2.07.2012

O rigor e o viés dos trabalhos científicos

Nós sempre defendemos o ato médico baseado em evidência. Não podemos ser empíricos ao conduzirmos o tratamento dos nossos pacientes. Precisamos nos basear em conceitos e conhecimentos amplamente demonstrados pelas pesquisas científicas. Mas não se iludam, nem tudo que reluz é ouro e a ciência não foge à regra.
Uma denúncia anônima em 2008 levou a uma investigação que apontou, através de um relatório de cerca de 60 mil páginas, mais de 100 atos de falsificação em um dos mais importantes estudos científicos que relacionava o reverastrol do vinho tinto à longevidade das pessoas. O estudo foi conduzido pelo Dr Dipak, diretor do Centro de Pesquisa Cardiovascular da Universidade de Connecticut. Após o fato, o reitor Philip Austin passou a esclarecer a comunidade científica a cerca das fraudes e suas conclusões manipuladas. Isso significa que voltamos a estaca zero a cerca desse possível antioxidante, uma vez que vários outros trabalhos foram realizados a partir desses resultados, e, portanto, perderam também a credibilidade.
Outro grande problema dos estudos científicos são seus patrocinadores e seus conflitos de interesses. Não podemos tirar conclusões seguras quando a indústria patrocina trabalhos de avaliação dos seus próprios produtos. Seria o mesmo que a Souza Cruz patrocinasse um trabalho para avaliar os efeitos deletérios do tabaco, ou a Ambev bancar uma pesquisa a cerca dos benéficos do consumo crônico do álcool.
Muitos estudos científicos são baseados em observações de grupos populacionais. Os chamados estudos observacionais. Esse tipo de trabalho científico coleciona vários resultados falhos. Um exemplo é o estudo que avaliou os benefícios e riscos da terapia de reposição hormonal em mulheres na menopausa. Por décadas, nós acreditamos que essa reposição seria benéfica, mas quando os estudos deixaram de ser observacionais e passaram a formas mais criteriosas de avaliação, nós descobrimos que a realidade era exatamente o inverso disso, ou seja, que as mulheres que faziam uso de reposição hormonal desenvolviam mais câncer de mama e doenças do coração.
Os trabalhos científicos são muito diferentes entre si. Por isso mesmo é que nós ouvimos conclusões opostas a cerca de um mesmo tema. Um dia o café faz mal à saúde, no outro dia o café faz bem a saúde.  Isso confunde pesquisadores e torna inseguros médicos e pacientes e ocorre¸ principalmente, pelo fato de que muitos trabalhos não obedecem aos critérios de segurança estatística, não comparam indivíduos saudáveis com possíveis doentes e não mantém os dados em segredo dos pesquisadores para se evitar o risco de avaliações tendenciosas. Finalmente, todos esses possíveis erros na metodologia dos trabalhos científicos devem ser analisados pelo olhar crítico dos profissionais de saúde habituados ao rigor e ao revés dos mesmos. Mesmo assim, muitos de nós caímos em armadilhas de falsos cientistas e seus trabalhos manipulados e o reverastrol é o mais recente deles. 
Por Citen
http://comersemculpa.blog.uol.com.br

Nenhum comentário: