A síndrome de Sjögren é uma doença de origem autoimune, que ataca
glândulas e órgãos do nosso corpo. A síndrome de Sjögren acomete
preferencialmente mulheres; a cada 10 pacientes com esta doença, 9 são
do sexo feminino. Neste artigo vamos abordar os seguintes pontos sobre a
síndrome de Sjögren: O que é a síndrome de Sjögren. Causas e fatores de
risco para a síndrome de Sjögren. Sintomas da síndrome de Sjögren.
Diagnóstico da síndrome de Sjögren. Tratamento da síndrome de Sjögren. O
QUE É A SÍNDROME DE SJÖGREN A síndrome de Sjögren é uma doença de
origem autoimune, ou seja, é uma doença na qual o sistema imunológico
equivocadamente passa a atacar células e tecidos do nosso próprio corpo,
como se estes fossem agentes invasores perigosos para a nossa saúde. O
sistema imune produz autoanticorpos e estimula células de defesas, como
os linfócitos, a atacar e destruir partes do nosso próprio organismo
(leia: DOENÇA AUTOIMUNE). No caso específico da síndrome de Sjögren, os
alvos principais são as glândulas lacrimais e salivares, provocando
sintomas como olhos e boca seca. Todavia, a doença pode não se
restringir a essas glândulas, sendo possível também o acometimento de
outros órgãos, como articulações, rins, pulmão, nervos, pele, fígado,
pâncreas, etc. CAUSAS E FATORES DE RISCO PARA A SÍNDROME DE SJÖGREN
Assim como em quase todas as doenças de origem autoimune, não sabemos
exatamente por que o sistema imunológico destes pacientes subitamente
passa a agir de forma equivocada, atacando tecidos e órgãos do próprio
organismo. Sabemos, entretanto, que há um forte componente genético na
sua gênese, pois os pacientes com síndrome de Sjögren apresentam alguns
genes em comum. Porém, para que a síndrome de Sjögren apareça, não basta
a herança genética, alguns outros fatores ambientais ainda não
esclarecidos, como infecções por certos vírus ou bactérias, parecem ser
necessários para que o sistema imunológico dos pacientes geneticamente
susceptíveis passe a agir de forma perigosa. Cerca de metade dos
pacientes com síndrome de Sjögren apresenta também outra doença
autoimune associada, como lúpus (leia: SINTOMAS DO LÚPUS), artrite
reumatoide (leia:ARTRITE REUMATOIDE | Sintomas e tratamento),
esclerodermia ou tireoidite de Hashimoto (leia: HIPOTIREOIDISMO |
Tireoidite de Hashimoto). Portanto, ter uma doença autoimune é um fator
de risco para ter síndrome de Sjögren, assim como ter síndrome de
Sjögren é um fator de risco para ter outras doenças autoimunes.
Classificamos como síndrome de Sjögren primária os casos no qual não há
outra doença autoimune associada. Já os pacientes que possuem síndrome
de Sjögren além de outra doença autoimune, como lúpus ou artrite
reumatoide, são considerados como portadores de síndrome de Sjögren
secundária. Outros fatores de risco importantes para a síndrome de
Sjögren são o sexo feminino, já que mais de 90% dos casos ocorrem em
mulheres, e a idade, pois, apesar da doença poder surgir em qualquer
faixa etária, ela é mais comum em pessoas acima dos 40 anos. SINTOMAS DA
SÍNDROME DE SJÖGREN A xeroftalmia (olhos secos) e a xerostomia (boca
seca) são os sintomas mais típicos da síndrome de Sjögren. Porém, a
doença costuma ser insidiosa, com progressão lenta e com sintomas
inespecíficos, comuns a várias outras doenças reumatológicas,
principalmente nos primeiros anos, fazendo com que o diagnóstico
correto, muitas vezes, só seja feito após anos de investigação.  A
inflamação das glândulas lacrimais reduz a produção de lágrima e
interfere na lubrificação dos olhos, levando a sintomas, como olhos
vermelhos, olhos ressecados, ardência ou sensação de corpo estranho,
coceira ou visão borrada. A falta de lubrificação dos olhos aumenta o
risco de infecção ocular e lesões da córnea (leia: OLHO SECO E FALTA DE
LÁGRIMAS). A inflamação das glândulas salivares provoca redução da
produção de saliva, levando à boca seca, garganta seca, dificuldades
para engolir, alterações no paladar, rouquidão, aumento da incidência de
cáries, e lesões nos dentes, gengivas, língua e lábios. Nas crianças, a
inflamação e inchaço da glândula parótida é muito comum, podendo o
quadro ser confundido com caxumba (leia: CAXUMBA | Sintomas e
complicações). Além das glândulas lacrimais e salivares, outras áreas do
corpo podem também ser atacadas. Exemplos são as vias áreas, onde é
possível haver tosse seca (leia: TOSSE | Causas e tratamento), sinusite
(leia: SINUSITE | Sintomas e tratamento) e rinite (leia: RINITE ALÉRGICA
| Sintomas e tratamento), além do aumento da incidência de infecções
pulmonares. A inflamação das glândulas vaginais, responsáveis pela
lubrificação da vagina também é comum, levando à secura vaginal, dor
durante o ato sexual e aumento da frequência de infecções ginecológicas,
principalmente candidíase (leia: CANDIDÍASE | Sintomas e tratamento).
Cansaço e alterações menstruais também são relativamente comuns.
Sintomas menos comuns da síndrome de Sjögren incluem atrite, fenômeno de
Raynaud, aumento de linfonodos, lesões dos rins, lesões dos nervos e
músculos. Uma complicação rara é a inflamação dos vasos sanguíneos,
chamada vasculite, que pode danificar os tecidos do corpo que são
nutridos por estes vasos inflamados (leia: VASCULITE | Causas e
sintomas). Cerca de 5% dos pacientes com síndrome de Sjögren desenvolvem
linfoma não-Hodgkin (leia: LINFOMA HODGKIN e LINFOMA NÃO-HODGKIN). Esta
complicação surge, geralmente, 7 a 10 anos após o diagnóstico da
síndrome de Sjögren. DIAGNÓSTICO DA SÍNDROME DE SJÖGREN A síndrome de
Sjögren é muitas vezes uma doença difícil de diagnosticar, pois os
sinais e sintomas variam de pessoa para pessoa e podem, inicialmente,
ser semelhantes aos causados por outras doenças, como artrite
reumatoide, lúpus, sarcoidose, amiloidose, fibromialgia (leia: O QUE É
FIBROMIALGIA?), etc. Além disso, os clássicos sintomas de olhos e boca
seca ocorrem em várias outras doenças, podendo também ser um efeitos
colateral de uma série de medicamentos. Não é incomum, portanto, o
paciente só receber o diagnóstico correto da síndrome de Sjögren vários
anos após o aparecimento dos primeiros sintomas. O especialista mais
indicado para conduzir a investigação de quadros sugestivos de Sjögren é
o reumatologista. Não existe um exame único que consiga definir com
certeza o diagnóstico. Este normalmente é feito através da avaliação
conjunta dos sinais e sintomas com exames laboratoriais. A pesquisa de
autoanticorpos, como o FAN (ANA) (leia: EXAME FAN (FATOR ANTINUCLEAR)), o
fator reumatoide, anti-SSA/Ro e anti-SSB/La podem auxiliar no
diagnóstico. Porém, estes autoanticorpos possuem elevada taxa de falso
positivo e falso negativo, não sendo suficientes para o diagnóstico sem
outros dados clínicos e laboratoriais. A biópsia de glândula salivar
pode ser recomendada para auxiliar no diagnóstico. O procedimento é
feito através da remoção de um pequeno pedaço de tecido a partir da
porção interna do lábio inferior. Uma glândula cheia de linfócitos
sugere que a mesma está sendo atacada pelo sistema imune, o que fala
fortemente a favor da síndrome de Sjögren. Exames oftalmológicos para
determinar se a produção de lágrimas está normal também são úteis: –
Teste de Schirmer: neste teste, um pequeno e fino pedaço de papel filtro
é inserido suavemente entre a pálpebra e o canto interno do olho. O
papel é removido depois de vários minutos, e a umidade no mesmo é
medida. A diminuição da quantidade de umidade é característica da
síndrome de Sjögren, embora a produção de lágrima reduzida possa também
ocorrer com outras condições. – Teste de Rosa Bengala: este teste
detecta lesões nos olhos, principalmente na conjuntiva e na córnea,
causadas pela secura crônica do mesmo. É um exame dos olhos feito após
pingar um colírio com um corante específico, chamado rosa bengala. Com
uma luz especial, o oftalmologista consegue detectar lesões nos olhos.
TRATAMENTO DA SÍNDROME DE SJÖGREN Atualmente, não há cura para a
síndrome de Sjögren. No entanto, os tratamentos podem melhorar os
sintomas e prevenir as várias complicações da doença. O tratamento visa
reduzir os sintomas mais incômodos. Os olhos secos são tratados com
lágrimas artificiais aplicadas regularmente durante o dia ou com gel
aplicado à noite. Colírios que reduzem a inflamação nas glândulas
lacrimais, tais como a ciclosporina (Restasis®), podem ser utilizados
para aumentar a produção de lágrima. Para aumentar a salivação, o uso de
balas ou goma de mascar sem açúcar são úteis. Beber ou apenas molhar a
boca com goles de água durante o dia também é importante para mantê-la
bem hidratada. Alguns pacientes se beneficiam do uso de medicamentos que
estimulam o fluxo de saliva, como a pilocarpina (Salagen®) ou
cevimuline (Evoxac®). Como as cáries são muito comuns, deve-se escovar
os dentes após qualquer refeição. Já existem no mercado pastas de dente
voltadas para pacientes com boca seca. Uma visita ao dentista deve ser
feita 2 vezes por ano. A hidroxicloroquina é um medicamento muito usado
no lúpus e na artrite reumatoide, podendo ser útil em alguns pacientes
com síndrome de Sjögren e dor articular, muscular e/ou lesões
dermatológicas. Nos pacientes com doença sistêmica, acometendo vários
órgãos, o uso de drogas imunossupressoras, como corticoides (leia:
PREDNISONA E CORTICOIDES | efeitos colaterais), azatioprina,
metotrexato, rituximab e ciclofosfamida pode ser necessário.
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