2.07.2012

Como anda o tratamento da obesidade sem os medicamentos suspensos pela ANVISA?

Há cerca de um mês o tratamento da obesidade teve mais da metade de seus medicamentos suspensos pela Anvisa. Atualmente, constam apenas dois medicamentos com indicações de bula para o uso na obesidade e mesmo assim, eles tem várias restrições e não podem ser usados em uma grande parte desses pacientes. Nesse contexto, tem aumentado consideravelmente o uso de medicamentos “off label” ou seja, sem indicação de bula para o tratamento da obesidade.

Como discutido recentemente em um webmeeting da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia há vários usos “off label” de medicamentos em medicina, principalmente em pediatria e psiquiatria. Todos eles vem sendo usados com bons efeitos, principalmente na ausência de outras drogas que tenham indicação precisa. Medicamentos antidepressivos muito úteis na TPM, medicamentos anticonvulsivantes com efeito analgésico nas dores da enxaqueca e nos transtornos do humor, medicamentos antiinflamatórios nas cólicas menstruais. Todos eles se mostram eficazes, são utilizados com muita frequência e não há em suas bulas qualquer menção a essas indicações.
Especificamente na obesidade, vários medicamentos “off label” tem se mostrado eficazes.  Há alguns anos nós temos notado um crescente número de pacientes obesos com comportamentos alimentares inadequados, cuja principal característica é comer muito e, principalmente, comer sem fome. Nota-se nesses pacientes um fator impulsivo pela busca do alimento, muito parecido com aquele responsável por outros impulsos como fumar, beber ou comprar.  Nesse grande grupo de obesos, os medicamentos mais eficazes e com menos efeitos colaterais tem sido alguns anticonvulsivantes, antidepressivos e medicamentos cuja indicação de bula são direcionados para a interrupção do fumo e para o alcoolismo.
Os trabalhos científicos demonstram que os comportamentos alimentares compulsivos não são tão raros como pensávamos. Eles chegam a ser encontrados em até 30% das estatísticas na população em geral e vai muito além desses valores em grupos de obesos. Em todos esses pacientes, os medicamentos que reduzem o apetite são muito pouco eficientes e, algumas vezes, podem até gerar ou agravar um quadro de ansiedade que geralmente se associa com os transtornos do impulso.
A obesidade é doença crônica grave, recidivante e progressiva. Como outras doenças crônicas, a obesidade necessita, na maioria das vezes, tratamento medicamentoso contínuo. Como as demais doenças crônicas, a obesidade sofre recidiva quando se suspende os medicamentos, traz conseqüências orgânicas e psíquicas graves e inviabiliza qualquer projeto de vida saudável. As agências reguladoras precisam entender isso para conseguirem enxergar a obesidade para além do contexto estético que sempre alegam ao retirarem do mercado, suas poucas opções terapêuticas.
Outro fator preocupante é a multiplicidade de compostos descritos como suplementos naturais que alcançam aprovação das agências reguladoras sem estudos que comprovam suas alegações. Nesses tempos de escassez real de medicamentos eficazes para o tratamento da obesidade, eles são vendidos largamente em farmácias por todo o país alegando poderes verdadeiramente milagrosos no combate à obesidade. Alguns deles acabam por serem proibidos pela Anvisa, como aconteceu no último dia 02 de fevereiro com o composto chamado Max Burn, ou anteriormente com a Caralluma,  após ampla vendagem num curso conhecido de procura por esses compostos naturais em todo o verão. 
Com a recente suspensão por parte da Anvisa de 3 medicamentos muito utilizados no tratamento da obesidade, dois deles ainda comercializados nos Estados Unidos, nosso receituário tem se utilizado do uso “off label” de medicamentos com muito mais freqüência, principalmente nos 30% dos obesos nos quais o comportamento alimentar pode ser diagnosticado como compulsivo. Entretanto, a prescrição “off label” de medicamentos deve ser feito por médicos especialistas e com experiência no tratamento desses pacientes. 
Por Citen
 http://comersemculpa.blog.uol.com.br

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