governo, Barbosa é o predileto de Dilma por algumas razões. É um
economista desenvolvimentista como a presidenta. Já conhece a máquina
pública federal, experiência importante numa área hoje a exigir medidas
rápidas. Está acostumado com o estilo detalhista e centralizador da
mandatária.
De quebra, ele conta com um defensor importante, o
chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante. Uma das vozes mais ouvidas por
Dilma, Mercadante tem dito no Planalto ser favorável à escolha de
Barbosa para o cargo que um dia ele mesmo cobiçou.
Tempos atrás, Dilma já tinha tentado ter Barbosa por
perto novamente. Autorizou a então chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann,
a sondá-lo para ser secretário-executivo da pasta. Ele não aceitou,
segundo um ministro, por acreditar na repetição de um dos mais fortes
motivos de sua saída: o choque com secretário do Tesouro Nacional, Arno
Augustín.
Amigo de Dilma, Augustín sempre prevaleceu em
resoluções presidenciais em assuntos em que Barbosa pensava diferente.
Por isso, é praticamente certo que o secretário deixará o cargo caso o
ex-companheiro volte à Fazenda. A saída já deverá por si servir como um
calmante no “mercado”. Augustín personifica a criticada “contabilidade
criativa” nas contas públicas.
Do ponto de vista de Dilma, Barbosa tem ainda a favor
uma vantagem simbólica. Como é ligado ao Instituto Lula, onde participa
de reuniões sobre economia, sua escolha não poderia ser interpretada
como algum tipo de ruptura entre criador e criatura. Uma circunstância
valiosa levando-se em conta a visão de Lula sobre o atual momento e o
protagonismo político que ele terá a partir de 2015.
O ex-presidente acredita que Dilma precisa abrir o
governo a todos os setores econômicos, um pouco como ele fez ao assumir o
Planalto em 2003, quando montou uma equipe com um industrial no
Ministério do Desenvolvimento, um ruralista na Agricultura e um
banqueiro no Banco Central.
Nos últimos dias, especulou-se sobre Lula ter
sugerido para a Fazenda o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco.
Há razões para supor que a sugestão partiu mesmo dele. Quando o nome
surgiu na mídia, um ministro de Dilma que trabalhou com Lula comentou
com um assessor que era coisa do ex-presidente. Um conselheiro de Lula
diz não ver problema na escolha de Trabuco. Em 2013, Lula sugeriu a
Dilma que trocasse Mantega pelo banqueiro Henrique Meirelles, seu chefe
do BC de 2003 a 2010.
Pelo que se ouve em salas do Planalto, Dilma parece
ter recebido com perplexidade a sugestão de indicar Trabuco. Ela até
gosta dele, a quem já recepcionou no Palácio. Mas como nomear um
banqueiro após sua campanha – desenhada e executada inclusive com a
participação de Lula - ter amaldiçoado Neca Setúbal, apoiadora de Marina
Silva, e Armínio Fraga, aliado de Aécio Neves?
É verdade que há elementos capazes de minimizar a
contradição. Trabuco não é um falcão do sistema financeiro. Formou-se em
uma faculdade de filosofia e fez pós-gradução em sócio-psicologia.
Comanda um banco algo mais afinado com clientes de baixa renda, e nem é
dono da instituição. Insuficiente, porém, para Dilma. Quando no ano
passado Lula sugeriu-lhe Meirelles, ela disse a um ministro que seria
“renunciar a um pedaço do seu governo”. É como vê a situação agora.
Resta saber como Dilma e Lula vão se entender. E o
suspense deve-se manter ainda por umas duas semanas. Nos dias 15 e 16,
haverá reunião de Cúpula do G20, o grupo dos vinte países das maiores
economias do planeta, em Brisbane, na Austrália. Dilma irá acompanhada
de Guido Mantega. Se o substituto do ministro for anunciado antes disso,
Mantega terá pouca autoridade moral no encontro.
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