7.04.2010

Homem em crise

É muito difícil encontrar um homem que nunca tenha ouvido a afirmação: “Homem não chora!” Quantas mães dizem para seus filhos “não levar desaforo para casa”, ou seja, mostrar que é Homem a qualquer provocação? Não é nada fácil para o menino. Desde pequeno ele é desafiado a provar sua masculinidade. A vida inteira deve estar atento e mostrar que é homem, deve ter atitudes, comportamentos e desejos masculinos.

Qualquer variação no jeito de falar, andar e mesmo sentir, pronto: sua masculinidade é posta em dúvida. Assim como a feminilidade, a masculinidade foi construída há cinco mil anos, a partir do surgimento do patriarcado. O homem, então, se definiu como um ser privilegiado, acreditando ser mais forte, mais corajoso, mais decidido, mais responsável, mais criativo, mais racional.

Isso serviu para justificar, durante milênios, a dominação da mulher e também estender essa ideologia de dominação a outras esferas: a homens mais fracos, raças, nações e à própria natureza. Houve uma mudança radical nas mentalidades, e a evolução das sociedades pacíficas e de parceria, que existiam até então, foi mutilada. A cultura imposta pelo homem, autoritária e violenta, acabou sendo vista como normal e adequada, como se fosse característica de todos os sistemas humanos. No entanto, a masculinidade está em crise.

Há 40 anos as mulheres passaram a questionar e exigir o fim da distinção dos papéis masculinos e femininos, ocupando os espaços sempre reservados aos homens. A certeza do homem superior à mulher foi abalada.

Diante dessa nova mulher desconhecida, muitos homens passaram a questionar a identidade masculina, desejosos de se libertar dos papéis tradicionais a eles atribuídos e da cobrança de ter sempre força, sucesso e poder. A partir daí, puderam perceber que são oprimidos, tanto ou mais que as mulheres. Nos Estados Unidos existem hoje centenas de grupos que se reúnem para discutir o masculino e sua desconstrução, e dos países nórdicos chegam trabalhos sobre o homem esgotado.

Estamos em pleno processo de transformação no que diz respeito à valorização da virilidade. Já é possível sentir sinais do desprestígio do machão. O homem que fica triste e chora adquire um novo valor: o do homem sensível.

No entanto, a mudança das mentalidades demora algumas vezes mais de cem anos para se concretizar, mas isso não importa, desde que se abra um espaço definitivo para a autonomia de homens e mulheres. Isso é pré-condição para uma relação de parceria entre os sexos em todas as áreas.

POR REGINA NAVARRO LINS

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